Um cão de apartamento é um bichinho tinhoso e domina quem trata dele, fazendo-o um serviçal. Sente-se dono absoluto do lugar, late para fazer pirraça, faz sujeira onde lhe convier para chamar a atenção. Incomoda vizinhos, deixa o síndico careca de tanta reclamações, ou a síndica, se for ela, com insônia pelo mesmo motivo. Corre de um lado a outro sobre o piso laminado, sabendo que o barulho das unhas no chão tiram o sossego da mulher do andar de baixo, que trabalhou mais de 30 anos e acabou de se aposentar.
Um cão de casa com quintal é a autoridade do lugar. Rosna quando é exigido a isso, late para quem passa em frente para avisar que ali não é terra sem lei. Acata quem cuida dele, mas com jeito de pouco caso. E corre atrás dos gatos invasores do território alheio. Por isso são quase cães.
Um cão de rua, este sim é supremo e seguro. Não conhece a lei do trânsito, mas sabe quando desviar de um carro em movimento. Conhece os truques sobre quem dele se aproxima. Primeiro pára com certa distância, olha a pessoa que está diante com olhar enigmático, e não se sabe o que é: parece que está rindo, ou que está implorando um afago. Se a pessoa corresponde ele chega mais perto, porém ainda evita cheirá-la. Antes disso testa com reações: senta e deita com as as patinhas jogadas para a frente, língua de fora; coça com as patas traseiras atrás das orelhas; se estica todo, espreguiçando. Se agradou, parte para o fucinhamento, se é que está palavra existe no nosso português. Primeiro nos pés e depois nas pernas, oferecendo achego para receber de volta.
Conheci um cão de rua de belo porte, grande, pelagem marrom, bem clara, orelhas longas, duras e sempre esticadas. Andava pelas proximidades da Avenida Maringá, perto da Rua Ibiporã, aqui em Londrina, e fazia percursos diários pela mesma rota e mesmo horário. Atravessava as duas pistas da Maringá, descia a Ibiporã e chegava ao sobrado onde o morador reservava todos os dias água e comida, no quintal.
Após satisfeito o cão retornava para a rua e ia ao ponto de ônibus em frente, ver se ali havia alguém. Conhecida ou não a pessoa, ele chegava de mansinho, coçava-se no poste do ponto, e olhava quem estava ali. Se houvesse correspondência, oferecia a cabeça para um carinho. Caso contrário, olhava a pessoa com expressão de feliz e seguia, de retorno ao seu destino.
Um dia cheguei pouco antes no ponto de ônibus e conferi como ele fazia para atravessar as duas pistas da movimentada Avenida Maringá. O cão chegou e parou no semáforo, até que veio uma senhora e se postou ao lado dele, distraída. Quando os sinal abriu a mulher iniciou a travessia, com o cão ao seu lado, aproveitando a carona para atravessar.
Obs.: Isto é uma crônica, com base em observações do cotidiano. Não é e nunca se pretendeu uma abordagem científica. Portanto, não exijam referencias.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
PARTICIPE: