...no reino das matas em chamas, havia um rei que dizia mas não falava, ouvia mas não escutava, olhava mas não enxergava, ia mas não chegava. Em seu majestoso recinto e entregue às enormes e aveludadas braçadeiras de seu trono, o rei consumia as horas dos dias com seus brinquedos: bonecos plásticos de soldados, réplicas de armas de fogo, e seu inseparável smartphone de última geração.
Falava sozinho, mesmo que houvesse cuidadores próximos ao trono, porque uns escutavam mas faziam de conta que não ouviam. Cansados de brincar com o rei, simplesmente o ignoravam.
Então o rei, preguiçoso na sua tarefa de exercitar o raciocínio, esticava os dedos tocando na tela do telefone. E xingava, e gabava-se de seus xingamentos, enumerava inutilidades, ria sozinho de suas travessuras, fazia caretas para se fotografar em selfies.
E ameaça os bobos da corte, que se apresentavam com suas próprias canetas, conforme recomendava a justiça eleitoral para votar em prefeitos e vereadores durante a pandemia. E também se apresentavam à majestade com seus próprios banquinhos de plástico comprados em loja de departamentos cujo dono amava o rei, para fazerem as suas travessuras.
E contam que o rei ria tanto das encenações sem graça que mostravam a ele. E sabiam os bobo da corte que se o rei não risse de suas graças teriam os seus empregos no reino tomados sob o pretexto de serem maricas.
E o rei, de pé em frente ao seu trono, às vezes com o peso do corpo apoiado na perna direita, mas por distração compensando ao jogar, eventualmente, o peso sobre a perna esquerda, dobrava o braços direito na altura do peito, esticava o dedo indicador para frente e o polegar para cima, simulando atirar nos súditos.
E foi numa conversa vazada após uma apresentação que um bobo da corte se queixou de sua performance: "Preciso melhorar senão o rei manda pólvora em mim e, se eu sobreviver, fico desempregado”. Por que, perguntaram os colegas: “Porque ele está doido para assumir a minha vaga de bufão".
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