Nesta cidade tomada pela
incerteza de sua gente no amanhã, o monumento em homenagem aos desbravadores
mais que escancara a pretensão política dos que o conceberam.
E, hoje em dia, também os que pretendem ganhar a simpatia dos desatenciosos e
pendurar seus agasalhos em cadeiras públicas eletivas.
Fincado naquele dia e hora, e por
obra dá exatidão geográfica naquele lugar, hoje a chapa de concreto sobe
verticalmente a partir de sua base, tanto parecida com um recorte de calçada,
rumo às copas de frondosas árvores.
A metade de cima da estrutura que
se ergue comporta o pedaço de metal com nomes e causas. Quem foi fulano e o que
ele fez? Os anônimos, preocupados com suas atribuições, nada escreveram e
tampouco foram escritos.
Correram anos. Chuvas e sóis
venceram folhas e galhos da vegetação para ensaiar bons dias e encerrar as
tardes com boas noites.
O Marco Zero não anda e nem fala.
É apenas o símbolo de onde a cidade começou, no então chamado Patrimônio Três
Bocas, em 21 de agosto de 1929. “Naquela data, em nome da Companhia de Terras
Norte do Paraná, um punhado de homens aqui chegou e, com o coração cheio de
energia e confiança no futuro, de joelhos plantaram suas primeiras sementes”,
diz parte da mensagem, conforme mostram, caladas, as letras cunhadas no metal.
Nem pode, por isso, o Marco Zero
reclamar do mau estado de onde habita sozinho varando diferentes situações. Ali
bem perto o cercado ruiu em um trecho. As folhas das plantas formam um tapete
natural e enfeitam. Mas embalagens plásticas em alguns pontos, junto com outros
lixos urbanos, enfeiam.
Fora o barulho dos carros e de
obras em prédios próximos, ouve-se a sinfonia do vento regida pela mata.
Pássaros acrescentam com suas diferentes cantorias. O silêncio vem por conta da
ausência dos escolares, que deixaram de visitar o local no período da pandemia
do novo coronavírus.
É uma quase verdade. Pois às
crianças voltarão quando a doença for embora e a bem-vinda algazarra dos
pequenos com eles virá ao monumento e à vida da cidade.
Os que permanecerão calados sãos
aqueles que só entendem o Marco Zero como um símbolo de metal e concreto feito
no meio do mato. São dez candidatos a prefeito e
Quais deles sabem sobre a
história das pessoas que constroem está cidade e cujos nomes não constam, tal
qual o dos anônimos, em nenhum concreto ou metal comemorativo?
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