quarta-feira, 12 de outubro de 2016

Família – Neca, a caçula das meninas




A pronúncia é meio japonesa e carece de acento agudo na imaginação de quem chama Denise pelo apelido

Walter Ogama

                Neca, dito como se houvesse um acento agudo na primeira vogal, era miudinha na altura e na largura. Magérrima e de pele escura, de longe não diriam que Neca tinha descendência nipônica. Mas, na atenciosa observação, os cabelos lisos e negros denunciavam a origem.
                Batizada Denise Setsuko Ogama, Neca é filha de Luiza e Dairoku Ogama. A mãe nasceu em Morretes e o pai veio do Japão. Denise nasceu em Curitiba no dia 2 de outubro de 1954. É a mais nova de três irmãs. Mary e Daisy são as mais velhas. Depois de Denise nasceu o Walter, único filho homem de Luiza e Dairoku.
                Em Londrina, um dos locais onde a família morou por anos é a Vila Nova. A casinha de número 181 na Rua Juruá, uma das transversais ligando a Rua Araguaia à Rua Tietê, foi endereço daquela gente por muito tempo, desde após o nascimento de Walter em 1956, nos fundos de um bar da Rua Mossoró, no centro da cidade.
                A Araguaia era a única rua próxima calçada com paralelepípedos. Descendo quarteirões adiante por ela chegava-se a Rua Guaporé, também calçada. A Tietê, de chão batido, era conhecida como “bananal”, pois em suas margens se avizinhavam chacareiros. Os pais amedrontavam os filhos. Diziam que na Tietê passava o homem do saco que levava as crianças embora.
                Era, porém, bem na esquina da Tietê com a Javari que ficava a escola japonesa, onde Walter, Denise, Daisy e Mary estudaram antes de serem matriculados no antigo curso primário, no Grupo Escola Nilo Peçanha, localizado na Rua Araguaia.
                Com barro ou poeira, os pequenos tinham que esquecer do homem do saco e ir à escola. Do número 181 da Rua Juruá até a esquina da Tietê com a Javari demorava para chegar. O tempo gasto era apenas a travessia diagonal de um campo de futebol, o União, e de um meio campo de futebol onde os descendentes de japoneses treinavam beisebol.
                Do 181 até o Grupo Escolar Nilo Peçanha o percurso era um pouco maior, mas parecia menos, principalmente nos dias de chuva, por causa dos paralelepípedos que permitiam durante a caminhada arrastar os sapatos nas pedras para eliminar o barro.
                Um dos primeiros empregos de Denise foi na fábrica de doces e de amendoim salgado do Senhor Iwamoto, na Rua Javari, onde também trabalhou por anos a irmão mais velha, Mary. Naquele tempo o apelido era o mais usual. Neca, portanto, ainda se lembra da massinha de pão que a Dona Lúcia, mulher do Senhor Iwamoto, preparava e repartia com os empregados na hora do café.
                Neca estudou o ginásio no Colégio Estadual Vicente Rijo, com entrada principal na Rua São Salvador, depois da Guaporé. Posteriormente o Vicente Rijo foi transferido para a esquina da JK com a Higienópolis e a velha instalação abriga até hoje o Colégio Estadual Marcelino Champagnat.
                Neca passou por muitos empregos, alguns depois de casada e já com filhos. Dentre eles a Relojoaria Galo de Ouro, que funcionava na Rua Sergipe; a Relojoaria Vila Rica, na Galeria da Folha de Londrina; o Royal Perfumes, na Rua Sergipe; a bilheteria do Cine Contour; o Sacola Cheia, na Rua Araguaia, e a Mercearia Shiroma, no Mercado Shangri-la.
                Casada com João Roberto Bitencourt, Denise teve com ele dois filhos. Johnny George nasceu em 8 de dezembro de 1975. Michael Robert nasceu em 22 de agosto de 1977 e faleceu em 12 de dezembro de 2002. O pai, João Roberto, também faleceu. Anos depois Denise se uniu a Valdir, de quem recebeu apoio para cuidar dos filhos.
                Johnny George está no Japão desde 1996. Casado com Marites, que faz aniversário em 16 de dezembro, é pai de Ichika, que nasceu em 3 de janeiro de 2013.
                Neca inclui ainda como pessoas importantes em sua vida a neta Sayuri, que nasceu em 3 de março de 2001 e mora em Goiania. Vovó Ziza, que faleceu recentemente, também teve forte ligação com a família de Neca. O sobrinho Christian Paul, que vive hoje com Idelines, morou vários anos com dona Luiza e merece carinho como um irmão.
                Denise se reúne frequentemente com as irmãs e os sobrinhos. Embora o filho, a nora e as netas estejam longe, ela tem muita estima por animais domésticos. Cães e gatos costumam encontrar abrigo na casa dela.
                E eu ainda me lembro que minhas irmãs iam à quermesse da Paróquia Nossa Senhora Aparecida, da Vila Nova, nas noites de sábado. Eu, moleque, ainda ficava em casa com mamãe, na máquina de costura, e papai no conserto de aparelhos de rádio.

                Mais um pouco dos nosso apelidos: eu era o Riu, que vinha do abreviado do meu nome japonês, Rhiuzo; Mary, a nossa irmã mais velha, era Mari, também forçando um acento agudo no final. E chamavam a Dasy de Nana, também com pronuncia japonesada, anasalando no primeiro “na” como se houvesse um til.  


      

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