domingo, 15 de novembro de 2020

ERA UMA VEZ...


...no reino das matas em chamas, havia um rei que dizia mas não falava, ouvia mas não escutava, olhava mas não enxergava, ia mas não chegava. Em seu majestoso recinto e entregue às enormes e aveludadas braçadeiras de seu trono, o rei consumia as horas dos dias com seus brinquedos: bonecos plásticos de soldados, réplicas de armas de fogo, e seu inseparável smartphone de última geração.

Falava sozinho, mesmo que houvesse cuidadores próximos ao trono, porque uns escutavam mas faziam de conta que não ouviam. Cansados de brincar com o rei, simplesmente o ignoravam.

Então o rei, preguiçoso na sua tarefa de exercitar o raciocínio, esticava os dedos tocando na tela do telefone. E xingava, e gabava-se de seus xingamentos, enumerava inutilidades, ria sozinho de suas travessuras, fazia caretas para se fotografar em selfies.

E ameaça os bobos da corte, que se apresentavam com suas próprias canetas, conforme recomendava a justiça eleitoral para votar em prefeitos e vereadores durante a pandemia. E também se apresentavam à majestade com seus próprios banquinhos de plástico comprados em loja de departamentos cujo dono amava o rei, para fazerem as suas travessuras.

E contam que o rei ria tanto das encenações sem graça que mostravam a ele. E sabiam os bobo da corte que se o rei não risse de suas graças teriam os seus empregos no reino tomados sob o pretexto de serem maricas.

E o rei, de pé em frente ao seu trono, às vezes com o peso do corpo apoiado na perna direita, mas por distração compensando ao jogar, eventualmente, o peso sobre a perna esquerda, dobrava o braços direito na altura do peito, esticava o dedo indicador para frente e o polegar para cima, simulando atirar nos súditos.

E foi numa conversa vazada após uma apresentação que um bobo da corte se queixou de sua performance: "Preciso melhorar senão o rei manda pólvora em mim e, se eu sobreviver, fico desempregado”. Por que, perguntaram os colegas: “Porque ele está doido para assumir a minha vaga de bufão".

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