A entrada da quarta-feira de cinzas acaba este ano com uma
folia, a do carnaval. A maioria dos brasileiros entende-a como um momento.
Chegou, festou, terminou. E no ano que vem haverá mais. Trabalhadores que levam
nas costas o país, estes brasileiros assumem seus papéis na imensa linha de
produção que toca a economia brasileira.
E mesmo que temporariamente inativos, por culpa do
desemprego, consomem, pagam tributos, financiam os diferentes níveis do poder público
e pagam os salários de vereadores, prefeitos, deputados estaduais,
governadores, deputados federais, senadores, ministros, secretários estaduais e
primeiros escalões municipais, além do grande contingente de colegas
trabalhadores, que são os servidores públicos. Financiam também o judiciário,
as entidades sindicais e até mesmo organizações empresariais que vivem sob a
tutela do Estado, este que é mantido com o dinheiro do contribuinte.
A quarta-feira de cinzas, enfim, encerra um período de
direito à fantasia. Não tanto aquela das roupas que se vestem. É mais do sonho
de ser pierrô e conquistar a sua colombina. Ou da colombina que ousa mais e se
declara ao pierrô. E como no Brasil o julgamento é pelo avesso, cabe a quem faz
o país funcionar uma inconsciente culpa: agora começamos a trabalhar.
Mentira. Os que se fantasiaram de seus desejos, mesmo que
este fosse simples, como sair descompromissado atrás de um bloco ou trio elétrico,
trabalham o ano todo, antes e depois do carnaval. E se o calendário de feriados
é esticado a culpa não é deles. De todo o período trabalhado de um ano, os
trabalhadores assumem, por cerca de cinco meses, o papel de contribuintes. Os
levantamentos dos institutos sérios não mentem: cinco dos doze meses de
trabalho são para pagar impostos.
Para estes acabou a folia do carnaval. Então os holofotes
que raramente dão close nos integrantes da força produtiva brasileira são
direcionados aos oportunistas. Políticos, aproveitadores, bandidos e outras
coisas mais prosseguem com um carnaval diferente, de roubalheira, injustiça e
nem um pingo de vergonha. A fantasia é a cara de pau. A passarela são os
bastidores, os cantos obscuros do país, os locais que um cidadão comum não freqüenta.
O prêmio por esta folia, infelizmente, ainda é a impunidade.
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