sábado, 8 de outubro de 2016

Crônica - Entre pedras soltas, buracos, bicadas de pombos, gordura, cheiro de fritura e descaso


Walter Ogama

                Pombas! Essas avezinhas são de encher a moleira. Ainda mais bicando, sob o sol torturante deste início de primavera.
                E eu, entregue ao comodismo, nada faço para te aliviar. Se bem que, na presente conjuntura, o senhor não passa de um busto.
                Diferente da estátua viva que lá adiante, no quarteirão anterior, aproveita o pouco caso dos passantes e pisca, disfarçadamente, os olhos que ardem e lacrimejam. O senhor é apenas uma pedra artisticamente trabalhada. Nem respira e nem torce o nariz.
                O que faria a estatua viva lacrimejar e piscar? A poluição do ambiente pouco ou nada zelado? Ou a cestinha vazia, sem qualquer moeda para agradecer com um trocadinho o artista que atravessa minutos imóvel, distante dos que o rodeiam, mas perto de si mesmo?
                Sim, perto de si mesmo. Só assim ele consegue desempenhar o seu papel e chamar não só a atenção de alguns. Quem sabe, junto, um sentimento de misericórdia pelo artista ter inclusive transmitido que faz aquilo para sobreviver.
                Diferente do busto fincado naquela praça bem no centro de Londrina. A estátua de pedra tem em sua placa a informação, a data e o motivo daquele homem, petrificado, estar naquele lugar.
                Trata-se de Willie da Fonseca Brabazon Davids, considerado um grande benfeitor da cidade e da região. É, portanto, uma homenagem. E a data da instalação é 22 de maio de 1952.
                É famoso este cara, pois está também em nome de escola, de estádio de futebol e de via pública. Verdade, em Rolândia, cidade da Região Metropolitana de Londrina, existe a Rua Willie Davids.
                Ele nasceu em Campinas, no Estado de São Paulo, em 29 de novembro de 1893. Foi prefeito de Jacarezinho e depois deputado estadual. Posteriormente, em Londrina, assumiu uma das diretorias da Companhia de Terras Norte do Paraná e foi prefeito da cidade, onde construiu escolas, abriu ruas e trouxe muitas outras melhorias.
                Também para a região, chegou a estender sua vocação construtivista até Apucarana. Seu nome consta ainda entre os que, durante o surto da febre amarela, fundaram uma sociedade beneficente, posteriormente denominada Irmandade da Santa Casa de Londrina.
                Willie Davids e a esposa Carlota tiveram dois filhos, Willie e Nellie. Como obreiro, mereceu justa homenagem do pessoal daqueles anos de 1950.
                Agora, a estátua finca-se solitária no meio de uma praça pública pouco ou nada conservada. Lá embaixo funciona a feira do artesanato. Há barracas de panos de prato e outras manufaturas à venda nas redondezas.
                A obra do cine teatro, tida por alguns como a salvação da pátria, está atrás do tapume. Carrinhos de lanches espirram gordura e cheiro forte que atraem insetos. Pombos, inclusive aquele que bicou a cabeça do benfeitor insistentemente, mancham a região.
                A cidade está suja. Não há como deixar para a posteridade bustos de prefeitos de agora, vereadores, deputados estaduais e federais, senadores ou qualquer coisa parecida.
                Nem nós, eleitores de uma importante, porém desrespeitada democracia, merecemos menções que poderiamos tê-las se soubéssemos dignificar o nosso direito de votar. Mas, parece, ainda votamos para não perder o voto ou acreditamos nos falsos analistas ouvidos e retransmitidos pela mídia.

                Assim sendo: Bom Dia Garotas e Garotos de Recado! 


    

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