Deu chuva de manga pouco antes do almoço. Foi um
quase nada. Os pingos sapecaram a calçada, feito tapa ligeiro que nem arde.
Muito aquém do prenúncio que rompeu manhã e seguiu até a hora da prévia de
pancada. Nem camisa molhou e mulher de escova no cabelo pouco importou com a
leve molhadeira. Fazer o que se o liso virou cacho? Melhor isso do que torneira
seca, poeira muita e receio de ficar sem banho.
Alguém abençou a chuva em ato prematuro. Mal
pronunciou a última palavra e ela se foi. Devia ter esperado que formasse, pelo
menos, uma corredeira na beira da calçada. Que nada. Apressou-se e secou a água
escondida dentro das nuvens. Enxutas, as nuvens se dissiparam e deram ao sol
todo o espaço do céu.
E bateu a claridade nos lugares onde o opaco anunciava
tempo propício a precipitações. No telhado das casas, nas copas das árvores, no
concreto da edificação, na alvenaria das casas, no aço dos caminhões, na lata
dos automóveis, no asfalto das ruas e na madeira da mesa da varanda aos fundos.
Ela batia nas superfícies e iluminava não somente as
imperfeições. Clareava também a fumaça subindo e esquentando. Parecia fervura
de fazer vapor no rosto, a ponto de descer suor sem parar das raízes dos cabelos
às costas. Camisa de cor escura ficou com mancha úmida. Em rostos femininos a
maquiagem virou borrão. Um sorveteiro empurrou carrinho vazio subida acima para
buscar mais picolé e abastecer freguesia.
O calor também levou a marca do termômetro para mais
de trinta. Nem pássaro voou com aquele tempo. Fez o ancião buscar apoio no
tronco do arbusto e foi por fadiga, viu-se nos olhos dele. Obrigou menino a
deixar a brincadeira de rua, na calçada em frente de casa, para sentir frio na
sala condicionada. Secou garrafa de água e fez sobrar café na xícara do bar
adiante. Encheu de preguiça pessoas que almoçaram possibilidade de chuva e
retornaram ao trabalho molhados de tanto sol quente.
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