A máquina deixa sabão no pano do lençol mesmo com
três enxágues. Sarah prefere o tanque de louça instalado na área de serviço. É
pequeno, quase metade dos de cimento que ficavam na varanda dos fundos. Algumas
peças a mais e a água transborda. O ralo, no pé da parede azulejada, serve para
isso. E depois um pano torcido por duas ou mais vezes permite a secura
confortável do ambiente.
A camisa branca tem marca na gola. É suor misturado
ao pó. Uma escova passada branda sobre o ponto resolve e evita que o encardido
pegue. Mas sem tanta força, senão danifica o tecido. O bolso merece atenção. No
lado de dentro, bem rente à costura, a sujeira se acumula. Sarah é detalhosa e
nunca deixa de virar o bolso do avesso para eliminar os resíduos. A escovinha
menor é mais adequada. Em alguns casos carece de uma escova de dente pequena e
macia. Assim ela tem certeza que tudo o que era para ser lavado ficou limpo.
E as calças jeans, quanto trabalho. Se ainda novas o
azul forte disfarça. Na meia vida é bom usar só uma vez. Repetir dá impressão
ruim. O leve marrom do pó do ambiente acentua no desbotado quando o sol bate. E
vão pensar que a peça não vê água faz tempo. As barras, muito cuidado. São ali
que pegam no chão quando o calçado é baixo. Tem que virar do avesso e esfregar
com vontade. Demora, mas o sujo vai. Fica uma dobra marcada, mas dá sensação de
limpeza.
Meias manchadas no calcanhar entediam na hora de
lavar. Antes usavam as sociais, de cores escuras e pano fino. Agora, brancas e
de algodão, tomam mais tempo no tanque do que as cobertas e as toalhas de
banho. Este par é impressão que foi usado vários dias. Ou o tênis está sujo por
dentro. É tanto sabão que dói a ponta dos dedos. Se encardir não há jeito,
melhor trocar por outro e acertar a limpeza do calçado.
A máquina faz tudo. Basta ligar, programar e
esperar. Ensaboa, deixa de molho, enxagua e centrifuga. Uma, duas ou três
vezes. Sarah duvida. No tanque de louça ela esfrega até sair a mancha de massa
de tomate do branco da camiseta. E depois, no enxague, espera escorrer água
límpida para depois torcer. Não sobra sujeira e sabão.
Tem ainda na
lavagem de Sarah uma poção sem cheiro, cor e forma. É o amor que Sarah tem
pelas pessoas que usam as roupas que esfrega. As peças penduradas no varal dão
impressão de limpeza da alma.
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