O casal Luiz e Bete, pais de Margarete, Ademar e Jorge
e
avós de Henrique, Fábio, Luana e outros que virão
para marcar a história com capítulos importantes
para marcar a história com capítulos importantes
Nas fotos, Bete e Luiz, diante da estante com troféus
conquistados por ele no beisebol; a praça, formosa com a sua vegetação; os
arbustos, no centro, com enormes troncos; o Santuário de Nossa Senhora
Aparecida
Bem pertinho do Santuário
Diante da
bela praça pública o homem estufa os peitos, prende a respiração e mostra ao
interlocutor a vida verde e marrom da vegetação que, sem radicalismo e soberba,
predomina suave sobre o cimento ao redor. Verde das folhas e marrom dos galhos
e dos troncos. Concreto armado para cobrir e solo, esconder a terra, dar
passagem as pessoas por trilhas sem poeira ou barro.
O homem se
chama Tsuguio Sato. Descendente de japoneses, ele não tem no registro de
nascimento um nome em português. Mas mereceu um de batismo, Luiz. “Quando
cheguei aqui as árvores, aquelas que estão no lado da praça, tinham os troncos
da grossura de um dedo”, conta Luiz. No meio do cenário, real, há arbustos de
troncos da grossura que um homem só não consegue abraçar.
A chegada
foi em 1968, dois anos depois de Luiz ter trocado o município de Sertaneja, na
região de Cornélio Procópio, por Londrina. Em1966 Luiz veio morar na Rua
Paranapanema, na Grande Vila Nova, em Londrina. Grande, porque a Vila Nova
reúne incontáveis comunidades denominadas de vilas ou jardins.
Luiz estava
casado desde 8 de dezembro de 1962 com Yoshico, que também não tem nome
português no registro de nascimento mas ganhou um de batismo, Bete. Ele nasceu
no Distrito de Motuca, lá no Município de Araraquara, em São Paulo. Foi no dia
10 de maio de 1936. Ela é paranaense. O casal tem três filhos, Margarete,
Ademar e Jorge. São três netos, Henrique, Fábio e Luana. O filho mais novo,
Jorge, nasceu na casa em frente à praça da Rua Grajaú, na Vila Nova, quase
vizinha ao Santuário de Nossa Senhora Aparecida.
Os Sato
chegaram de São Paulo à região de Cornélio Procópio lá pelos anos de 1940. A
família havia comprado mata virgem em Sertaneja, onde foi feita a derrubada e o
plantio do café. A geada de 1955 foi desanimadora, mas os cafeicultores da
região insistiram com a cultura. Cerca de cinco anos depois outra geada, tão
forte como a de 55, causou mais prejuízos. Mas foi mesmo a de 1975 que tirou
muita gente das lavouras, segundo lembra Luiz. Em 1955, quando ocorreu a
primeira geada nos cafeeiros da família, Luiz estava no Exército, servindo no Boqueirão,
em Curitiba.
Quando veio
casado com Bete para Londrina, o casal morou de aluguel na casa da Rua
Paranapanema. A mudança para a moradia da Rua Grajaú, dois anos depois, foi
também com contrato de aluguel. Mas tempos depois o proprietário ofereceu a
casa para venda e Luiz fechou o negócio. Era uma moradia de madeira, que com o
passar dos anos recebeu melhorias em
alvenaria. Chegou, enfim, um ponto em que Luiz e Bete decidiram derrubar tudo
que havia para erguer a casa que eles tanto queriam no lugar.
Juntos desde o grupo escolar
Bete e Luiz
completam este ano, no dia 8 de dezembro, 53 anos de casados. Ambos contam que
há três anos, nas Bodas de Ouro, decidiram eliminar os festejos comemorativos e
viajaram para conhecer o Nordeste brasileiro. “O dinheiro que ia ser usado na
festa nós doamos para a Igreja e para outros necessitados”, dizem Bete e Luiz.
O amor de
ambos foi resultado de uma convivência. Bete e Luiz estudaram na mesma escola
municipal de Sertaneja. Depois, na adolescência e na juventude, ambos
continuaram amigos ainda em Sertaneja participando da Associação dos Moços e da
Associação das Moças do clube japonês da cidade.
Luiz e Bete
fazem questão de informar que naquele dezembro de 1962 ambos selaram a união
conjugal com uma prática que era rara entre os membros da comunidade japonesa.
Além do casamento no civil, que é praxe, Luiz e Bete também casaram no
religioso, na Igreja Católica de Sertaneja.
Quase seis décadas de beisebol
Luiz nem
sabia como jogar beisebol quando chegou ao Norte do Paraná em fins dos anos de
1940. Mas, tempos depois, em 1953, graças ao convívio com os membros do clube
japonês de Sertaneja, começou a treinar um esporte que só largou quase 60 anos
passados, lá por volta de 2010.
Nesse
período colecionou medalhas e troféus, inclusive em competições internacionais.
Também foi árbitro de beisebol, atividade que lhe rendeu um troféu que só ele e
outro londrinense, Hiroshi Nagano, receberam da Associação de Árbitros.
Uma das
participações de Luiz como atleta em eventos mundiais foi no México, no ano de
1994. Na estante da sala da casa da Rua Grajaú, parte dos prêmios de Luiz podem
ser vistos. Mas a esposa Bete diz que há muito mais pela casa, inclusive
encaixotados.
Difícil falar da praça de ontem e de hoje
Comparar a
praça do passado com a de agora, nas palavras de Luiz, é difícil. “Mudou
bastante”. Na beira da Rua Grajaú uma fileira de árvores foram arrancadas, para
a construção de uma área de estacionamento de carros. “Quando mudei para cá a
praça era florida”, diz.
Havia
também zelador e zeladora, além de guarda 24 horas. O tanque de peixe tinha
carpas ornamentais. Nos tempos das quermesses, quando Roberto Carlos, Jerry
Adriani, Wanderley Cardoso e Wanderleia disputavam a preferência dos ouvintes
das rádios AMs e já se ouvia Elvis e Beatles, mesmo com certa timidez, os moços
ficavam postados em pontos estratégicos da praça, de braços cruzados, cinturão
largo, calça Saint tropez e boca de sino, as moças passavam pelos corredores
formados pelos rapazes.
Daquele
movimento, conhecido como footing, alguns namoros resultaram em casamentos. As
igrejas da Vila Nova e do Jardim Shangri-la se revezavam nas quermesses,
normalmente nos meses frios do meio do ano. Quando terminava a “grandiosa
quermesse da Vila Nova” começava na semana seguinte a “grandioso quermesse da
Paróquia Rainha dos Apóstolos”.
Havia muito
frango assado e batata frita, servidos num clima de namorico com os bilhete
trocados no sistema que a rapaziada chamada de correio elegante. A festa na
praça acontece, agora, uma vez por ano, em 12 de outubro, data da padroeira.
Nossa Senhora Aparecida é homenageada em um mosaico de concreto levantado ao
lado de onde existia o tanque de peixes ornamentais e a cascata também
desativada. Nele é possível observar os dois pescadores ajoelhados, a imagem de
Nossa Senhora e alguns peixes.
Luiz acha
que o policiamento mais constante amenizaria a onda de vandalismo e de
presenças estranhas em alguns horários na praça. Uma vez por semana os idosos
se reúnem de manhã para ginástica no local. A academia ao ar livre, instalada
há pouco mais de um ano, tem frequência da vizinhança em alguns horários.
Quantas vezes Luiz se muniu de líquido e pano para apagar as pixações no local?
Em
determinados horários, moradores de rua usam a plataforma em frente ao mosaico
de Nossa Senhora Aparecida para dormir.
Nas fotos acima, as pedras sobre o local onde havia um tanque
com peixes ornamentais; as escadas formavam uma
cascata; no mosaico, os pescadores que encontraram a imagem
de Nossa Senhora Aparecida e alguns peixes; em alguns horários do dia, a praça é ocupada por moradores de rua
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