terça-feira, 30 de outubro de 2012

Crônica - Apego


É uma bolsa de courvim adquirida numa loja de produtos populares. Nem por isso peca nos acabamentos. O modelo é simples: um compartimento principal fechado com zíper e dentro dele as subdivisões.Não falta onde colocar o telefone celular. Qual fabricante esqueceria desse detalhe? Fora, também com fecho éclair, o compartimento secundário é suficiente para os trocados do ônibus.

Num estabelecimento mais requintado chamariam o material com o qual a bolsa foi feita de couro sintético. E o preço do produto final seria, fatalmente, o de um boi premiado. Ecológica e economicamente correta, Luzia se dá por satisfeita com a sua bolsa. Nela carrega sua vida: as carteiras de trabalho e de identidade, o título de eleitor, as faturas a serem pagas, o desodorante, o batom, a escola de cabelo, a pasta de dente e outras quinquilharias que de tão pouco uso pesam mais do que servem.

E claro, o telefone celular. Com ele Luzia se comunica com outros mundos que não são os seus mais lhe interessam de um jeito ou de outro. Até nas paixões, veja como os aparelhinhos são importantes. Como carregar tudo isso sem uma bolsa? Impossível desfazer-se dela, ainda que o tempo tenha mostrado algumas ranhuras na pele sintética que não é couro de boi e nem tem cheiro de churrasco.

A bolsa de Luzia laceia no sol e fica rígida no frio. Acompanha a dona nos bons e maus momentos. É como um casamento: na alegria e na tristeza, com ou sem dinheiro. Ela já pensou em trocá-la. Mas o apego se disse forte. E não se sabe se a bolsa é de Luzia ou se Luzia é parte daquela bolsa que leva e traz a vida daquela mulher.


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