Nada de chuva! Mãe Jandira acende uma vela por dia desde
a semana passada. Exigente, ela pede a São Pedro que a água caia em doses de
receita médica. Daquele jeito que faz lembrar os bons tempos dos quintais
verdes de grama, capim e plantas ornamentais e das ruas sem asfalto dos bairros
da periferia. Sem relâmpagos e vento forte. Maneira, mas de molhar a roupa e
escorrer os cabelos.
São tantos os assédios ao santo. Duas vezes por
semana o pessoal da roça organiza procissão. Logo após o almoço, sob sol
queimando e com a barriga cheia. Vai sempre na frente a dona Judite,
manipulando o inseparável rosário. Na medida em que ela dedilha puxa cânticos e
orações que ganham distância e atraem vizinhos.
Jandira é prima de Judite. Ambas nasceram na mesma
comunidade rural. Só estão separadas por força do casamento. Judite casou com
um vizinho. Jandira fez namoro com um rapaz da cidade e com ele ajuntou trapos,
intenções e local de moradia. Ambas tem fé. Estão certas que o santo, horas
dessas, manda uma chuva bendita para molhar o chão e descansar o corpo. Não há
ser humano que aguente este calor por tanto tempo.
No parentesco tem o Manuel. Este acredita em
simpatia. Já colocou a imagem de Santo Antônio de cabeça para baixo no sol
quente. E nada. Então mudou a imagem de Santo Antônio de lugar. Nem um pingo.
Ontem ele fez uma cruz de cinza no quintal. Só ventou e esparramou tudo. Hoje
cedo ele foi a pé a cidade com o guarda-chuva aberto. Passou vergonha. Agora à
tarde ele pensa se é prudente fazer a simpatia do sapo com a barriga para cima
dentro de casa. A família não concorda.
Co-cunhado também é parente. Se é assim é dever
incluir o Alfredo nesta história. Ele é vereador. Na sessão de segunda-feira
Alfredo fez a sua parte. Propôs o encaminhamento de requerimento aos santos da
chuva para que mandem água. A proposição foi aprovada por unanimidade.
Então, quem sabe?
Nenhum comentário:
Postar um comentário
PARTICIPE: