Bateram no meu carro na noite de segunda, 3 de
dezembro. Um rapaz de 18 anos, com carteira de habilitação provisória, foi à
faculdade com o carro da mãe. Na volta, avançou na preferencial e pegou o meu
Peugeot de cheia. O menino justificou que havia feito duas provas difíceis e
estava nervoso. Chamados pelo filho, os pais vieram desesperados: “Não chame a
Polícia de Trânsito. A gente acerta isso aqui mesmo. Senão o meu filho perde a
carteira de motorista”.
Eu não havia feito duas provas difíceis na
faculdade. Sai para levar meu filho à rodoviária. Mas tive um dia profissional
de incertezas: “Como será o meu amanhã? Terei emprego? Vou ser avaliado pela
minha capacidade profissional ou há outros fatores que pesam na escolha de quem
fica e de quem vai embora da empresa?”
Questões tão ou mais difíceis do que as provas do
curso de física do rapaz. Mas não sai avançando preferenciais e colocando
alheios em risco. Não causei prejuízos à sociedade. Não fui em nenhum momento
injusto com ninguém. Jamais me queixei aos pais do menino que eu havia tido
mais um dia difícil e por isso me descuidei e não vi o filho deles invadindo a
preferencial de uma rua movimentada.
O meu carro é financiado em 60 meses. Comprei-o zero
quilômetro, dando de entrada um outro carro e pagando quatro ou cinco vezes
mais pelo restante em longas prestações. Já quitei 18 parcelas. Restam 42.
Mesmo que o seguro dos culpados conserte o meu carro, que está com oito mil
quilômetros rodado, terei a partir de agora um veículo que me custa muito caro
por ser batido. Na hora da troca, a concessionária vai rebaixar o preço em
cerca de 60%: “O seu carro está pouco rodado, mas está batido. Fizeram um bom
serviço de reparo, mas comprometeu toda a frente do carro e também a parte
frontal das laterais”. É isso que vão dizer.
Apego? Disse um padre que a gente peca por ter apego
às coisas materiais. Não é bem assim, Senhor. Tenho cuidado com as minhas
coisas porque elas me custam dias de trabalho. Seja um carro ou seja um
relógio. Se risco o vidro do meu Seculus, que é uma segunda linha de marcas tradicionais,
fico atormentado. Não é pelo relógio riscado. É porque eu sei quanto o relógio
me custou. E não estou falando do custo financeiro. Falo do custo da decisão de
comprar um relógio. Às vezes imagino que se eu não comprasse o tal relógio
poderia, com o dinheiro gasto nele, ajudar a minha irmã que passa por
dificuldades.
E quanto ao menino! Quem deixou alguém que coloca o
nervosismo de duas provas difíceis no volante de um carro ter carteira de
habilitação? Os pais? Os instrutores de auto-escola? O profissional que aplicou
nele o teste psicológico? O Código de Trânsito? Nervosinhos deviam, após causar
prejuízos a outros, lavar pratos nas cadeias. Assim ficariam calminhos.
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