O pacote de arroz cinco quilos, de marca mediana,
saia por menos de sete reais há duas semanas. Hoje a mais barata custa dez e
alguns quebrados. O óleo de soja, na promoção, podia ser comprado por dois e
setenta. Não há mais por menos de três. E assim acontece com todo o resto:
feijão, massa de tomate, açúcar, papel higiênico, sabão em pó, detergente,
pasta de dente, sabonete, cotonete, fralda, cebola de cabeça, tomate, prego,
parafuso, serrote, grão de bico, carne de boi, martelo e coisas necessárias.
Alguém falou lá em casa: comprar só os produtos que
não tiveram os preços elevados após as eleições de sete de outubro. Sábado, num
supermercado, havia lâmpadas flurescentes por cinco e noventa e nove. Uma
pechincha. A vizinha precisava de apenas uma, mas comprou dez. O problema foi
na hora de fazer o almoço. Lâmpada clareia. Porém não faz salada e nem cozido.
Lâmpada ilumina, entretanto não limpa a parede e nem lava a roupa.
A Quitéria, do sétima andar, revelou uma estratégia
interessante. Ela peregrina pelas segundas, terças, quartas, quintas e sextas
verdes, eventos adotados pelos estabelecimentos para desovar produtos
encalhados. Outro dia achou a dúzia de ovos tamanho médio por dois e vinte e
nove. Realmente, um achado interessante. Na concorrência o preço estava
tabelado em dois e noventa e nove.
Comprou oito dúzias. E perdeu cerca de seis quilos,
tamanha é a distância que percorre atrás de preços baixos. Além disso, na casa
dela a família entrou no regime de alimento único, de resultado surpreendente
de acordo com as revistas de variedades e também conforme o Jô Soares. Reparem
que ele perdeu alguns gramas. É ovo cozido como prato principal, ovo frito como
acompanhamento, ovo mexido como substância e vitamina de ovo como aperitivo.
Três agregados marcaram consultas para o mês que vem. Suspeitam que o
colesterol subiu.
Difícil está para Alfredo, aposentado da casa ao
lado. Quando a banana tinha preço de banana ele consumia uma dúzia por dia. Agora,
exceto nas desovas, quando a fruta já está mole, o fulano não tem fundos para
bancar nem seis delas por dia. Então ele busca laranjas. Aquelas moles de tanto
tempo de exposição acha-se até por sessenta e nove o quilo. Algumas tem mais
casca do que suco dentro. Outras estão secas. Mas é possível comer, e não
chupar, pelo menos cinco por dia.
Carne suína só se for paleta. Aquele negocião
redondo, cortado com serra de açougue, às vezes custa apenas cinco e noventa e
nove o quilo. O sabor é igual um isopor esquentado na água quente. Mas
aproveitem que o vidrinho de molho de pimenta, de marca para gente menos
exigente e mais pobre, ainda está compatível. Outro dia tinha um supermercado
vendendo por um e setenta e nove. Daí chegou o dono de uma mercearia e levou
tudo. Vai colocar no seu estabelecimento por três e oitenta e sete.
Tudo isso porque fulano ganhou e sicrano perdeu nas
eleições municipais. Pelo menos foi isso que disseram no terminal urbano. Há
versões mais convincentes. Como a de que o arroz sobe porque a chuva foi pouca
ou muito. Ou porque ventou da esquerda para a direita quando devia ser da
direita para a esquerda. Ou porque os pingos caíram de pé e não na diagonal. Vejam
como a ideologia está até nesta parte.
Sorte que está todo mundo ganhando muito bem. Sim,
isso é fato, pois ninguém tem reclamado de nada. Os preços sobem, a inflação
quando dá alta é com saltinhos inexpressivos, o mensalão continua condenando e
Londrina prossegue sem prefeito. O que está no cargo experimenta o poder. Os
dois que disputam a sucessão, pelo que mostraram até agora, pouco ou nada sabem
sobre o que a cidade precisa.
É um texto sem lógica e sem sentido. Mas o que,
neste início de semana, dá um rumo neste país pelo menos agora? Então vamos
entrar na dança e dançar. Pelo menos até a gente colocar as partes do cérebro
no lugar certo e ver o que é possível fazer para que a coerência e as verdades
possam nos respaldar. Isso tem muita urgência, caramba!
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