É assim mesmo. Nunca ele conjugou o verbo defecar porque não
assume as fezes que deixa por onde passa. Ainda criança nos braços da mãe o
chorão era um encanto. Comadres invejosas diziam que aquilo era um anjo. Cara
rechonchuda e vermelha, dobras salientes nas pernas, meio vesgo, braços mais
compridos que os dos normais, imagina-se que aquelas mulheres gargalhavam por
dentro. A feiúra ardia nos olhos de quem via.
O pai, menos sentimental, desconfiava que algo estava
errado. Certa ouviu-se dele, naqueles momentos em que o sujeito desesperado
fala sozinho, indagações do tipo, será que minha mulher me traiu com um
lobisomem? Espalhado o registro, a boataria tomou conta das redondezas. Na
mercearia, único estabelecimento num raio de alguns quilômetros percorríveis em
quarenta minutos de bicicleta, já tratavam de investigar quem seria o monstro. E
as suspeitas caiam sobre os mais feios. Nunca alguém desconfiou dos de
comportamento estranho.
Mas não foi com a aparência abominável que o menino
tornou-se referência do local. A má fama veio com o rastro de fezes que ele
deixava. Como dizia o Juca, ajudante da mercearia, o moleque caga pra falar,
caga pra rir, caga pra estudar, caga pra chorar e caga pra respirar. É um cagão
de natureza.
Fora as cagadas o menino ia bem. Nos estudos, sacaneava
colegas e professores e se dava como inteligente. Nas brincadeiras, tinha
preferência pelas maldosas. Já adolescente e com ralas moitas de pentelhos
avermelhados coçando ao redor, nunca ia ao máximo. Mexia, estimulava e na hora
de colocar o ponto final se mandava. Para os colegas dizia que fazia aquilo
para fazer a mulher sofrer. Mas a turma tinha outra versão: o bimbo nunca subia
acima da diagonal. Ficava sempre cabisbaixo. Portanto, não havia como escrever
com uma caneta torta e sem tinta.
Ainda jovem o rapaz se meteu na política. Como líder sem
liderados, além de defecar se aperfeiçoou nas maldades. Virou um cara de
bastidor. Articulava, armava, puxava tapetes, enganava, mentia e para comemorar
vitórias soltava pum. Tanto pela boca quanto por baixo. De ambos os orifícios
aquilo fedia igual uma dúzia de ratos mortos apodrecendo no galpão. Para os que
moram em condomínios verticais, algo parecido com ratos mortos secando no fosso
do elevador.
Aliás, um especialista. Especialista em enganação. Tanto que
foi eleito. Ficou quatro anos sem fazer nada e foi reeleito. Continua sem fazer
nada. E pelo visto vai longe, pois já tem planos para as futuras cagadas. O
eslogam da próxima campanha está pronto: O único que fica na moita e caga!
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