segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Crônica - Sem lógica e sem sentido


O pacote de arroz cinco quilos, de marca mediana, saia por menos de sete reais há duas semanas. Hoje a mais barata custa dez e alguns quebrados. O óleo de soja, na promoção, podia ser comprado por dois e setenta. Não há mais por menos de três. E assim acontece com todo o resto: feijão, massa de tomate, açúcar, papel higiênico, sabão em pó, detergente, pasta de dente, sabonete, cotonete, fralda, cebola de cabeça, tomate, prego, parafuso, serrote, grão de bico, carne de boi, martelo e coisas necessárias.

Alguém falou lá em casa: comprar só os produtos que não tiveram os preços elevados após as eleições de sete de outubro. Sábado, num supermercado, havia lâmpadas flurescentes por cinco e noventa e nove. Uma pechincha. A vizinha precisava de apenas uma, mas comprou dez. O problema foi na hora de fazer o almoço. Lâmpada clareia. Porém não faz salada e nem cozido. Lâmpada ilumina, entretanto não limpa a parede e nem lava a roupa.

A Quitéria, do sétima andar, revelou uma estratégia interessante. Ela peregrina pelas segundas, terças, quartas, quintas e sextas verdes, eventos adotados pelos estabelecimentos para desovar produtos encalhados. Outro dia achou a dúzia de ovos tamanho médio por dois e vinte e nove. Realmente, um achado interessante. Na concorrência o preço estava tabelado em dois e noventa e nove.

Comprou oito dúzias. E perdeu cerca de seis quilos, tamanha é a distância que percorre atrás de preços baixos. Além disso, na casa dela a família entrou no regime de alimento único, de resultado surpreendente de acordo com as revistas de variedades e também conforme o Jô Soares. Reparem que ele perdeu alguns gramas. É ovo cozido como prato principal, ovo frito como acompanhamento, ovo mexido como substância e vitamina de ovo como aperitivo. Três agregados marcaram consultas para o mês que vem. Suspeitam que o colesterol subiu.

Difícil está para Alfredo, aposentado da casa ao lado. Quando a banana tinha preço de banana ele consumia uma dúzia por dia. Agora, exceto nas desovas, quando a fruta já está mole, o fulano não tem fundos para bancar nem seis delas por dia. Então ele busca laranjas. Aquelas moles de tanto tempo de exposição acha-se até por sessenta e nove o quilo. Algumas tem mais casca do que suco dentro. Outras estão secas. Mas é possível comer, e não chupar, pelo menos cinco por dia.

Carne suína só se for paleta. Aquele negocião redondo, cortado com serra de açougue, às vezes custa apenas cinco e noventa e nove o quilo. O sabor é igual um isopor esquentado na água quente. Mas aproveitem que o vidrinho de molho de pimenta, de marca para gente menos exigente e mais pobre, ainda está compatível. Outro dia tinha um supermercado vendendo por um e setenta e nove. Daí chegou o dono de uma mercearia e levou tudo. Vai colocar no seu estabelecimento por três e oitenta e sete.

Tudo isso porque fulano ganhou e sicrano perdeu nas eleições municipais. Pelo menos foi isso que disseram no terminal urbano. Há versões mais convincentes. Como a de que o arroz sobe porque a chuva foi pouca ou muito. Ou porque ventou da esquerda para a direita quando devia ser da direita para a esquerda. Ou porque os pingos caíram de pé e não na diagonal. Vejam como a ideologia está até nesta parte.

Sorte que está todo mundo ganhando muito bem. Sim, isso é fato, pois ninguém tem reclamado de nada. Os preços sobem, a inflação quando dá alta é com saltinhos inexpressivos, o mensalão continua condenando e Londrina prossegue sem prefeito. O que está no cargo experimenta o poder. Os dois que disputam a sucessão, pelo que mostraram até agora, pouco ou nada sabem sobre o que a cidade precisa.

É um texto sem lógica e sem sentido. Mas o que, neste início de semana, dá um rumo neste país pelo menos agora? Então vamos entrar na dança e dançar. Pelo menos até a gente colocar as partes do cérebro no lugar certo e ver o que é possível fazer para que a coerência e as verdades possam nos respaldar. Isso tem muita urgência, caramba!


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