sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Crônica - Roupa molhada, cara borrada


Deu chuva de manga pouco antes do almoço. Foi um quase nada. Os pingos sapecaram a calçada, feito tapa ligeiro que nem arde. Muito aquém do prenúncio que rompeu manhã e seguiu até a hora da prévia de pancada. Nem camisa molhou e mulher de escova no cabelo pouco importou com a leve molhadeira. Fazer o que se o liso virou cacho? Melhor isso do que torneira seca, poeira muita e receio de ficar sem banho.

Alguém abençou a chuva em ato prematuro. Mal pronunciou a última palavra e ela se foi. Devia ter esperado que formasse, pelo menos, uma corredeira na beira da calçada. Que nada. Apressou-se e secou a água escondida dentro das nuvens. Enxutas, as nuvens se dissiparam e deram ao sol todo o espaço do céu.

E bateu a claridade nos lugares onde o opaco anunciava tempo propício a precipitações. No telhado das casas, nas copas das árvores, no concreto da edificação, na alvenaria das casas, no aço dos caminhões, na lata dos automóveis, no asfalto das ruas e na madeira da mesa da varanda aos fundos.

Ela batia nas superfícies e iluminava não somente as imperfeições. Clareava também a fumaça subindo e esquentando. Parecia fervura de fazer vapor no rosto, a ponto de descer suor sem parar das raízes dos cabelos às costas. Camisa de cor escura ficou com mancha úmida. Em rostos femininos a maquiagem virou borrão. Um sorveteiro empurrou carrinho vazio subida acima para buscar mais picolé e abastecer freguesia.

O calor também levou a marca do termômetro para mais de trinta. Nem pássaro voou com aquele tempo. Fez o ancião buscar apoio no tronco do arbusto e foi por fadiga, viu-se nos olhos dele. Obrigou menino a deixar a brincadeira de rua, na calçada em frente de casa, para sentir frio na sala condicionada. Secou garrafa de água e fez sobrar café na xícara do bar adiante. Encheu de preguiça pessoas que almoçaram possibilidade de chuva e retornaram ao trabalho molhados de tanto sol quente.


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