Tem certo charme, é verdade. Contagia ao telefone, encanta
pessoalmente e depois de tudo isso atormenta, principalmente quando a outra
parte mergulha no abismo da solidão e rebusca fragmentos.
Quantos estilhaços! Tiros de raspão, joelhos arranhados e a
disritmia provocada por sufocos. Beatriz incomoda. Tento acreditar que seus
gestos são espontâneos, sua voz é natural, seus passos são iguais aos de tantas
outras mulheres que vão e vem.
É fácil fugir quando se sabe que o caminho de volta é
transponível, com ou sem chuva. Já me imaginei no fundo de um poço, sem forças
para subir. E quem oferece socorro é ela. Vejo-a lá em cima, agachada na borda,
estendendo-me a mão.
Numa das escapadas ao canto da memória reservado às
impossibilidades, confiei e voltei quebrado. Beatriz não suportou o meu peso e
deixou minha mão escorregar quando eu quase podia tocar o rosto dela.
Só depois de refeito do susto e ajuntado os cacos cobrei de
mim mesmo se aquela queda foi acidente. Mãos escorregadias, no extremo de
situações de acolhida, seguram pelo menos intenções. E ali não houve, que eu me
lembre, nem tentativa de aliviar a queda.
Então quando fugi outra vez fui prudente. O mesmo poço e eu
lá no fundo, esperando ajuda. Ela chegou e eu recusei suas mãos. Beatriz foi
embora e eu pus os pés no chão descrente na chance de haver compatibilidade
entre nós.
E cá estou. Às vezes Beatriz insinua, assim eu penso. Mas
acordo e assumo que ela só provoca. É demonstração de força manifestada por uma
mensagem sentimental bastante clara: eu te desprezo porque te domino.
Vai ver ela tem razão. Mas a obsessão de me ver cair
quebrado, para depois espiar os pedaços que ajunto, não deixa de ser um domínio
que eu exerço sobre ela. Beatriz quer me ver aos seus joelhos e isso a
escraviza.
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