quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Conto - Manga rosa


Desceu de uma árvore de copa enorme fazendo sombra quase no quintal inteiro. É manga rosa, propícia a carregar até vergar galho na véspera do Natal.

Fruta que se come com a mão suja. Desvira a camiseta para não manchar. Põe ela do avesso. Dispensa a faca, ninguém vai usar. É no dente que se tira a casca. Se for de outro jeito não tem graça.

São miúdas, duas não bastam. Melhor separar três ou quatro, se for o caso pega até cinco. Tem sobrando, é só subir no pé. Lá na ponta é que estão as mais graúdas.

Nem liga para os fiapos. Na hora de chupar a manga eles incomodam. Dá gastura, mas tem uns que soltam sozinhos. Outros é só disfarçar e catar com as pontas dos dedos. Só repara nisso quem é bobo. Chupar manga rosa não pode ter luxo.

Abundância é pouca se tem desperdício. Só joga caroço seco, sem sobra de calda e com pelos brancos. Num canto qualquer do terreno, isso não é sujeira e quem sabe a terra devolve com planta germinando.

Deixa passarinho bicar frutas das ponteiras, é próprio deles, coisa da natureza, e a manga rosa dá para todos. Pega lá um saco de mercado, apanha um tanto e reparte com a vizinha. Chama ela pela cerca, pois do lado de lá caem frutos rachados e sem gosto.

Manga rosa é para lambuzar canto da boca. Mas menino, nada de limpar com manga de camisa a lambuzeira da manga rosa. Senão faz sujeira na roupa e vão te dar faca e garfo para comer fruto catado na árvore do quintal.


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