Novembro me acorda em seu quase meio, dia dezenove,
com uma mensagem aberta. Pode ser tudo ou nada. Pode ser muito: “Saudades...”
É assim, nas reticências, que eu tento ler o seu
sentimento. De que tamanho seria a minha ausência em você? Com quais elementos
a sua saudade de mim é feita?
Novembro é tempo de baixas. Faz alguns anos e
rompemos ali, num dia qualquer do penúltimo mês do ano. Eu com os meus pecados
e você com suas incertezas. Ambos inseguros nos colocamos à deriva no mar
agitado de uma relação sem porto para atracar.
Desde então todas as tentativas foram vãs. Quantas
promessas e juras desperdiçamos desde então. Nunca, porém, chegamos a cobrar
pelo que não foi feito. Na verdade, nos cutucamos com o que fizemos um com o
outro. Ou, na medida exata, um contra o outro.
Ainda sinto o peso dos seus soluços na hora em que
nos despedimos. Foi um choro que eu não sabia que você pudesse chorar. Não
foram as lágrimas que me nocautearam, pois água minando dos olhos já havíamos experimentado
até nos momentos de felicidade.
O que me vergou foi o arfar do seu peito. O seu
choro vinha lá de dentro e a cada respiração cortada o soluço rompia a quietude
de um silêncio feito por alguém que nada tinha a dizer.
As chances de novas promessas haviam chegado ao
ralo. Eu sabia que a única receita para aliviar a sua dor era dizer que
ficaríamos juntos, que a despedida era um equívoco. E tentaríamos dar
atracadouro seguro ao nosso porto, este tão frágil tapume colocado sobre as
águas do nosso amor.
Sabia, mas não disse. Deixei você chorar mesmo
sentindo que o seu choro doía em mim e sabendo que essa dor, em você, era muito
maior. Faz tanto tempo...
“Saudades...” É assim que você me pune hoje em dia.
Agora, nas suas reticências, leio apenas a mensagem da pessoa que diz que um
dia foi bom, pois fosse ruim não haveria saudade.
E aqui, de tão longe e sem ter como atravessar as
tempestades que nos separam, eu desperto com o peito dolorido ao perceber em
mim o seu choro de tempos atrás pedindo que eu ficasse.
Eu fui e você apagou o mapa do caminho de volta. O
castigo que me impõe é acenar que a possibilidade é uma rota impossível e a
solidão é a tortura extraída das lembranças. Não há mais choro. Só resta a
certeza de que tudo acabou.
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