terça-feira, 6 de novembro de 2012

Conto - Roupa limpa


A máquina deixa sabão no pano do lençol mesmo com três enxágues. Sarah prefere o tanque de louça instalado na área de serviço. É pequeno, quase metade dos de cimento que ficavam na varanda dos fundos. Algumas peças a mais e a água transborda. O ralo, no pé da parede azulejada, serve para isso. E depois um pano torcido por duas ou mais vezes permite a secura confortável do ambiente.

A camisa branca tem marca na gola. É suor misturado ao pó. Uma escova passada branda sobre o ponto resolve e evita que o encardido pegue. Mas sem tanta força, senão danifica o tecido. O bolso merece atenção. No lado de dentro, bem rente à costura, a sujeira se acumula. Sarah é detalhosa e nunca deixa de virar o bolso do avesso para eliminar os resíduos. A escovinha menor é mais adequada. Em alguns casos carece de uma escova de dente pequena e macia. Assim ela tem certeza que tudo o que era para ser lavado ficou limpo.

E as calças jeans, quanto trabalho. Se ainda novas o azul forte disfarça. Na meia vida é bom usar só uma vez. Repetir dá impressão ruim. O leve marrom do pó do ambiente acentua no desbotado quando o sol bate. E vão pensar que a peça não vê água faz tempo. As barras, muito cuidado. São ali que pegam no chão quando o calçado é baixo. Tem que virar do avesso e esfregar com vontade. Demora, mas o sujo vai. Fica uma dobra marcada, mas dá sensação de limpeza.

Meias manchadas no calcanhar entediam na hora de lavar. Antes usavam as sociais, de cores escuras e pano fino. Agora, brancas e de algodão, tomam mais tempo no tanque do que as cobertas e as toalhas de banho. Este par é impressão que foi usado vários dias. Ou o tênis está sujo por dentro. É tanto sabão que dói a ponta dos dedos. Se encardir não há jeito, melhor trocar por outro e acertar a limpeza do calçado.

A máquina faz tudo. Basta ligar, programar e esperar. Ensaboa, deixa de molho, enxagua e centrifuga. Uma, duas ou três vezes. Sarah duvida. No tanque de louça ela esfrega até sair a mancha de massa de tomate do branco da camiseta. E depois, no enxague, espera escorrer água límpida para depois torcer. Não sobra sujeira e sabão.

Tem ainda na lavagem de Sarah uma poção sem cheiro, cor e forma. É o amor que Sarah tem pelas pessoas que usam as roupas que esfrega. As peças penduradas no varal dão impressão de limpeza da alma. 


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