quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Crônica - Na moita


É assim mesmo. Nunca ele conjugou o verbo defecar porque não assume as fezes que deixa por onde passa. Ainda criança nos braços da mãe o chorão era um encanto. Comadres invejosas diziam que aquilo era um anjo. Cara rechonchuda e vermelha, dobras salientes nas pernas, meio vesgo, braços mais compridos que os dos normais, imagina-se que aquelas mulheres gargalhavam por dentro. A feiúra ardia nos olhos de quem via.

O pai, menos sentimental, desconfiava que algo estava errado. Certa ouviu-se dele, naqueles momentos em que o sujeito desesperado fala sozinho, indagações do tipo, será que minha mulher me traiu com um lobisomem? Espalhado o registro, a boataria tomou conta das redondezas. Na mercearia, único estabelecimento num raio de alguns quilômetros percorríveis em quarenta minutos de bicicleta, já tratavam de investigar quem seria o monstro. E as suspeitas caiam sobre os mais feios. Nunca alguém desconfiou dos de comportamento estranho.

Mas não foi com a aparência abominável que o menino tornou-se referência do local. A má fama veio com o rastro de fezes que ele deixava. Como dizia o Juca, ajudante da mercearia, o moleque caga pra falar, caga pra rir, caga pra estudar, caga pra chorar e caga pra respirar. É um cagão de natureza.

Fora as cagadas o menino ia bem. Nos estudos, sacaneava colegas e professores e se dava como inteligente. Nas brincadeiras, tinha preferência pelas maldosas. Já adolescente e com ralas moitas de pentelhos avermelhados coçando ao redor, nunca ia ao máximo. Mexia, estimulava e na hora de colocar o ponto final se mandava. Para os colegas dizia que fazia aquilo para fazer a mulher sofrer. Mas a turma tinha outra versão: o bimbo nunca subia acima da diagonal. Ficava sempre cabisbaixo. Portanto, não havia como escrever com uma caneta torta e sem tinta.

Ainda jovem o rapaz se meteu na política. Como líder sem liderados, além de defecar se aperfeiçoou nas maldades. Virou um cara de bastidor. Articulava, armava, puxava tapetes, enganava, mentia e para comemorar vitórias soltava pum. Tanto pela boca quanto por baixo. De ambos os orifícios aquilo fedia igual uma dúzia de ratos mortos apodrecendo no galpão. Para os que moram em condomínios verticais, algo parecido com ratos mortos secando no fosso do elevador.

Aliás, um especialista. Especialista em enganação. Tanto que foi eleito. Ficou quatro anos sem fazer nada e foi reeleito. Continua sem fazer nada. E pelo visto vai longe, pois já tem planos para as futuras cagadas. O eslogam da próxima campanha está pronto: O único que fica na moita e caga!


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