terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Em Branco - O direito da revolta


Bateram no meu carro na noite de segunda, 3 de dezembro. Um rapaz de 18 anos, com carteira de habilitação provisória, foi à faculdade com o carro da mãe. Na volta, avançou na preferencial e pegou o meu Peugeot de cheia. O menino justificou que havia feito duas provas difíceis e estava nervoso. Chamados pelo filho, os pais vieram desesperados: “Não chame a Polícia de Trânsito. A gente acerta isso aqui mesmo. Senão o meu filho perde a carteira de motorista”.

Eu não havia feito duas provas difíceis na faculdade. Sai para levar meu filho à rodoviária. Mas tive um dia profissional de incertezas: “Como será o meu amanhã? Terei emprego? Vou ser avaliado pela minha capacidade profissional ou há outros fatores que pesam na escolha de quem fica e de quem vai embora da empresa?”

Questões tão ou mais difíceis do que as provas do curso de física do rapaz. Mas não sai avançando preferenciais e colocando alheios em risco. Não causei prejuízos à sociedade. Não fui em nenhum momento injusto com ninguém. Jamais me queixei aos pais do menino que eu havia tido mais um dia difícil e por isso me descuidei e não vi o filho deles invadindo a preferencial de uma rua movimentada.

O meu carro é financiado em 60 meses. Comprei-o zero quilômetro, dando de entrada um outro carro e pagando quatro ou cinco vezes mais pelo restante em longas prestações. Já quitei 18 parcelas. Restam 42. Mesmo que o seguro dos culpados conserte o meu carro, que está com oito mil quilômetros rodado, terei a partir de agora um veículo que me custa muito caro por ser batido. Na hora da troca, a concessionária vai rebaixar o preço em cerca de 60%: “O seu carro está pouco rodado, mas está batido. Fizeram um bom serviço de reparo, mas comprometeu toda a frente do carro e também a parte frontal das laterais”. É isso que vão dizer.

Apego? Disse um padre que a gente peca por ter apego às coisas materiais. Não é bem assim, Senhor. Tenho cuidado com as minhas coisas porque elas me custam dias de trabalho. Seja um carro ou seja um relógio. Se risco o vidro do meu Seculus, que é uma segunda linha de marcas tradicionais, fico atormentado. Não é pelo relógio riscado. É porque eu sei quanto o relógio me custou. E não estou falando do custo financeiro. Falo do custo da decisão de comprar um relógio. Às vezes imagino que se eu não comprasse o tal relógio poderia, com o dinheiro gasto nele, ajudar a minha irmã que passa por dificuldades.

E quanto ao menino! Quem deixou alguém que coloca o nervosismo de duas provas difíceis no volante de um carro ter carteira de habilitação? Os pais? Os instrutores de auto-escola? O profissional que aplicou nele o teste psicológico? O Código de Trânsito? Nervosinhos deviam, após causar prejuízos a outros, lavar pratos nas cadeias. Assim ficariam calminhos.


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