terça-feira, 2 de outubro de 2012

Crônica - Comportamento...


Fulano é um menininho jeitoso. Olha o cabelinho dele! Foram dois potes de margarina para empiná-los e mãe perversa está de saco cheio. É muito gasto semanal no supermercado com esta coisa sem gosto que se passa no pão para tentar dar um sabor à massa. Até que vai bem na primeira mordida quando o produto está com a casca crocante. Mas depois é um negócio sem sal e sem açúcar, quase lembrando, na hora de engolir, uma banha aproveitada da fritura da carne suína.

Ainda bem para irmã sapeca. Ela prefere manteiga. E como as contas estão apertadas o que é caro não se consome. Então a menina perde peso. Reduziu, de mês a outro, os oitenta e dois quilos para oitenta e um e alguns gramas. Ela tem um metro e cinquenta e seis. Por ai dá para imaginar a largura. É uma fera. Determinada optou pelo jejum como um protesto às compras que são feitas pela matriarca. Ela é quem escolhe o que levar, estabelece a quantidade de cada item, paga e recebe o troco. Pai banana só serve para transportar a mercadoria: do caixa ao estacionamento e da garagem da casa à cozinha.

A última vez que ele tentou se impor nos assuntos domésticos foi um desastre: “Olha a calça deste menino, mulher! Você não tem reparado que está muito justa? Está parecendo...” A frase terminou nestas reticências. O que se ouviu em seguida foi um derrame de verbos, substantivos, adjetivos, objetos diretos, pronomes oblíquos e nem tantos. A xingação foi a resposta da matriarca, uma mulher de uns quarenta e muitos anos de idade, pelo no sovaco, buço estonteantemente visível, chinelos de dedos encardidos e de tiras de cores diferentes.

Nunca mais o sujeito proferiu um ponto de interrogação. Os três pontinhos das reticências parece, minaram o estoque de letras do coitado. Ontem, por exemplo, ele foi obrigado a ouvir, calado, Michel Teló. Foi também telespectador de novelas, imposição que aceita sem reagir há uns trinta anos. E nem ele, sendo assíduo, entende o que está acontecendo em Avenida Brasil. Como se isso importasse. Se Carminha é amiga da Dilma, o padre é amante do Tufão, o Leleco é corno ou Nina é desprovida de capacidade mental? Nem queiram saber disso. Exige muita análise e isso causa uma dor de cabeça de lascar.

Assim é que burrice, prepotência e arrogância andam de mãos dadas. Quando disseram isso perto de pai banana logo ele imaginou que falavam de seu filho, o do cabelo espetado com margarina. Verdade. Enquanto o outro falava ele imaginou, a cada letra proferida, o seu menino pulando feito bambi, letrinha para outra. No ponto final, depois de recuperar o equílibrio, a coisinha delicada fez aquele gesto de vitória. Tão meigo...

Não é por isso que dissemos no início que o menininho é jeitoso. É que no serviço mandaram ele coordenar. Equivocado, o sujeitinho passou a mandar. E aos berrinhos. Quando não é atendido o estresse faz ele soltar gritinhos. E olha, todo mundo acata. Depois, longe dele, a galera entra na gargalhada e vai à desforra. Por isso um de fora perguntou por que o chefe não dá um talho no sujeitinho, se ele é incapaz emocionalmente de ser um líder. A resposta foi um silêncio tão grande que na imaginação dos presentes pareceu uma faixa, com letras enormes, escrito: “Porque o chefe é um bundão”.


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