Desceu de uma árvore de copa enorme fazendo sombra
quase no quintal inteiro. É manga rosa, propícia a carregar até vergar galho na
véspera do Natal.
Fruta que se come com a mão suja. Desvira a camiseta
para não manchar. Põe ela do avesso. Dispensa a faca, ninguém vai usar. É no
dente que se tira a casca. Se for de outro jeito não tem graça.
São miúdas, duas não bastam. Melhor separar três ou
quatro, se for o caso pega até cinco. Tem sobrando, é só subir no pé. Lá na
ponta é que estão as mais graúdas.
Nem liga para os fiapos. Na hora de chupar a manga
eles incomodam. Dá gastura, mas tem uns que soltam sozinhos. Outros é só
disfarçar e catar com as pontas dos dedos. Só repara nisso quem é bobo. Chupar
manga rosa não pode ter luxo.
Abundância é pouca se tem desperdício. Só joga
caroço seco, sem sobra de calda e com pelos brancos. Num canto qualquer do
terreno, isso não é sujeira e quem sabe a terra devolve com planta germinando.
Deixa passarinho bicar frutas das ponteiras, é
próprio deles, coisa da natureza, e a manga rosa dá para todos. Pega lá um saco
de mercado, apanha um tanto e reparte com a vizinha. Chama ela pela cerca, pois
do lado de lá caem frutos rachados e sem gosto.
Manga rosa é para lambuzar canto da boca. Mas
menino, nada de limpar com manga de camisa a lambuzeira da manga rosa. Senão
faz sujeira na roupa e vão te dar faca e garfo para comer fruto catado na
árvore do quintal.
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