Francisco Carlos Ramos, o Carlinhos, chegou da roça, virou engraxate e decidiu, no supetão, seguir o ofício de barbeiro
Francisco Carlos Ramos, o Carlinhos, desde
1978 na profissão e há 27 anos no salão
do Centro Comercial, na Rua Piauí
O estabelecimento já acolheu
profissionais
tradicionais e serviu também
para o início de outros;
Rodrigo está no ofício há
três anos e meio
Walter Ogama
Como um
traçado desenhado a caneta, sem rascunho, tamanha era a certeza. Assim o
adolescente Francisco Carlos Ramos emoldurou seu projeto de vida.
Ele havia trabalhado na roça dos
nove aos 15 anos para ajudar os pais, que moravam em propriedade rural lá pelas
bandas adiante de onde hoje existe o Conjunto Cafezal, na Zona Sul de Londrina.
Só depois mudou para a cidade,
onde se tornou engraxate. Sorte que Francisco tinha um lugar fixo para
trabalhar. Ele fazia os pares de sapatos brilharem lá no Salão Elite, instalado
na Avenida São Paulo.
Com sete profissionais de barba,
cabelo e bigode, o Salão Elite repartia com o Salão Presidente, também
instalado na área central da cidade, a preferência dos homens londrinenses.
Naquele tempo o público masculino
ia à barbearia só para cortar os cabelos e aparar a barba e o bigode, quando
tinham. Ninguém imaginava um marmanjo de voz grossa fazendo as unhas das mãos
ou dos pés num salão de clientela mista igual aos de agora.
Por isso, quando o marido saia de
casa para acertar a aparência, avisava para a mulher que ia à barbearia. Elas,
antigamente, iam aos sábados nos salões frequentados só por mulheres para ajeitar
as madeixas, passar esmalte nas unhas, afinar as sobrancelhas e caprichar nos
produtos para rejuvenescer a pele do rosto.
Enquanto isso, lá no Salão Elite,
Carlinhos, entre o pano e a escova passados num sapato de couro, observava e
admirava os barbeiros fazendo a cabeça dos homens .
Eles normalmente chegavam com os
“paralamas” das orelhas cobertos de cabelos, os pelos do bigode roçando os lábios
e invadindo a boca, além da barba, de tão espessa e longa, mais “enfeiando” do
que criando um estilo na cara do sujeito.
Meia hora depois ou pouco mais,
saiam de cabeça feita e cara limpa graças ao trabalho dos profissionais da
tesoura, do pente e da navalha.
Então Carlinhos decidiu ser um
deles. De engraxate, trabalho que executou dos 15 aos 18 anos, Carlinhos se
tornaria barbeiro.
O ofício ele aprendeu no próprio
Salão Elite, por conta, olhando os profissionais trabalharem e recebendo dicas.
Por isso se disse lá atrás que “por sorte” o adolescente havia acertado no
lugar de engraxar sapatos. O Elite mostrou para Carlinhos o futuro e a
possibilidade de formação profissional.
Após a aprendizagem Carlinhos
frequentou curso de aperfeiçoamento. Com mais experiência foi trabalhar no
salão da Rua Piauí, na galeria do Edifício Centro Comercial, onde está há 27
anos.
Ali ele já trabalhou com os
profissionais Carioca, Luiz, Baiano e o Chiquinho, que já faleceu, entre
outros. Atualmente reparte o salão com Rodrigo, que está na profissão há três
anos e meio.
Carlinhos nasceu no dia 24 de
outubro de 1957, em Londrina. Está casado com Jandira há 34 anos. Tem dois
filhos, Francarli, de 31 anos, e Renan, de 26. Francarli seguiu a profissão do
pai e chegou a trabalhar certo período no salão da Rua Piauí. Atualmente está
em Portugal, onde exerce a atividade.
Carlinhos é de opinião que salão
de barba, cabelo e bigode tem que ser um lugar limpo e acolhedor, mas sem
exageros na decoração e no jeito de tratar os fregueses. Na verdade, a chamada
barbearia só tem freguês homem, diferente dos atuais conceitos de salão que
misturam homens e mulheres e ampliam a oferta de serviços oferecidos.
Pois no salão da Piauí quem entra
para acertar as aparências ainda prefere o jeito antigo de deixar os cabelos na
medida e a cara limpa.
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