Dois londrinenses passaram a madrugada de domingo
para segunda-feira, dia 29 de outubro, acordados. Um porque perdeu e outro
porque ganhou. Mas este,vitorioso, por
enquanto nem tem o que comemorar.
O derrotado se belisca desde a divulgação oficial do
resultado do segundo turno das eleições municipais. Ele, que se considerava
vitorioso, ainda se pergunta: O que aconteceu? O passado esburacado do titio
fez diferença?
O ganhador está assustado: O que vou fazer agora?
Credo, vou ter mesmo que lidar com o povão? Eu, particularmente, preferia ficar
com os meus bois e as minhas vacas...
Ironias de dois destinos e, na rabeira, preocupação
para mais de quinhentas mil pessoas. Na verdade, tanto fazia um ou outro ser o
ganhador assim como tanto faz outro ou um ser o perdedor. As preocupações da
população londrinense seriam as mesmas.
Aliás, são na mesma medida e na mesma proporção. A
cabeça coça e na pele frágil do sovaco as feridas estouram. Podia ser
diferente? De forma alguma. Desde o primeiro turno o eleitor desta cidade se
viu encurralado diante de tantos nomes inexpressivos querendo ser autoridade.
Seis, no total, repetiram promessas vencidas e
contaram vantagens que só os apaixonados por eles se convenceram. Ajuntadas as propostas de cada um, Londrina
teria, na segurança pública, um módulo policial em cada esquina. Nada mais do
que isso.
É assumir o equívoco dizer que os dois menos piores
ficaram para o segundo turno. Lula, nas suas verborragias, até diria: “Menas
mal”.
Restaram, assim, o médico bonzinho da saúde pública
e o prepotente moço rico motivo de queixas até de frentistas de postos de
combustível. Um deles confidenciou que de tão esnobe escancara a porta do
carrão quase nocauteando o atendente.
O médico bonzinho já era político. Em dois mandatos
na Câmara de Vereadores disse na campanha ser autor de zilhões de projetos
transformados em leis. A gente é tão ignorante que desconhece isso. Culpa
nossa.
O outro administrou bens da família e foi presidente
de uma entidade ruralista riquíssima. Ignorante que somos, não sabemos se, além
da exposição agropecuária anual, a gestão do fulano se destacou por um
posicionamento forte do segmento. Burrice e ignorância nossa também.
O médico bonzinho tentou fazer a cabeça do povo unindo-se
a uma turma da pesada. Parentes, partidos e apoiadores punidos pelo eleitorado
com o desprezo e a desconfiança fizeram-no fraquejar.
O moço rico, que já no primeiro turno deu rasteira
em outros concorrentes por nunca ter sido político, ficou sendo para o eleitor
a possibilidade do novo. O londrinense está muito cansado de raposões.
E agora, moço? Fraco na política e capenga na
cultura, o senhor demonstra conhecer Londrina observando-a de cima. E olha, a
visão do outro extremo é torturante e desesperado. De baixo para cima a beleza
é restrita. Olhar o topo dos edifícios de luxo a partir de suas bases causa
instantânea sensação do belo, que vai se apagando, tapada por fumaças.
E depois o desânimo, a tristeza e a revolta. O
senhor terá que aprender a entender isso. Contrate um sociólogo de chinelo de
dedo e aprende. Evite teóricos que analisam teses em gabinetes condicionados.
É complicado, mas possível aprender. E depois eliminar
esse preconceito e pré-conceito de candidato de rico e candidato de pobre. Isso
faria parte da sua proposta de mudança?
Acredite, doutor veterinário: é viável sim, sendo justo para toda a
população da cidade. Se assim o fizer, tenha certeza que o senhor não terá que
mudar Londrina de lugar, colocando a nossa cidade perto do mar ou da floresta.
Basta trabalhar uma ideologia que faça o povo entender que é cidadão. Será que
o senhor consegue?
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