sexta-feira, 30 de outubro de 2020

LEVE A CANETA E O BANQUINHO


Pare. Proibido virar à esquerda. Siga em frente. Conversão à direita temporariamente interrompida. Contorno em manutenção. Use o retrovisor e vá de retro.

Não devia, mas sinais de trânsito parecem, nestes tempos de pandemia política, advertências ideológicas. Esquerda, direita, centro, avanço e retrocesso balizam algumas tendências ou estratégias.

O melhor caminho, às vezes, têm que ser visto como aquele que não é o pior, numa evidência escandalosa da precariedade dos seus argumentos e consequentes discursos. Soluções obvias para questões pontuais.

O oportuno é tão farto de razão quanto o criteriosamente planejado. Depende do lampejo. Ou da hora. Quem sabe, da situação lá fora. As vezes é como dizer um monte de coisas e não falar nada.

Pare. Siga. Não ande, não vire, não recue. Use a faixa. Ligue a seta, sinalize em qualquer circunstância. Ande e, se precisar, corra. Cuidado ao atravessar a próxima viela. Não descuide ao entrar num beco. Volte se a placa avisar que é uma rua sem saída.

E siga, sempre. Cuidado para não dar com o bico do chinelo de dedo na ponta de uma calçada rachada. Permita a ultrapassagem de quem te segue com atitude suspeita.

Bote o lixo no recipiente. Vote o voto na urna ou empurre o mesmo com força para dentro do teclado da máquina de votar.

Cuidado, obra a cem metros com carranca de execução pretensiosamente política. Habilidade nas curvas, o mandato desastroso é por mais três anos.

Vire à direita, é uma opção. Vire à esquerda, é outra opção. Saia do meio, a rua é de vai e vem e o centro é perigoso para ambos os extremos. Pare e pense. Vá e recue. Erre e acerte. Ideologia não é sair rodando pneus até o desgaste.

Mas aqui e agora, do jeito que parece estar, é quase necessário pensar tudo isso como se os avisos de trânsito, na vertical ou na horizontal, ditam as regras desse jogo estranho.

Nunca por mera semelhança. Tudo por culpa de todas as partes que integram este palco. Eu que voto, fulano que espera ser votado, a caneta que tem de ser levada de casa para marcar o número do escolhido, a falsa preocupação com os idosos, estes que se antes já eram, agora, com o novo coronavírus, são os velhos que além de terem muita idade integram um grupo de risco.

Dito da forma como fazem as autoridades sanitárias, alguns especialistas da área médica e profissionais dos meios de comunicação, estão, os idosos, perfilados e com as metralhadoras em mão. Prontos para os disparos.

Faz de conta que ainda estamos falando de política e as situações aqui desenhadas, inclusive nas entrelinhas, formam uma ideologia estranha e sem sentido. E viva o 15 de novembro, nunca por causa das eleições municipais. Um pouco por causa da proclamação da República e um tanto enorme para pensar nas canetas borrando. Leve também, velhinho, a sua cadeirinha para enquanto espera na fila a hora de usar a caneta tinteiro desengavetada do velho armário.

A escolha dos novos prefeitos e vereadores é cara. Mas não se preocupem. Os mesários são voluntários. Brasil...




Becos, ruas sem saída, vielas: o que pode acontecer até chegar ao outro lado? Quem garante que aquilo leva a algum lugar? Melhor acreditar na placa: Rua Sem Saída, dê a volta e se manda




A linha que traz e leva a força e a luz, como diziam os antigos; o limite de velocidade e, no meio das duas pistas, a avenida que passa lá no fundo: o que vem de baixo também atinge, esse é o risco


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