quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Crônica - Rezas, simpatias e requerimentos


Nada de chuva! Mãe Jandira acende uma vela por dia desde a semana passada. Exigente, ela pede a São Pedro que a água caia em doses de receita médica. Daquele jeito que faz lembrar os bons tempos dos quintais verdes de grama, capim e plantas ornamentais e das ruas sem asfalto dos bairros da periferia. Sem relâmpagos e vento forte. Maneira, mas de molhar a roupa e escorrer os cabelos.

São tantos os assédios ao santo. Duas vezes por semana o pessoal da roça organiza procissão. Logo após o almoço, sob sol queimando e com a barriga cheia. Vai sempre na frente a dona Judite, manipulando o inseparável rosário. Na medida em que ela dedilha puxa cânticos e orações que ganham distância e atraem vizinhos.

Jandira é prima de Judite. Ambas nasceram na mesma comunidade rural. Só estão separadas por força do casamento. Judite casou com um vizinho. Jandira fez namoro com um rapaz da cidade e com ele ajuntou trapos, intenções e local de moradia. Ambas tem fé. Estão certas que o santo, horas dessas, manda uma chuva bendita para molhar o chão e descansar o corpo. Não há ser humano que aguente este calor por tanto tempo.

No parentesco tem o Manuel. Este acredita em simpatia. Já colocou a imagem de Santo Antônio de cabeça para baixo no sol quente. E nada. Então mudou a imagem de Santo Antônio de lugar. Nem um pingo. Ontem ele fez uma cruz de cinza no quintal. Só ventou e esparramou tudo. Hoje cedo ele foi a pé a cidade com o guarda-chuva aberto. Passou vergonha. Agora à tarde ele pensa se é prudente fazer a simpatia do sapo com a barriga para cima dentro de casa. A família não concorda.

Co-cunhado também é parente. Se é assim é dever incluir o Alfredo nesta história. Ele é vereador. Na sessão de segunda-feira Alfredo fez a sua parte. Propôs o encaminhamento de requerimento aos santos da chuva para que mandem água. A proposição foi aprovada por unanimidade.

Então, quem sabe?


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