sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Crônica - Minha chuva e minha fé


Teve uma chuva matreira na manhã de hoje. Veio para abençoar. Começou brincalhona na tarde de quinta. Forte, invadiu o sol mas deixou espaço para seus raios perfurarem o fim do dia nublado. Assim se misturou. Soberana por ter conseguido se dizer presente sem abusar do domínio.

Engrossou e abrandou no tempo certo. Depois, chegada a hora dos trabalhadores retornarem para suas casas após cumprida a jornada pela vida, sobrevida e adiante, a chuva se recolheu. À noite, quase no anúncio do rodízio com a madrugada, ela voltou. Persistiu por horas seguidas. Lavou, refrescou, levou para longe o cheiro da poeira.

Ainda no começo desta sexta ela prosseguiu. Camarada, convidativa e ciente de estar agradando. Uma chuva que permitiu sair sem proteção. Se molhou foi para o bem. Gotas que amansaram os cabelos revoltados dos homens. Gotas que nem foram repudiadas por mulheres de cabelos feitos. Gotas pedidas por meninos e meninas.

A chuva trouxe um doze de outubro de temperatura equilibrada. Nem calor, nem frio. E testemunhou emoções de pessoas em meio aos burburinhos das rezas e das orações. A chuva foi parceira e solidária de quem chorou por fé. Foram rostos de olhos de lágrimas e de gotas caídas do céu.

Lembrei que ainda sou criança apesar do avançado da idade. Que ainda choro quando sinto necessidade de chorar. Que sou humano. Lembrei de outras crianças com a minha idade: minha esposa, meus três filhos, minha nora e meus dois netos, estes ainda crianças na idade. Lembrei de minhas irmãs, crianças mais velhas que eu. Lembrei de meu pai, de infância que desconheço mas imagino difícil. Lembrei de minha mãe, dona Luiza, criança até na missão de ser mãe.

Lembrei de Nossa Senhora Aparecida. Vi comigo mesmo a imagem dela e juro, enxerguei sob o manto o rosto de minha mãe. Tive um dia feliz, pois sou criança nos braços daquelas que me abençoam. A chuva chorou no meu rosto feito lágrimas de contentamento. 


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