A grande regiăo do Jardim Califórnia, em Londrina, têm lugarejos interessantes em seu entorno. E, ao mesmo tempo, incógnitos. Bairros e conjuntos habitacionais como o Nova Conquista, Ok, Jardim Kobayashi, San Fernando e São Izidro dividem características particulares, apesar de vizinhos. De uma rua a outra, e em alguns casos já na mudança de quarteirão, o panorama se modifica.
Se ali têm casas em alvenaria concebidas através de projetos arquitetônicos, inclusive algumas no estilo de sobrados, lá têm construções em madeira, a maioria bem simples. Há também edificações em alvenaria, mas é visível que elas foram levantadas em etapa, de acordo com a disponibilidade do proprietário para investir na obra. E há, inclusive, sobradinhos, que por falta de espaço levaram a construção para cima. Localizadas em sua maioria nas baixadas, estas moradias, olhando de cima, se amontoam lá embaixo.
Outras diferenças se
destacam. Os bairros das casas mais nobres têm ruas silenciosas, limpas e
arborizadas. Um estranho como eu caminhando a pé numa dessas vias deve gerar
indagações. “Será que está sondando por aqui para voltar outra hora e...” Dá
para pensar assim, percebendo os olhares furtivos por detrás das cortinas.
No lado mais simples,
há também quem encare o desconhecido com desconfiança e até certa postura de
intimidação. Mas prevalecem as senhoras e os senhores de idade, em plena manhã de
um dia da semana, sentados nos bancos de madeira fixados na calçada de terra em
frente de seus quintais. Estes até respondem ao meu cumprimento de bom dia,
Me incomoda, porém, a existência de um ponto de entrega voluntária de material reciclável bem na parte mais pobre. É o PEV da região Leste de Londrina, no finzinho da Rua Capitão João Busse, uma via longa e de construções requintadas que começa em parte nobre próxima ao Aeroporto de Londrina. O PEV
Leste funciona em terreno de esquina com a Rua Guilherme Negro, no Conjunto Nova Conquista. O ponto de entrega fica no baixadão. A Rua Guilherme Negro contorno uma imensa área que deveria ser destinada ao lazer. Mas a academia de ginástica ao ar livre fica bem em frente de uma das entradas do local onde ficam depositados os materiais recicláveis. Basta atravessar da academia o prolongamento da Rua João Busse para dar de cara com o depósito.
Há um parque
infantil, na imensa área gramada, de tamanho suficiente para um campo de
futebol. As crianças brincam no local, que reparte espaço com sacos de lixo de
papel, alumínio, plástico e outros descartados. São materiais mantidos fora do
PEV, que é responsabilidade do poder público municipal.
No extremo oposto ao
da academia ao ar livre há uma quadra de futebol de salão, cercada de tela de
arame. Ali, atravessando a rua, uma moradora varre a calçada e responde, um
tanto desconfiada, a pergunta que eu faço.
Diz que o material deixa o seu bairro feio. Completa que insetos,
roedores e outros peçonhentos são temidos.
Lá atrás, onde passei perto de três homens conversando, percebo que um deles me olha. E seu olhar é nada amistoso. Agradeço a senhora, dou bom dia e saio de fininho. Na primeira esquina viro à esquerda e dou de frente com uma subida. A pequena rua parece uma escada. Chego lá em cima e confiro o resultado da minha escalada. O homem está lá embaixo, olhando para cima. Aceno com a mão para ele e vou rapidinho pela rua que é longa, mas pelo menos não tem subida.
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