quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Conto - Incertezas


Está para acontecer. É previsível na expressão das pessoas. Mistura ansiedade, aperto profundo no coração, esperança, medo, otimismo e sufoco na garganta. Tem gente que espera melhora. Há quem aposte no pior. Expectativas, enfim, são balaios colocados nas portas das lojas para vender de pasta de dentes a inseticidas. E neste caso até fatias de melancia entram nas promoções.

Olhos esbugalhados sob franjas desarrumadas nas testas dividem espaço com o mirar distante de um ponto que nem existe. Ninguém está presente no agora neste tempo de aguardo. Cabeças, troncos e membros, eretos ou arcados, permanecem em seus postos. Mas o pensamento vai longe. Quando o corpo anda os passos são desconcertados.

É como olhar de cima o vento empurrando o trigo ainda na lavoura. A mutidão vai e volta. Sem ensaios, os braços formam uma estranha coreografia e desenham um quadro sem nexo. Cores variadas mudam de um ponto a outro e fazem um mesclado incessante e cansativo.

Ir e ficar são as opções. Não há terceiras possibilidades e a certeza de que o que está vindo não tarde aumenta em cada um a procura de um horizonte que permita sensação de segurança. Pelo menos isso.

Os rostos se viram de lá para cá. Exceções à parte, nem meia dúzia ou sessenta olham para trás. Que sejam seiscentos ou seis mil, a proporção é a mesma: o medo do passado pode ser tanto quanto o do presente e o do futuro. Ou a esperança deixada para trás é impossível de resgate.

Projetos encalhados, planos incompletos, possibilidades adiadas e contas a pagar enchem e transbordam o cofre que cada um tem dentro de si. Tiroteios nas ruas, desemprego, mentiras, roubos, promessas não cumpridas e injustiças colocam a mutidão em dúvida. E ela está para chegar. Como virá o amanhã?


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