Está para acontecer. É previsível na expressão das
pessoas. Mistura ansiedade, aperto profundo no coração, esperança, medo,
otimismo e sufoco na garganta. Tem gente que espera melhora. Há quem aposte no
pior. Expectativas, enfim, são balaios colocados nas portas das lojas para
vender de pasta de dentes a inseticidas. E neste caso até fatias de melancia
entram nas promoções.
Olhos esbugalhados sob franjas desarrumadas nas
testas dividem espaço com o mirar distante de um ponto que nem existe. Ninguém
está presente no agora neste tempo de aguardo. Cabeças, troncos e membros,
eretos ou arcados, permanecem em seus postos. Mas o pensamento vai longe.
Quando o corpo anda os passos são desconcertados.
É como olhar de cima o vento empurrando o trigo
ainda na lavoura. A mutidão vai e volta. Sem ensaios, os braços formam uma
estranha coreografia e desenham um quadro sem nexo. Cores variadas mudam de um
ponto a outro e fazem um mesclado incessante e cansativo.
Ir e ficar são as opções. Não há terceiras
possibilidades e a certeza de que o que está vindo não tarde aumenta em cada um
a procura de um horizonte que permita sensação de segurança. Pelo menos isso.
Os rostos se viram de lá para cá. Exceções à parte,
nem meia dúzia ou sessenta olham para trás. Que sejam seiscentos ou seis mil, a
proporção é a mesma: o medo do passado pode ser tanto quanto o do presente e o
do futuro. Ou a esperança deixada para trás é impossível de resgate.
Projetos encalhados, planos incompletos, possibilidades
adiadas e contas a pagar enchem e transbordam o cofre que cada um tem dentro de
si. Tiroteios nas ruas, desemprego, mentiras, roubos, promessas não cumpridas e
injustiças colocam a mutidão em dúvida. E ela está para chegar. Como virá o
amanhã?
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