Pedacinho da Vila Nova logo abaixo da Rua Araguaia
sediou
partidas de competições amadoras e treinos de atletas
da escolas japonesa; hoje
só resta um terreno vazio
na quadra do antigo campo
Walter, Denise, Daysi e Mary, filhos de Dairoku e
Luiza
e outrora moradores da Rua Juruá, 181, numa casa velha
de tábuas e
janelas de taramelas. Os quatro posam no quintal,
em frente à cerca de madeira
que separa o terreno
do vizinho, tintureiro
Meninos faziam oito de bicicletas quando não havia rodadas
Quarto e quinto quarteirões à esquerda, para quem desce a Rua Araguaia, na Vila
Nova, em Londrina, a partir da Avenida Rio Branco. Ali estão, respectivamente,
as ruas Juruá e Javari. Ambas são curtas, cortadas por duas transversais, a
Turiaçu e a Solimões. Nos dois casos, os três quarteirões que formam a Juruá e
a Javari ligam duas grandes vias que cortam a Vila Nova de Leste a Oeste, ou,
para quem preferir, de Oeste a Leste: a Rua Araguaia e a Rua Tietê. Só que a
Araguaia é mais curta. Ela existe da Rio Branco a Guaporé, enquanto a Tietê
segue além, atravessando a mesma Guaporé e depois a Bahia, em seguida a São
Vicente e muito mais, lá para diante.
Naquele fechadinho cercado pela Juruá, Javari, Turiaçu e Solimões existiu um
campo de futebol, que o pessoal do bairro e de outras localidades chamava de
União. Naquele tempo só a Araguaia era calçada com paralelepípedos. O resto era
terra, inclusive a Tietê, conhecida como bananal. Nem meio fio existia. Os
quintais eram cercados com balaústres. Em muitas das cercas o maracujá doce
dava flores cheirosas e depois frutos saborosos que as donas de casas cortavam
com facões e davam para as crianças chuparem com colherzinhas. Alguns usavam os
dedos mesmos.
O campo de futebol tinha grama só na banda da Rua Javari. Acima, beirando a Rua
Juruá, era um terrão. Alguns adolescentes cujos pais tinham carros, o que era
rara naqueles tempos, aproveitavam os finais de semana para dirigir no campo.
Meninos que tinham bicicletas brincavam fazendo um oito ali. Outros usavam o
local para formar times e disputar partidas. Quando o tamanho das equipes era
pequeno, as traves feitas de troncos roliços eram desprezadas e valia como gol
as marcações de tijolos.
Em épocas de temporadas o Campo do União era usado para partidas válidas por
torneios oficiais. Vinham times de diferentes bairros, trazendo jogadores de
bicicletas, carroças ou caminhões. Como não havia alambrado, vestiários,
chuveiros ou outras melhorias, os jogadores e o trio de arbitragem usavam o
espaço entre as cercas de madeira e as marcas de pneus das ruas para se trocar.
Alguns craques demoravam horas fixando as tornozeleiras com longas faixas.
Algumas equipes traziam torcidas formadas por esposas, namoradas, filhos e
vizinhos. Havia jogos nos sábados e nos domingos e os times usavam uniformes
invejados pelos meninos do bairro. Sorveteiros, pipoqueiros e vendedores de
amendoim tiravam o dia por ali. Também havia carrinhos de vendedores de
laranjas, com aqueles descascadores presos na borda fazendo tiras compridas com
as cascas. Em jogos de decisão apareciam os retratistas, que tiravam fotos dos
times e de jogadores que encomendavam os monóculos onde se punham os negativos
para ver os fotografados.
Entre a Solimões e a Tietê, também pegando a Juruá e a Javari, existia um meio
campo, que era usado por jogadores de beisebol do Nihon Gako (escola japonesa).
O estabelecimento funcionava na esquina da Tietê com a Jaguaribe, em barracão
de madeira que depois virou o Serviço de Obras Sociais (SOS). Havia final de
semana de coincidir o futebol no Campo do União e o treino do beisebol no meio
campo ao lado. A escola japonesa também usava o meio campo para festas de
confraternizações e o undokai, realizado anualmente, com provas esportivas
envolvendo pais e alunos.
Também naquelas ruas as fábricas de doce eram prósperas. Na Juruá existia
a fábrica de pipoca doce dos Kussano e a fábrica de pirulitos do Seu
Valdemar. Aliás, o barracão de alvenaria desta última agora é sedia reunião de
um grupo de idosos. Na Javari existia a fábrica de amendoim doce e salgado e de
paçoca e doce de leite do Seu Iwamoto.
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