sexta-feira, 28 de outubro de 2016

Família – Uma conversa, um cinema, um compromisso



 

Christian Paul e Idelines comemoram neste outubro onze anos juntos; tudo começou no Dia da Padroeira

Walter Ogama

O acaso é, às vezes, manhoso. Outras vezes ele se faz estrategista. Ou, as duas coisas.
Assim deve ter sido naquelas primeiras semanas de aulas do ano letivo de 2005. Christian Paul fazia o último ano de Biblioteconomia na Universidade Estadual de Londrina e Idelines era caloura do mesmo curso.
Certa ocasião, no ponto de ônibus, eles iniciaram conversa. Só a chegada do coletivo obrigou ambos a encerraram o diálogo.
                Mas aquele primeiro contato foi marcante para ambos. Porque tempos depois houve convite, de uma das partes, para irem juntos ao cinema. O filme escolhido foi um nacional: "Dois Filhos de Francisco", baseado na vida dos músicos da dupla Zezé Di Camargo e Luciano.
                Pois não só a trama mostrada na telona, mas principalmente as flechas de um bom sentimento que cruzavam o espaço entre um e outro, para ter como alvo os respectivos corações, fizeram com que Paul e Idelines iniciassem namoro no Dia de Nossa Senhora de Aparecida, 12 de outubro. Neste ano de 2016 a relação completou 11 anos. Paul e Idelines são devotos da Santa.
Idelines trabalha na área de beleza. Estava feliz com o namoro. Certa vez Idelines recebeu a amiga e cliente Márcia Moreno e contou a ela a boa novidade. Complementou mostrando a Márcia a foto de Paul.
Aquilo aumentou a euforia de Márcia, pois ela reconheceu o moço da foto como o vizinho de tempos atrás. Paul morou na casa ao lado da dos pais de Márcia, dona Amélia e seu Miguel, da infância até a juventude. E Márcia disse a Idelines que tinha muito carinho por ele.
Paul viveu do nascimento até os seis ou sete anos numa casa da Travessa Paraguaçu, localizada entre a Rua Bahia e a Rua São Vicente, onde recebia os cuidados da avó, Luiza Ogama, e do avô, Dairoku Ogama.
Depois a família mudou-se para a Rua Icós, na Vila Portuguesa. Ali morava Márcia, com os pais Amélia e Miguel, as irmãs e anos depois um irmãozinho, o Miguel Fernando.
Parte do bairro era remanescente de um assentamento e outras localidades próximas ainda tinham resquícios de ocupações. Além da família de Márcia, também o casal Julieta e Mário, que havia sido vizinho na Travessa Paraguaçu, acolheram com carinho os novos moradores.
Na Icós Paul iniciou os estudos, acompanhou a avó às compras do supermercado, da feira livre e dos bazares do centro da cidade. Dentre os acontecimentos tristes que a vida fatalmente apresenta, Paul acompanhou o falecimento do avô e posteriormente o da avó.
Já trabalhava como funcionário público municipal, mas aproveitou a onda dos dekasseguis, quando grande número de descendentes de nipônicos viajou a trabalho ao Japão. Paul foi com os primos Rosemary e Roberson.
Quando retornou, anos depois, uma das atividades profissionais que exerceu por longo período foi em escritório de contabilidade.
Paul é filho de Daisy. No retorno ao Brasil ele conheceu o pai biológico, José Santana. Por parte do pai Paul tem três irmãos: Beto, Agda e Guilherme. Por parte da mãe são dois irmãos, Edson e Matheus. Quanto aos sobrinhos, são três do lado paterno e uma do lado materno.
Paul é formado em Biblioteconomia na Universidade Estadual de Londrina e lembra que o grande desejo da avó Luiza, que o criou, era que ele chegasse ao ensino superior e conseguisse o diploma.

                Do relacionamento com Idelines surgiu também o carinho de Paul para com a mãe dela, dona Geni, e a avó dela, dona Gumercinda.



quarta-feira, 19 de outubro de 2016

Família – Entre Neca e Mari, a Nana


Irmã do meio, Daisy certa vez seguiu o roteiro dos dekasseguis que partiram para o Japão na esperança de um retorno ao Brasil mais justo financeiramente

Walter Ogama

O encontro das ruas Javari e Turiaçu, na Vila Nova, em Londrina, era um bom atalho a quem subia para os fundos da rua de cima, a Juruá. Aquela esquina encerrava uma área gramada antes pertencente a um campo de futebol, o União, que já recebia naqueles tempos algumas casas.
Porém, a travessia por ali, fazendo uma diagonal, pedia a transposição de barrancos. Nada exagerados na altura, mas inconvenientes nos dias de chuva. Em situações normais, o local dispunha de uma escada de terra formada naturalmente de tanto sobe e desce das pessoas. A poeira misturada com grama virava um transtorno para os calçados brilhantes da graxa.
Daquela direção subiam, fazendo a diagonal pelo trilho marcado na vegetação rasteira, a Nana e sua colega de escola, Rosa Maria. Nana morava no número 181 da Juruá. Era a terceira casa do segundo quarteirão. A Juruá ia da Rua Araguaia até a Rua Tietê, cortadas pela Turiaçu e pela Solimões.
Rosa Maria morava no mesmo quarteirão de Nana, quase no fim dele. Mas a colega fazia a mesma diagonal para que pudessem parar na frente do portão de Nana para encerrar as conversas.
Nana, batizada Daisy Mitsue Ogama, é filha de Luiza e Dairoku Ogama. Tem duas irmãs, a Denise, que é mais nova, e a Mary, que é mais velha. O quarto filho de Luiza e Dairoku é homem. Uma quinta criança, Karen, faleceu ainda pequena. Daisy nasceu no dia 30 de setembro de 1953.
Rosa Maria, ao contrário, tinha três irmãos homens e era a única mulher da casa. O pai mantinha uma fábrica de balas na Juruá.
Nana é casada com Dirceu e com ele teve dois filhos, Edson Kazuo, que nasceu em 20 de julho de 1973, e Matheus Koiti, nascido no dia 16 de setembro de 1994.
Edson é solteiro e depende de cuidados especiais, por isso ainda mora com a mãe e o pai. Nana dispensa toda a atenção ao filho.
Matheus, o mais novo, cresceu tendo a família e a religião como bases sólidas para a sua formação. Casado com Aline Karen, Matheus trabalha em laboratório ótica, segmento no qual se especializou. O casal tem uma filha, Sofiah Keiko, que nasceu no dia 24 de agosto de 2016.
Nana, quando adolescente e depois jovem, tinha estatura física menor que o da irmã mais velha, Mary. Em relação a Denise, a irmã mais nova, Nana, embora magra, tinha altura bastante superior.
A subida diagonal do barranco da rua de baixo até a Juruá na direção da casa número 181, trazia uma jovem de cabelos negros, meias brancas até a metade das canelas, blusa branca de botões de camisa, saia de tergal azul marinho plissada e sapatos sociais pretos.
Era o uniforme do Colégio Estadual Professor Vicente Rijo, que na época funcionava no quarteirão cercado na frente pela Rua São Salvador, de um lado pela rua São Vicente, aos fundos pela Rua Belém e no outro lado pela Rua Niterói.
Hoje o Vicente Rijo funciona nas esquinas da Avenida Higienópolis com a Avenida JK. As antigas instalações abrigam atualmente o Colégio Estadual Marcelino Champagnat.
Nana também estudou o primário no Grupo Escolar Nilo Peçanha, na Rua Araguaia. E atravessou o antigo campo do União e a metade do campo de beisebol do Nihon-Gaco para as aulas de japonês.
Em dezembro de 2004 engrossou a fila dos dekasseguis que foram trabalhar no Japão, como chão de fábrica, na esperança de retornar ao Brasil com capital suficiente para dar uma guinada econômica na vida.
Naquele tempo, o trabalho no Brasil, assim como é agora e já se repetiu por vezes, garantia muito pouco aos brasileiros. Por isso, houve anos em que os descendentes de japoneses partiram para o Japão. Houve também trabalhadores brasileiros que foram aos Estados Unidos e alguns países da Europa.
Mas Nana ficou pouco tempo no Japão. Em setembro de 2005 ela retornou porque havia deixado os filhos no Brasil. Apesar disso, diz que a experiência foi boa e não teria voltado se não fosse pelos filhos.
Antes de ir ao Japão Nana trabalhou em bazar no centro de Londrina, em escritório de contabilidade, em fábrica de doce, em estabelecimento particular de ensino e em instituição hospitalar, entre outros.

Atualmente cuida do filho mais velho, Edson, e paparica a neta Sofiah, o filho Matheus e a nora Aline. Regularmente Daisy se encontra com as irmãs Denise e Mary. 


domingo, 16 de outubro de 2016

Família - Cedo Mari teve que deixar o lar para trabalhar



Emprego em casa de parente longe do bairro onde a família morava permitia a ela voltar para casa só nos finais de semana

Walter Ogama

                Tempo de expectativas. A gente ficava pensando nos fins de semana com chuva e se perguntava: “Como é que Mari vai chegar até aqui?”
                É que o aqui contido na pergunta era a rua sem asfalto. Se vinha a precipitação de um jeito mais forte e demorado em pouco tempo os sucos deixados pelos pneus dos carros no meio daquela via ficavam cobertos pela lama.
                As enxurradas desciam pelas laterais. A vila que não tinha asfalto naquela região também não dava aos seus moradores o conforto da água encanada e da rede coletora de esgoto. Toda a água, suja, remediada ou limpa, descia junto com a enxurrada.
                Mari trabalhava na casa de uma tia, no centro de Londrina. Nós morávamos na Rua Juruá, casinha de madeira envelhecida de número 181, na Vila Nova, em Londrina. Mari trabalhava muito e só voltava para casa nos finais de semana.
                Eu já havia convencionado que entre o meio e o fim da tarde ela chegaria. Mas quando chovia a apreensão tomava conta. Mari, filha mais velha de Luiza e Dairoku Ogama e irmã de Nana, Neca e Riu, havia trabalhado perto de casa, inclusive numa fábrica de doces da rua abaixo, a Javari.
                Era a primeira vez que alguém da família ficava tanto tempo fora. Além da saudade, a gente queria ouvir as novidades que ela trazia. Não tínhamos televisão em casa e Mari podia assistir novelas e programas de variedades no emprego. Em casa, nos fins de semana, havia sempre um momento em que esperávamos que ela contasse para nós episódios daquilo que assistia.
                Também não tínhamos geladeira e nem fogão a gás em casa. A primeira geladeira que mamãe conseguiu colocar na nossa cozinha foi uma usada, que ganhou justamente da irmã que havia empregado Mari. Chamávamos ela de Tia Iokie. O primeiro aparelho de televisão que mamãe teve para assistir as novelas também foi presente dela.
                Eu lembro que esperava Mari descer a Rua Juruá, vindo da Araguaia, sempre trazendo sacolas de roupas que levava para o serviço. Em dias de sol e poeira a espera por Mari era na escada da frente da nossa casa. Uma escada de madeira, com cinco degraus, que mamãe e minhas irmãs lavavam nos sábados e a madeira ficava branquinha.
                Nos dias de chuva e lama eu lembro de esperar Mari na Janela da frente da casa. Era uma janela de taramelas com fortes dobradiças num lado e, no outro, a taramela cujo buraco do prego estava tão dilatado que rodava e abria com o bater do vento.
                A casa era alugada e não tinha varanda. Igual à casa do vizinho tintureiro do lado direito. Diferente da casa da vizinha Maria do lado esquerdo, que tinha varanda na frente e nos fundos. A gente não sabia se era inveja, mas dava vontade de morar numa casa igual da dona Maria. As tábuas, ali, eram de cor claras, por serem ainda novas. Nossas tábuas pareciam enferrujadas, de tão velhas.
                Mari, batizada Mary Mitsuko Ogama, estudou na escola japonesa localizada na confluência das ruas Tietê com Javari e depois fez o curso primário no Grupo Escolar Nilo Peçanha. No nosso tempo todos tinham que fazer exame de admissão para entrar no curso ginasial.
                Mari, antes de trabalhar com a tia, não perdia as quermesses da Paróquia Nossa Senhora Aparecida, na Vila Nova, hoje com estatus de Santuário e visitado por pessoas de toda a região no dia 12 de outubro, data consagrada à Padroeira do Brasil.
                Era o tempo das músicas de Roberto Carlos, Erasmo Carlos, Martinha, Wanderléia, Renato e Seus Blue Caps, Golden Boys, Elvis Plesley e outros saudosos artistas da canção. Às vezes recebíamos na nossa modesta casa, que depois nós mesmos batizamos de casinha do morro porque ficava no alto, sobre toras cortadas a escorar a construção, algumas amigas da Mari. Com o tempo elas viravam amigas das três irmãs, da mamãe e até do papai. Eu ainda era um mascote.
Mari e minhas outras duas irmãs crescemos numa casa precária. Naquele tempo não havia banheiro dentro ou encostado nas casas antigas. A nossa privada ficava no fundo do quintal e não tinha onde tomar banho. Fazíamos isso num reservado dentro de casa, onde o chão era de cimento alisado com vermelhão.
A porta da cozinha tinha frestas enormes e tábuas apodrecidas na parte debaixo. E a gente sentia medo dos ratos, das cobras cegas e até de pessoas que tinham como colocar os braços até metade pelas frestas.
Na falta de geladeira mamãe comprava no Natal e no dia de Ano uma dúzia de guaranazinho. Dava um para cada membro da família no almoço e repeteco na janta. Para esfriar um pouco o refrigerante mamãe colocava as garrafinhas numa bacia com água do poço.
Já o fogão a lenha, feito de cimento, ajudava muito no frio e depois das chuvas para secar os sapatos, que ficavam encostados na lateral do apoio onde eram colocadas as lenhas.
Antes de trabalhar fora Mari também ajudou em casa na catação de café. As máquinas compravam o produto e beneficiavam. Antes de ir à torra ensacavam os grãos que eram levados por carroceiros aos bairros. Famílias que aceitavam o serviço de catar café estragado recebiam por saca limpada e tinham um extra para as despesas.
Mari nasceu no dia 29 de julho de 1952. Casou com Batista Bidoia, nascido também em julho, no dia 21 do ano de 1951. Eles tiveram quatro filhos: Roberson Alexandre Bidoia, que nasceu em 21 de agosto de 1979; Rosemary Bidoia, nascida em 6 de setembro de 1978; Roberto Bidoia, nascido em 30 de maio de 1988, e Reinaldo Rodrigo Bidoia, que nasceu em 11 de março de 1993.
Roberson e Rosemary estão no Japão. Ela tem um filho, o Lucas Martins, que nasceu no dia 24 de setembro de 2000. Roberson ê casado com Márcia Tae Terashima, nascida em 10 de dezembro de 1978. Eles são país de Alexia Akemi, que nasceu em 11 de abril de 1999; Ellen Sayuri, nascida em 16 de dezembro de 2002; Aeros Hiro, nascido em 2 de agosto de 2009, e Karina, que nasceu em 12 de novembro de 2012.
Roberto e Reinaldo estão no Brasil com Mari. Ambos trabalharam com pai até o falecimento dele, em 1º de julho de 2000. Depois, entre os empregos a que se dedicam, o de maior tempo é em pequena indústria instalada onde funcionou a tapeçaria do pai.
Roberto está namorando Jeisi  Câmara. Reinaldo está firme e feliz com Fernanda   Souza Gouveia, que é mãe de Ana Gabriela.

Roberson e Rosemary estão há 12 anos no Japão. "A Rose está na fábrica há 11 anos e no ano passado foi homenageada pelos 10 anos na empresa", conta Mari. "O Roberson tirou carteira para dirigir caminhão, depois pediram para tirar carteira para dirigir carreta e deu tudo certo. Ele trabalha transportando peças de uma fábrica para outra e conseguiu comprar sua casa financiada, que é melhor que aluguel", acrescenta a mãe coruja.



quarta-feira, 12 de outubro de 2016

Família – Neca, a caçula das meninas




A pronúncia é meio japonesa e carece de acento agudo na imaginação de quem chama Denise pelo apelido

Walter Ogama

                Neca, dito como se houvesse um acento agudo na primeira vogal, era miudinha na altura e na largura. Magérrima e de pele escura, de longe não diriam que Neca tinha descendência nipônica. Mas, na atenciosa observação, os cabelos lisos e negros denunciavam a origem.
                Batizada Denise Setsuko Ogama, Neca é filha de Luiza e Dairoku Ogama. A mãe nasceu em Morretes e o pai veio do Japão. Denise nasceu em Curitiba no dia 2 de outubro de 1954. É a mais nova de três irmãs. Mary e Daisy são as mais velhas. Depois de Denise nasceu o Walter, único filho homem de Luiza e Dairoku.
                Em Londrina, um dos locais onde a família morou por anos é a Vila Nova. A casinha de número 181 na Rua Juruá, uma das transversais ligando a Rua Araguaia à Rua Tietê, foi endereço daquela gente por muito tempo, desde após o nascimento de Walter em 1956, nos fundos de um bar da Rua Mossoró, no centro da cidade.
                A Araguaia era a única rua próxima calçada com paralelepípedos. Descendo quarteirões adiante por ela chegava-se a Rua Guaporé, também calçada. A Tietê, de chão batido, era conhecida como “bananal”, pois em suas margens se avizinhavam chacareiros. Os pais amedrontavam os filhos. Diziam que na Tietê passava o homem do saco que levava as crianças embora.
                Era, porém, bem na esquina da Tietê com a Javari que ficava a escola japonesa, onde Walter, Denise, Daisy e Mary estudaram antes de serem matriculados no antigo curso primário, no Grupo Escola Nilo Peçanha, localizado na Rua Araguaia.
                Com barro ou poeira, os pequenos tinham que esquecer do homem do saco e ir à escola. Do número 181 da Rua Juruá até a esquina da Tietê com a Javari demorava para chegar. O tempo gasto era apenas a travessia diagonal de um campo de futebol, o União, e de um meio campo de futebol onde os descendentes de japoneses treinavam beisebol.
                Do 181 até o Grupo Escolar Nilo Peçanha o percurso era um pouco maior, mas parecia menos, principalmente nos dias de chuva, por causa dos paralelepípedos que permitiam durante a caminhada arrastar os sapatos nas pedras para eliminar o barro.
                Um dos primeiros empregos de Denise foi na fábrica de doces e de amendoim salgado do Senhor Iwamoto, na Rua Javari, onde também trabalhou por anos a irmão mais velha, Mary. Naquele tempo o apelido era o mais usual. Neca, portanto, ainda se lembra da massinha de pão que a Dona Lúcia, mulher do Senhor Iwamoto, preparava e repartia com os empregados na hora do café.
                Neca estudou o ginásio no Colégio Estadual Vicente Rijo, com entrada principal na Rua São Salvador, depois da Guaporé. Posteriormente o Vicente Rijo foi transferido para a esquina da JK com a Higienópolis e a velha instalação abriga até hoje o Colégio Estadual Marcelino Champagnat.
                Neca passou por muitos empregos, alguns depois de casada e já com filhos. Dentre eles a Relojoaria Galo de Ouro, que funcionava na Rua Sergipe; a Relojoaria Vila Rica, na Galeria da Folha de Londrina; o Royal Perfumes, na Rua Sergipe; a bilheteria do Cine Contour; o Sacola Cheia, na Rua Araguaia, e a Mercearia Shiroma, no Mercado Shangri-la.
                Casada com João Roberto Bitencourt, Denise teve com ele dois filhos. Johnny George nasceu em 8 de dezembro de 1975. Michael Robert nasceu em 22 de agosto de 1977 e faleceu em 12 de dezembro de 2002. O pai, João Roberto, também faleceu. Anos depois Denise se uniu a Valdir, de quem recebeu apoio para cuidar dos filhos.
                Johnny George está no Japão desde 1996. Casado com Marites, que faz aniversário em 16 de dezembro, é pai de Ichika, que nasceu em 3 de janeiro de 2013.
                Neca inclui ainda como pessoas importantes em sua vida a neta Sayuri, que nasceu em 3 de março de 2001 e mora em Goiania. Vovó Ziza, que faleceu recentemente, também teve forte ligação com a família de Neca. O sobrinho Christian Paul, que vive hoje com Idelines, morou vários anos com dona Luiza e merece carinho como um irmão.
                Denise se reúne frequentemente com as irmãs e os sobrinhos. Embora o filho, a nora e as netas estejam longe, ela tem muita estima por animais domésticos. Cães e gatos costumam encontrar abrigo na casa dela.
                E eu ainda me lembro que minhas irmãs iam à quermesse da Paróquia Nossa Senhora Aparecida, da Vila Nova, nas noites de sábado. Eu, moleque, ainda ficava em casa com mamãe, na máquina de costura, e papai no conserto de aparelhos de rádio.

                Mais um pouco dos nosso apelidos: eu era o Riu, que vinha do abreviado do meu nome japonês, Rhiuzo; Mary, a nossa irmã mais velha, era Mari, também forçando um acento agudo no final. E chamavam a Dasy de Nana, também com pronuncia japonesada, anasalando no primeiro “na” como se houvesse um til.  


      

sábado, 8 de outubro de 2016

Crônica - Entre pedras soltas, buracos, bicadas de pombos, gordura, cheiro de fritura e descaso


Walter Ogama

                Pombas! Essas avezinhas são de encher a moleira. Ainda mais bicando, sob o sol torturante deste início de primavera.
                E eu, entregue ao comodismo, nada faço para te aliviar. Se bem que, na presente conjuntura, o senhor não passa de um busto.
                Diferente da estátua viva que lá adiante, no quarteirão anterior, aproveita o pouco caso dos passantes e pisca, disfarçadamente, os olhos que ardem e lacrimejam. O senhor é apenas uma pedra artisticamente trabalhada. Nem respira e nem torce o nariz.
                O que faria a estatua viva lacrimejar e piscar? A poluição do ambiente pouco ou nada zelado? Ou a cestinha vazia, sem qualquer moeda para agradecer com um trocadinho o artista que atravessa minutos imóvel, distante dos que o rodeiam, mas perto de si mesmo?
                Sim, perto de si mesmo. Só assim ele consegue desempenhar o seu papel e chamar não só a atenção de alguns. Quem sabe, junto, um sentimento de misericórdia pelo artista ter inclusive transmitido que faz aquilo para sobreviver.
                Diferente do busto fincado naquela praça bem no centro de Londrina. A estátua de pedra tem em sua placa a informação, a data e o motivo daquele homem, petrificado, estar naquele lugar.
                Trata-se de Willie da Fonseca Brabazon Davids, considerado um grande benfeitor da cidade e da região. É, portanto, uma homenagem. E a data da instalação é 22 de maio de 1952.
                É famoso este cara, pois está também em nome de escola, de estádio de futebol e de via pública. Verdade, em Rolândia, cidade da Região Metropolitana de Londrina, existe a Rua Willie Davids.
                Ele nasceu em Campinas, no Estado de São Paulo, em 29 de novembro de 1893. Foi prefeito de Jacarezinho e depois deputado estadual. Posteriormente, em Londrina, assumiu uma das diretorias da Companhia de Terras Norte do Paraná e foi prefeito da cidade, onde construiu escolas, abriu ruas e trouxe muitas outras melhorias.
                Também para a região, chegou a estender sua vocação construtivista até Apucarana. Seu nome consta ainda entre os que, durante o surto da febre amarela, fundaram uma sociedade beneficente, posteriormente denominada Irmandade da Santa Casa de Londrina.
                Willie Davids e a esposa Carlota tiveram dois filhos, Willie e Nellie. Como obreiro, mereceu justa homenagem do pessoal daqueles anos de 1950.
                Agora, a estátua finca-se solitária no meio de uma praça pública pouco ou nada conservada. Lá embaixo funciona a feira do artesanato. Há barracas de panos de prato e outras manufaturas à venda nas redondezas.
                A obra do cine teatro, tida por alguns como a salvação da pátria, está atrás do tapume. Carrinhos de lanches espirram gordura e cheiro forte que atraem insetos. Pombos, inclusive aquele que bicou a cabeça do benfeitor insistentemente, mancham a região.
                A cidade está suja. Não há como deixar para a posteridade bustos de prefeitos de agora, vereadores, deputados estaduais e federais, senadores ou qualquer coisa parecida.
                Nem nós, eleitores de uma importante, porém desrespeitada democracia, merecemos menções que poderiamos tê-las se soubéssemos dignificar o nosso direito de votar. Mas, parece, ainda votamos para não perder o voto ou acreditamos nos falsos analistas ouvidos e retransmitidos pela mídia.

                Assim sendo: Bom Dia Garotas e Garotos de Recado!