quarta-feira, 29 de julho de 2015

REPORTAGEM – Futebol num campo e beisebol no outro


Pedacinho da Vila Nova logo abaixo da Rua Araguaia
sediou partidas de competições amadoras e treinos de atletas
da escolas japonesa; hoje só resta um terreno vazio
na quadra do antigo campo




Walter, Denise, Daysi e Mary, filhos de Dairoku e Luiza
e outrora moradores da Rua Juruá, 181, numa casa velha
de tábuas e janelas de taramelas. Os quatro posam no quintal,
em frente à cerca de madeira que separa o terreno
do vizinho, tintureiro

Meninos faziam oito de bicicletas quando não havia rodadas

            Quarto e quinto quarteirões à esquerda, para quem desce a Rua Araguaia, na Vila Nova, em Londrina, a partir da Avenida Rio Branco. Ali estão, respectivamente, as ruas Juruá e Javari. Ambas são curtas, cortadas por duas transversais, a Turiaçu e a Solimões. Nos dois casos, os três quarteirões que formam a Juruá e a Javari ligam duas grandes vias que cortam a Vila Nova de Leste a Oeste, ou, para quem preferir, de Oeste a Leste: a Rua Araguaia e a Rua Tietê. Só que a Araguaia é mais curta. Ela existe da Rio Branco a Guaporé, enquanto a Tietê segue além, atravessando a mesma Guaporé e depois a Bahia, em seguida a São Vicente e muito mais, lá para diante.
            Naquele fechadinho cercado pela Juruá, Javari, Turiaçu e Solimões existiu um campo de futebol, que o pessoal do bairro e de outras localidades chamava de União. Naquele tempo só a Araguaia era calçada com paralelepípedos. O resto era terra, inclusive a Tietê, conhecida como bananal. Nem meio fio existia. Os quintais eram cercados com balaústres. Em muitas das cercas o maracujá doce dava flores cheirosas e depois frutos saborosos que as donas de casas cortavam com facões e davam para as crianças chuparem com colherzinhas. Alguns usavam os dedos mesmos.
            O campo de futebol tinha grama só na banda da Rua Javari. Acima, beirando a Rua Juruá, era um terrão. Alguns adolescentes cujos pais tinham carros, o que era rara naqueles tempos, aproveitavam os finais de semana para dirigir no campo. Meninos que tinham bicicletas brincavam fazendo um oito ali. Outros usavam o local para formar times e disputar partidas. Quando o tamanho das equipes era pequeno, as traves feitas de troncos roliços eram desprezadas e valia como gol as marcações de tijolos.
            Em épocas de temporadas o Campo do União era usado para partidas válidas por torneios oficiais. Vinham times de diferentes bairros, trazendo jogadores de bicicletas, carroças ou caminhões. Como não havia alambrado, vestiários, chuveiros ou outras melhorias, os jogadores e o trio de arbitragem usavam o espaço entre as cercas de madeira e as marcas de pneus das ruas para se trocar. Alguns craques demoravam horas fixando as tornozeleiras com longas faixas.
            Algumas equipes traziam torcidas formadas por esposas, namoradas, filhos e vizinhos. Havia jogos nos sábados e nos domingos e os times usavam uniformes invejados pelos meninos do bairro. Sorveteiros, pipoqueiros e vendedores de amendoim tiravam o dia por ali. Também havia carrinhos de vendedores de laranjas, com aqueles descascadores presos na borda fazendo tiras compridas com as cascas. Em jogos de decisão apareciam os retratistas, que tiravam fotos dos times e de jogadores que encomendavam os monóculos onde se punham os negativos para ver os fotografados.
            Entre a Solimões e a Tietê, também pegando a Juruá e a Javari, existia um meio campo, que era usado por jogadores de beisebol do Nihon Gako (escola japonesa). O estabelecimento funcionava na esquina da Tietê com a Jaguaribe, em barracão de madeira que depois virou o Serviço de Obras Sociais (SOS). Havia final de semana de coincidir o futebol no Campo do União e o treino do beisebol no meio campo ao lado. A escola japonesa também usava o meio campo para festas de confraternizações e o undokai, realizado anualmente, com provas esportivas envolvendo pais e alunos.
            Também naquelas ruas as fábricas de doce eram prósperas. Na Juruá existia a  fábrica de pipoca doce dos Kussano e a fábrica de pirulitos do Seu Valdemar. Aliás, o barracão de alvenaria desta última agora é sedia reunião de um grupo de idosos. Na Javari existia a fábrica de amendoim doce e salgado e de paçoca e doce de leite do Seu Iwamoto. 


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