sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Crônica - Tem pai Noel, outros nem tanto


Esse cara tá tirando uma! Esgueira-se pelas calçadas das ruas comerciais feito um coelho e some. Comentam, sem dados concretos, que ele foge de alguém ou de alguma coisa. Não se sabe o que.

Ontem ele obrigou um grupo de conhecidos a fazer três travessias doidas na avenida, fora da faixa de pedestres. Esbarraram em carros parados no sinal vermelho, entornaram sorvetes de crianças, derramaram pipocas de aposentados e um, na correria, deu de cara com um poste. Formou um vergão na testa do tamanho que nem curativo de farmácia cobre.

E cadê o cara? A última vez que o viram foi na dobra da esquina dois quarteirões adiante, depois de um subidão. Isso sob um calor de trinta e cinco graus embaixo da marquise da loja de confecções. No sol devia estar uns quarenta e tantos.

Estranho o comportamento do cara. Ele sempre foi chegado. Tanto que uns diziam ele ser intrometido por aparecer de supetão em lugares onde não era convidado e entrar em conversas cujo conteúdo não convinha a um penetra.

E nem era para se enturmar que o cara se metia a besta infiltrado em grupos que o preferiam longe. Era para aproveitar a saideira e beber pela décima-sétima vez o último copo de cerveja. O cara nunca enfiava a mão no bolso na hora de fechar a conta. De fininho se colocava lá longe, encarando a tela do aparelho de tevê como se estivesse prestando atenção no noticiário.

Todo bar de noitada tem televisão, mas nem sempre a dita está ligada, principalmente quando as portas já estão fechadas. É um aviso do dono aos fregueses: Vamos embora, gente. Mesmo assim o cara ficava diante dela, de costas para o grupo, com o olhar fixo no nada.

E agora fugia dos conhecidos! Ficou rico e chato? Mudou de religião? Fosse político que se candidatou nas eleições passadas e poderia se imaginar: o cara andou fazendo promessas e não tem como cumprir. Calote financeiro ela não dá em ninguém, pois ninguém empresta a ele.

Tem a história da pensão. Quatro anos atrás ele foi preso três vezes, duas por não depositar na Justiça o que devia à ex-mulher e uma por ter desacatado o oficial de justiça que foi lhe entregar a notificação. Mas hoje em dia a ex-mulher nem denuncia. Ela desistiu e não foi por pena do cara. Foi por achar que ele é um caso perdido.

E lá vai ele! Olha só a roupa que usa! O cara está de Papai Noel! Corre senão ele some. Capaz de se enfiar no meio da multidão e escapar por uma galeria. É um Papai Noel magro, de roupa desajeitada e a barba cobrindo do pescoço para baixo. É que o barbante que prendia os pelos artificiais se desprendeu da orelha direita. E a barba caiu do queixo para o pescoço.

Alguém o cerque pela outra saída. Três ficam a postos na porta dos sanitários. Dois garantem a entrada da choperia. O cara está aprontando e é preciso tirar a limpo. Alguma coisa aconteceu, essa mudança não é à toa.

A correria e a tática para pegar o sujeito duraram por quatro galerias comerciais. Lá longe ele foi rendido por culpa de um sorveteiro. O ambulante não percebeu o cara e cortou a frente dele com o carrinho de picolés. Foi um tombo!

E os conhecidos pegaram o fujão. Acuado, ele justificou que sentia vergonha de ser Papai Noel de uma loja de confecções infantis. Tem sentido. O cara nunca se deu ao filho que teve com a ex. O menino hoje deve estar com uns dezessete e se vir o pai de Noel vai mais ironizar do que odiar. 

Assim é a vida, cara!


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