segunda-feira, 5 de outubro de 2020

Crônica - Sobre o medo, sob o medo...

... é assim, cabisbaixo,como se houvesse receio ou vergonha, esgueirando-se de quem vem de encontro, sofrendo desvio dos outros. Sob o céu e além do sol, o medo de erguer os olhos e se dar com o oponente, mas quem é ele, como se apresenta, xinga, arranha, chuta ou mata? E, nas esquinas, dobram as dúvidas sobre o que há de vir detrás do muro encardido, ou do capim seco e alto o bastante para esconder surpresas perigosas. E o medo, vontade de passar e ficar, vergonha de ter que voltar.

Não pise na grama seca. Faça o contorno pelo asfalto. Os carros passam, a vida também passa. O que vale mais? A grama seca na calçada, o carro correndo no asfalto ou quem desafia e se arrisca, andando em cima do medo e ao mesmo tempo coberto por ele?

Talvez alguém em busca de mais, na aventura, para olhar e, se der, tocar, pegar, usufruir, ter um pouquinho, este enfrente. Uma criança, uma mulher, um homem, um adolescente, um idoso, uma senhora com sede de enxergar além das esquinas, na linha do horizonte, no céu, nas copas das árvores.

E eis uma delas, flores lilases roubando a beleza das folhas verdes. E outra ali, com enfeites amarelos. E mesmo aquelas que negam flores agora exibem enfeites como se usassem bijuterias. São arranjos feitos pelos homens para deixar marcas de bem querer na natureza. Na verdade, penduricalhos artesanais e criativos de alguma pessoa que emprestou sua arte para a frondosa árvore.

Há outros lugares para serem vistos, mensagens para serem entendidas. Um agasalho pendurado na cerca de tela de arame diz que o inverno se foi. Outro, no pé da árvore, mostra o descaso de quem o abandonou sem fazer da precaução uma coberta protetora.

Na entrada do cemitério pessoas dão o seu adeus a quem se foi. Um amigo importante, um familiar querido, um colega de trabalho ou uma conveniência só porque alguém se foi?

É a vida! Ou a morte? Tanto uma quanto a outra à espreita, na próxima esquina, em mais um casaco abandonado na cerca, na copa de uma árvore ou sob ela, na calçada tomada pelo mato seco, nas idas e vindas de quem quer viver e sai por ai caminhando, olhando para o chão, com se tivesse medo de andar, mas com vergonha de ficar parado.


As blusas, em tempo de muito calor, penduradas na cerca de tela da praça e aos pés de uma árvore: momentaneamente inúteis

Flores lilases e flores amarelas disputam com as folhas verdes a estação do ano, Primavera de sol forte e sem chuva


A calçada é interrompida pelo capim seco, junto com lixo; o pedestre tem que vencê-la caminhando sobre o asfalto
No outro lado da mesma rua, o capim ultrapassa a cerca de tela de um terreno público com prédio desativado; sensação estranha ao passar pelo local
A dor da perda de amigos e familiares durante um velório
Não são frutas, são adornos feitos artesanalmente e pendurados à árvore em uma pracinha




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