Logo adiante, o comércio oferece sorvete direto da fábrica. A que preço a senhora que mora no quintal vizinho mereceria tal vantagem? Ou, desvantagem.
Na esquina mais próxima, o muro
da escola de ensino fundamental é ornamentado com desenhos de aluno. Na frente
e na lateral. Ligia, Pedro Joaquim, Marcos, João, Hellyan e tantos outros
assinam a obra. Que é, aliás, bastante visível, mas questiono quantos não a
enxergam com a devida importância de quem a concebeu. Canta Marisa Monte, na
música Gentileza: "Apagaram tudo / pintaram tudo de cinza..." Letra
previsível num lugar que pinta escolas com as cores da campanha eleitoral dos
políticos da vez. Hoje vermelho, amanhã azul, depois verde...
Nas minhas costas, a mureta do
estacionamento me oferece um lugar para sentar. Não me expulsam de lá, por
provável cortesia, ou pouco caso, quem sabe por me virem potencial cliente,
isso culpa da minha idade.
As placas das ruas que se cruzam
balançam ao vento, como se fossem elas as responsáveis pelo tempo das
sinaleiras. Verde Vasco da Gama,vermelho São João, amarelo para ambas, ao mesmo
tempo.
Vasco da Gama. Seria o próprio,
aquele do caminho das Índias, emprestando seu nome à tão usada via pública? De
quem foi a idéia? Infeliz, hilárica ou louvável? Quem diria...
E o outro, São João? É o mesmo do
folclore, das festas juninas que perderam os fogos de artifício por causa dos
cachorros? Nunca o cachorro animal têm culpa ou mérito de erros e acertos.
Sempre o cachorro homem, aquele que pensa com a traseira e ladra, este sim
decida equivocado por desfilar pretensões avessas.
Verde e vermelho, Vasco e João. Vermelho
e verde, João e Vasco. Amarelo para ambos, ao mesmo tempo. "Escola linda
de bonita", escreveu um aluno que ajudou a ornamentar o muro da escola com
a sua frase.
Metros atrás, dois pontos de
ônibus abrigam sob suas coberturas pretensos passageiros que esperam pela
condução faz tempo. Um carro de passeio dá a seta para subir, enquanto o
motorista contrário aproveita a parada para limpar o nariz. Deu tempo para
tirar a sujeira e limpar a ponta do dedo na manga da camisa. Mas deu flagrante
para a mulher de motocicleta, ao lado, que fez cara de nojo. Visível, apesar do
capacete. Risível, segundo a expressão do motorista da Van, que assistiu aos
dois atos.
Verde, vermelho ou amarelo?
Trânsito calmo na Vasco que cruza João e que faz o mesmo com o primeiro. Uma é
rua, outra é avenida. Mas o estatus pouco importa. Vale ênfase registrar o que
acontece no lugar desta cidade onde o explorador marítimo e o santo se dão de
cara. Logo aqui, tão longe dos dois.
Ossos do ofício. Há quem diga,
escrever tanta bobagem... Mas vi duas borboletas de asas amarelas voando
naquele cruzamento na hora da calmaria no trânsito. Culpa do Vasco e do João,
explorador e santo.
E ainda enxergo bem, por isso
escrevo. Ainda vejo e conto o que visualizo.
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