Padeiro, carroceiro, cerealista, feirante, comerciante de
bar e empresário do ramo de combustível, entre outras atividades, fizeram de
Maria e Saitoko, que chegaram em meados dos anos de 1940, grandes batalhadores;
depois, lá nos anos de 1960, Maria fundou um salão de beleza, que a filha
Helena mantém até hoje e a neta Andressa encara de cabeça após deixar a área de
Direito, na qual se formou e se especializou.
Andressa e Helena ladeiam Maria: três gerações
no instituto de beleza
Aos fundos, a casa construída por Saitoku Nakana
na Rua Guaporé; a construção da frente está sendo preparada
para aumentar o instituto de beleza
No quintal vizinho, a casa que serviu de alojamento
para os trabalhadores da empresa dos Nakama
Os 136 quilômetros em
linha reta entre Londrina e a cidade paulista de Álvares Machado pareciam muito
mais naquela época em que dona Maria Tomoyoshi Nakama, com a filha Helena, de
oito meses, nos braços, e grávida do segundo filho, Fernando, viajou de lá para
cá num caminhão. O marido dela, Saitoku Nakama, decidira fazer o percurso no
lombo de um burrinho, pois havia planejado trabalhar no Norte do Paraná com a
venda de frutas e verduras.
A
carrocinha que seria puxada pelo burrinho veio de trem. Mas o animal não podia
ser transportado. Saitoku demorou três dias para chegar. É conveniente explicar
que, atualmente, de carro, rodando em rodovias convencionais, a distância entre
Londrina e Álvares Machado é de 172 quilômetros . Pisando leve o percurso pode
ser feito tranquilamente em, no máximo, três horas. Mas a viagem de Maria e
Helena no caminhão e de Saitoku no lombo do burrinho foi em 1944. Estradas
eram, quando havia um traçado feito, muito precárias.
Dona Maria
lembra que o burrinho que pertencia ao marido era teimoso, pois não havia sido
adestrado. A possibilidade de o animal empacar nas ruas de Londrina quando
Saitoku saísse para vender as frutas e as verduras levantou preocupação. Foi
então que o irmão de Maria se dispôs a trocar o burrinho adestrado que possuía
pelo burrinho teimoso que era do cunhado.
Saitoku, já
falecido, nasceu no Japão e chegou ao Brasil quando estava com 17 anos de
idade. A família se estabeleceu na região de Araraquara, no Estado de São
Paulo. Um dia Saitoku escreveu uma carta a parentes que moravam na região de
Álvares Machado. Ele queria aprender a trabalhar na construção civil, mas
resposta à carta enviada aos parentes foi categórica: que ele mudasse para
aquela cidade e aprendesse o oficio de padeiro, no qual parentes já trabalhavam.
Maria
nasceu na localidade de Prainha, na região de Santos, Estado de São Paulo, no
dia 17 de dezembro de 1924. Com 90 anos de idade, esbanja vigor e mostra-se
bastante disposta. Maria e Saitoku tiveram, além de Helena e Fernando (já falecido),
o terceiro filho, Luiz Carlos.
Em
Londrina, a primeira moradia foi numa chácara. Mas pouco tempo depois a família
adquiriu terreno na região da Vila Nova. A casa construída no local por
Saitoku, já em alvenaria, ainda se mostra impecável na Rua Guaporé, próximo a
Rua Araguaia.
Maria
sempre participou ativamente das atividades econômicas do marido. Ela lembra
que quando Saitoku vendia frutas e verduras na carrocinha puxada pelo burrinho
que o trouxe de Álvares Machado até Londrina, os fregueses saiam às ruas para
esperar a chegada do verdureiro.
Tempos
depois Saitoku e Maria tornaram-se grandes empresários do ramo de cereais e de
transporte. A sede principal da empresa ficava na Rua Guaporé, perto da
primeira casa construída por Saitoku. Devido à movimentação, além da sede
principal um outro local nas proximidades foi alugado para a empresa. Uma casa
de madeira nos fundos de onde a família morava servia de alojamento para
trabalhadores da cerealista. Dona Maria era a responsável pela alimentação dos
empregados e pelas boas condições do alojamento.
Saitoku ia
buscar arroz no Rio Grande. A cebola, que na época era vendida em réstia,
também vinha de lá. De Araraquara a empresa trazia açúcar para fornecer na
região. Do Mato Grosso vinha quirela de arroz que era fornecida para uma
cervejaria de Londrina. “Os caminhões grandes eram para trazer produtos de
fora. Os pequenos eram para fazer a praça”, relata Maria.
Saitoku
também teve banca de feira livre no centro de Londrina. Foi também dono de um
bar na Rua Quintino Bocaiúva e empresário do segmento de transporte. Por 12
anos, antes de se aposentar, foi para São Paulo onde comprou um posto de
combustível perto da Ceasa. Com a aposentadoria Saitoku e Maria retornaram a
Londrina. Ela mora hoje no Bairro Aeroporto. A casa que Saitoku construiu na
Rua Guaporé é habitada pela filha Helena e pela neta Andressa, casada com Luiz
Roberto e pais de Luiz Henrique e Luiz Guilherme.
DE MÃE PARA FILHA...
Maria e o diploma obtido em 1963
O diplona da filha Helena, de 1966
As mulheres
da família sustentam um negócio que já está na terceira geração desde que
Saitoku e Maria vieram de Álvares Machado para Londrina. Trata-se de um salão
de beleza fundado por Maria na região central da cidade. Ficava na Rua Mato
Grosso, no quarteirão em frente a uma das entradas do Shopping Royal.
Maria tem
diploma, datado de 20 de setembro de 1963, de cabeleireira. No salão dela
também funcionava uma escola de cabeleireiros. Por isso o estabelecimento era
enorme: havia 11 espelhos (bancadas).
A filha
Helena estudava piano e fazia o curso normal. Apesar de morar em Londrina ela
ia até Cambé, onde tinha aulas com o maestro Andréa Nuzzi, autor do hino da
cidade vizinha, e cursava normal na escola Gabriela Mistral.
“Ela queria
ser professora”, afirma Maria, sobre a filha. A passagem de Helena pelo salão da
mãe ocorria nos fins de semana, para uma ajuda ou outra. Nem quando Maria
adoeceu e precisou ir a São Paulo para tratamento Helena aceitou ficar com o
salão que a mãe havia montado. Maria vendeu o estabelecimento: “Vendi barato e
a prestação”.
Não demorou
muito e Helena deixou o sonho de ser professora para abrir um novo salão, na
frente da casa construída lá pelos anos de 1940 pelo pai, Saitoku. Só na
residência, que pelas contas de Maria deve ter 69 anos, a filha Helena está
morando há 62 anos. O salão Helena Yamada – Instituto de Beleza, está para
completar em breve 50 anos.
“Antes não
havia o costume das mulheres marcarem horário para ir ao salão. Como elas eram
mais assíduas nesses locais, para arrumar os cabelos até para as missas e os
cultos dos finais de semana, as mulheres iam direto nos salões e chegavam a
formar fila”, lembra Helena. “Aqui a fila chegava na Rua Guaporé”, acrescenta.
Helena, que
chegou a Londrina quando estava com oito meses de idade, nasceu na localidade
de Nova Pátria, perto de Álvares Machado, no Estado de São Paulo. Helena casou
com Emílio Yamada, que faleceu há 11 anos. O casal teve os filhos Aristóteles
(falecido), Andressa e Alexandre. São dois netos.
...E CHEGA A VEZ DA NETA
Andressa acumula certificados e
preocupa-se com a profissionalização do negócio
Andressa
Yamada Maccagnan, a filha de Helena, nasceu no dia 4 de outubro de 1976, em
Londrina. Casada com Luiz Roberto Maccagnan, é mãe de Luiz Henrique Yamada
Maccagnan e Luiz Guilherme Yamada Maccagnan.
Andressa é
formada em Direito e tem pós-graduação em Direito Empresarial. Também freqüentou
a pós-graduação de Direito Previdenciário, mas não chegou a finalizar o
processo para obtenção de certificado.
Mas
Andressa é cabeleireira. Ela trabalhou na área de sua formação. Por dez anos
foi funcionário do cartório eleitoral em Londrina. Por um ano atuou no Centro
de Atendimento à Mulher (CAM), também na área de Direito. Outros dois anos de
trabalho foram na área de assessoria em um escritório de advocacia.
A exemplo
do que ocorreu com a mãe, Helena, Andressa também ajudava no salão nos fins de
semana. Mas foi o nascimento do primeiro filho que fez Andressa largar a área
de Direito e entrar com tudo na de beleza. Luiz Henrique nasceu em 2005 e um
ano depois Andressa havia inclusive voltado a morar com a mãe, na Rua Guaporé,
junto com o marido e os filhos.
“Foi forte
a questão da flexibilidade de horário na minha decisão. Eu queria ter uma
atividade mas dispondo de condições para a minha família”, diz Andressa.
Pesaram, também, as sugestões de algumas amigas: “A Isaura Kakuno foi uma das
principais incentivadoras. Ela há tempos me dizia que eu devia me dedicar ao
Instituto de Beleza junto com a minha mãe. Também me incentivava muito a Adriana Ferreira, que é professora na Universidade Estadual de
Londrina”.
Isaura é
filha de Tsuguio Kakuno, alfaiate que foi personagem de reportagem neste blog.
“A mãe da Isaura freqüentava o salão da minha mãe. E eu sempre tive uma
admiração pela Isaura, pelo modo de ela ser, se vestir e se cuidar sempre com
muita elegância”, diz Andressa, que enfatiza, ainda: “Além desses motivos todos
a oportunidade de trabalhar com minha mãe foi muito influenciadora,
principalmente por tudo o que ela fez por mim”.
Andressa
freqüentou dezenas de cursos para estar em dia com as técnicas e as novidades
da área de beleza. Além de se dedicar ao Salão ela é executiva da Jeunesse e
mantém uma loja virtual de produtos de beleza. É também voluntária e nesta
condição ministra cursos de profissionalização na área de beleza.
Andressa diz também que dona Olga, mãe do profissional Lincoln Tramontina, a incentiva muito, principalmente para que ela focasse o salão de beleza com visão empresarial e, enfim, como um empreendimento.
A
participação de Andressa no negócio da família contribui, assim, também para a
tomada de decisões empresarias. “Com a minha mãe o salão era bem
doméstico. Hoje eu e ela trabalhamos com recursos de administração do
empreendimento, como na questão do estoque. Mas de forma alguma minha mãe
abandona a relação com a clientela, de algo próximo na beleza das pessoas. Tem
freguesas que mudaram de bairro e continuam vindo aqui”.
Conheci o estabelecimento de venda de batatas na rua Guaporé (ou Pernambuco) nos idos da década de 1950 quando eu morava na rua Amapa...
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