Foi uma longa conversa! Falamos praticamente de
tudo. Da reforma do apartamento, do calor insuportável, das atividades
profissionais, das correrias rotineiras e das preocupações constantes com isso
ou aquilo. Praticamente de tudo, é bom reforçar.
Certo. A troca de piso vai te custar tanto. A
pintura ainda depende da escolha da cor e eu declino da necessidade de
contratar um profissional para decidir. É você quem vai ocupar aquele cantinho
do planeta para dormir, comer, banhar-se e fazer outras coisas numa pequena
parcela do seu dia, pois o restante estará fora.
Então economize. Mande um branco ou uma tinta de
tonalidade clara. Se enjoar contrate uma turma de educação infantil. Em uma
semana suas paredes estarão tomadas de desenhos de flores, borboletas,
passarinhos, luas, estrelas e árvores. Lá em cima, perto do gesso, haverá um
sol, único, pintado de laranja. De quem será a obra de arte? Provavelmente a professora
subiu na mesa para produzi-la.
E o parecer, pelo que percebo, está rascunhado. Não
abuse e nem abra mão dos termos técnicos. Isso vai parar nas mãos de
especialistas mais preocupados com a exatidão técnica do que com o conteúdo. Por
favor, não despreze as vírgulas. A falta de algumas muda o sentido da frase.
Cuidado com o tratamento. Excelência será sempre
excelência. Professor que é doutor exige ser chamado de professor-doutor.
Enfim, escreva difícil, de forma que só você e os seus colegas de profissão
saibam o que está escrito. Nunca opine e nem dê a entender. Seja direta.
No mais, sinto que exceto queixas triviais nada
corre anormal. O calor do qual você se queixa eu também sinto. Sim, pode chover
aqui. E onde você se encontra, há possibilidade de temporal. Então o clima é
tão imprevisível para você quanto para mim.
Os filhos vão
bem também. Idem novamente. Por aqui está na mesma situação. Tem sido corrido
sim. Acordar cedo, sair para lá, voltar para cá, retornar para algum lugar e
vai-se o dia. O que não se faz para sobreviver?
Então vamos trabalhar. Abração forte e beijos! Você
desliga, eu confiro na tela do celular. Mais uma vez deixamos passar.
Continuamos sem saber por que nos falamos tanto de coisas que nos afligem e
esquecemos dos sentimentos.
Há tempos não nos declaramos e isso é sintomático.
Pode ser que ainda haja um respingo de amor, mas a paixão, pelo nosso conteúdo,
passou por nós e está longe. Sei disso. Não consigo dizer que te amo sem ter a
sensação de que estou repetindo palavras decoradas.
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