A pronúncia é meio japonesa e carece de acento agudo na
imaginação de quem chama Denise pelo apelido
Walter Ogama
Neca,
dito como se houvesse um acento agudo na primeira vogal, era miudinha na altura
e na largura. Magérrima e de pele escura, de longe não diriam que Neca tinha
descendência nipônica. Mas, na atenciosa observação, os cabelos lisos e negros
denunciavam a origem.
Batizada
Denise Setsuko Ogama, Neca é filha de Luiza e Dairoku Ogama. A mãe nasceu em
Morretes e o pai veio do Japão. Denise nasceu em Curitiba no dia 2 de outubro
de 1954. É a mais nova de três irmãs. Mary e Daisy são as mais velhas. Depois
de Denise nasceu o Walter, único filho homem de Luiza e Dairoku.
Em
Londrina, um dos locais onde a família morou por anos é a Vila Nova. A casinha
de número 181 na Rua Juruá, uma das transversais ligando a Rua Araguaia à Rua
Tietê, foi endereço daquela gente por muito tempo, desde após o nascimento de
Walter em 1956, nos fundos de um bar da Rua Mossoró, no centro da cidade.
A
Araguaia era a única rua próxima calçada com paralelepípedos. Descendo
quarteirões adiante por ela chegava-se a Rua Guaporé, também calçada. A Tietê,
de chão batido, era conhecida como “bananal”, pois em suas margens se
avizinhavam chacareiros. Os pais amedrontavam os filhos. Diziam que na Tietê
passava o homem do saco que levava as crianças embora.
Era,
porém, bem na esquina da Tietê com a Javari que ficava a escola japonesa, onde
Walter, Denise, Daisy e Mary estudaram antes de serem matriculados no antigo
curso primário, no Grupo Escola Nilo Peçanha, localizado na Rua Araguaia.
Com
barro ou poeira, os pequenos tinham que esquecer do homem do saco e ir à
escola. Do número 181 da Rua Juruá até a esquina da Tietê com a Javari demorava
para chegar. O tempo gasto era apenas a travessia diagonal de um campo de
futebol, o União, e de um meio campo de futebol onde os descendentes de
japoneses treinavam beisebol.
Do 181
até o Grupo Escolar Nilo Peçanha o percurso era um pouco maior, mas parecia
menos, principalmente nos dias de chuva, por causa dos paralelepípedos que
permitiam durante a caminhada arrastar os sapatos nas pedras para eliminar o
barro.
Um dos
primeiros empregos de Denise foi na fábrica de doces e de amendoim salgado do
Senhor Iwamoto, na Rua Javari, onde também trabalhou por anos a irmão mais
velha, Mary. Naquele tempo o apelido era o mais usual. Neca, portanto, ainda se
lembra da massinha de pão que a Dona Lúcia, mulher do Senhor Iwamoto, preparava
e repartia com os empregados na hora do café.
Neca
estudou o ginásio no Colégio Estadual Vicente Rijo, com entrada principal na
Rua São Salvador, depois da Guaporé. Posteriormente o Vicente Rijo foi
transferido para a esquina da JK com a Higienópolis e a velha instalação abriga
até hoje o Colégio Estadual Marcelino Champagnat.
Neca
passou por muitos empregos, alguns depois de casada e já com filhos. Dentre
eles a Relojoaria Galo de Ouro, que funcionava na Rua Sergipe; a Relojoaria
Vila Rica, na Galeria da Folha de Londrina; o Royal Perfumes, na Rua Sergipe; a
bilheteria do Cine Contour; o Sacola Cheia, na Rua Araguaia, e a Mercearia Shiroma,
no Mercado Shangri-la.
Casada
com João Roberto Bitencourt, Denise teve com ele dois filhos. Johnny George
nasceu em 8 de dezembro de 1975. Michael Robert nasceu em 22 de agosto de 1977
e faleceu em 12 de dezembro de 2002. O pai, João Roberto, também faleceu. Anos
depois Denise se uniu a Valdir, de quem recebeu apoio para cuidar dos filhos.
Johnny
George está no Japão desde 1996. Casado com Marites, que faz aniversário em 16
de dezembro, é pai de Ichika, que nasceu em 3 de janeiro de 2013.
Neca
inclui ainda como pessoas importantes em sua vida a neta Sayuri, que nasceu em
3 de março de 2001 e mora em Goiania. Vovó Ziza, que faleceu recentemente,
também teve forte ligação com a família de Neca. O sobrinho Christian Paul, que
vive hoje com Idelines, morou vários anos com dona Luiza e merece carinho como
um irmão.
Denise
se reúne frequentemente com as irmãs e os sobrinhos. Embora o filho, a nora e
as netas estejam longe, ela tem muita estima por animais domésticos. Cães e
gatos costumam encontrar abrigo na casa dela.
E eu
ainda me lembro que minhas irmãs iam à quermesse da Paróquia Nossa Senhora
Aparecida, da Vila Nova, nas noites de sábado. Eu, moleque, ainda ficava em
casa com mamãe, na máquina de costura, e papai no conserto de aparelhos de
rádio.
Mais um
pouco dos nosso apelidos: eu era o Riu, que vinha do abreviado do meu nome
japonês, Rhiuzo; Mary, a nossa irmã mais velha, era Mari, também forçando um
acento agudo no final. E chamavam a Dasy de Nana, também com pronuncia
japonesada, anasalando no primeiro “na” como se houvesse um til.
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