sexta-feira, 23 de outubro de 2020

O MARCO É ZERO

 

Nesta cidade tomada pela incerteza de sua gente no amanhã, o monumento em homenagem aos desbravadores mais que escancara a pretensão política dos que o conceberam. E, hoje em dia, também os que pretendem ganhar a simpatia dos desatenciosos e pendurar seus agasalhos em cadeiras públicas eletivas.

Fincado naquele dia e hora, e por obra dá exatidão geográfica naquele lugar, hoje a chapa de concreto sobe verticalmente a partir de sua base, tanto parecida com um recorte de calçada, rumo às copas de frondosas árvores.

A metade de cima da estrutura que se ergue comporta o pedaço de metal com nomes e causas. Quem foi fulano e o que ele fez? Os anônimos, preocupados com suas atribuições, nada escreveram e tampouco foram escritos.

Correram anos. Chuvas e sóis venceram folhas e galhos da vegetação para ensaiar bons dias e encerrar as tardes com boas noites.

O Marco Zero não anda e nem fala. É apenas o símbolo de onde a cidade começou, no então chamado Patrimônio Três Bocas, em 21 de agosto de 1929. “Naquela data, em nome da Companhia de Terras Norte do Paraná, um punhado de homens aqui chegou e, com o coração cheio de energia e confiança no futuro, de joelhos plantaram suas primeiras sementes”, diz parte da mensagem, conforme mostram, caladas, as letras cunhadas no metal.

Nem pode, por isso, o Marco Zero reclamar do mau estado de onde habita sozinho varando diferentes situações. Ali bem perto o cercado ruiu em um trecho. As folhas das plantas formam um tapete natural e enfeitam. Mas embalagens plásticas em alguns pontos, junto com outros lixos urbanos, enfeiam.

Fora o barulho dos carros e de obras em prédios próximos, ouve-se a sinfonia do vento regida pela mata. Pássaros acrescentam com suas diferentes cantorias. O silêncio vem por conta da ausência dos escolares, que deixaram de visitar o local no período da pandemia do novo coronavírus.

É uma quase verdade. Pois às crianças voltarão quando a doença for embora e a bem-vinda algazarra dos pequenos com eles virá ao monumento e à vida da cidade.

Os que permanecerão calados sãos aqueles que só entendem o Marco Zero como um símbolo de metal e concreto feito no meio do mato. São dez candidatos a prefeito e 564 a vereadores em Londrina. Mesmo que alguns desses sejam indeferidos, ainda sobrarão muitos.

Quais deles sabem sobre a história das pessoas que constroem está cidade e cujos nomes não constam, tal qual o dos anônimos, em nenhum concreto ou metal comemorativo?






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