terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Conto - Brinquedos


As formigas em fila indiana são escolares indo. O percurso é longo e há obstáculos: pedras e grama formam colinas e matagais. São dois passos compridos até chegar ao fim do trajeto. E deste lado a visão é outra. As formigas chegam. São soldados marchando pela floresta até o obrigo cavado na terra.

É possível observá-las dos lados. Daqui são carregadoras de plantas enormes a caminho de um jardim. De lá são personagens de um filme na cena de uma retirada. Há ainda a visão de cima. Ficam as possibilidades esgotadas para o que se vê das diagonais. As versões escasseiam na medida em que as formigas levam, sem parar, picotes de folhas verdes para um lugar.

Onde e para que são perguntas que não se fazem. A brincadeira é imaginar um enredo e os brinquedos são as formigas. Buscar causas e justificativas escapa do passatempo e vira estudo. A hora é de ver que as formigas vão ou vem, andam para a direita ou esquerda, levam pedacinhos de folhas para lá ou para cá. E inventar que são pessoas ordeiras fazendo um caminho.

Hoje são elas, ontem foram as borboletas tão raras agora neste canto do jardim. Outrara vinham de monte e com asas de cores variadas. Traziam estampas que lembravam desenhos rabiscados com giz de cera numa folha de caderno velho. Quanto menor a inspiração mais perto de uma razão o rascunhado ficava.

Amanhã haverá outra idéia e quem sabe os passarinhos serão aviões. As britas que cercam as plantas e formam um enfeite circular podem ser ilhas ou tanques de peixes no centro de uma praça perto da igreja. Bancos são improvisados com gravetos. A margarida é o girassol. E o cão que ladra distante faz de conta que é o besouro, logo ali, andando mole por causa do sol.

Sonho que se tem lá em cima, no prédio de apartamentos residenciais. Embaixo passa o asfalto, daqui para lá, de lá para cá. Indo e vindo, com carros correndo sem levar folhas picotadas. Ajeitar a gravata e acertar os punhos toma tempo. Já é tarde, hora de sair para trabalhar. A nostalgia fica na quina do sofá, esperando outro dia de sonhos após o almoço. A vida lá embaixo é outra. Como dói ter que acordar.


Nenhum comentário:

Postar um comentário

PARTICIPE: