Fulano é um menininho jeitoso. Olha o cabelinho
dele! Foram dois potes de margarina para empiná-los e mãe perversa está de saco
cheio. É muito gasto semanal no supermercado com esta coisa sem gosto que se
passa no pão para tentar dar um sabor à massa. Até que vai bem na primeira
mordida quando o produto está com a casca crocante. Mas depois é um negócio sem
sal e sem açúcar, quase lembrando, na hora de engolir, uma banha aproveitada da
fritura da carne suína.
Ainda bem para irmã sapeca. Ela prefere manteiga. E
como as contas estão apertadas o que é caro não se consome. Então a menina
perde peso. Reduziu, de mês a outro, os oitenta e dois quilos para oitenta e um
e alguns gramas. Ela tem um metro e cinquenta e seis. Por ai dá para imaginar a
largura. É uma fera. Determinada optou pelo jejum como um protesto às compras
que são feitas pela matriarca. Ela é quem escolhe o que levar, estabelece a
quantidade de cada item, paga e recebe o troco. Pai banana só serve para
transportar a mercadoria: do caixa ao estacionamento e da garagem da casa à
cozinha.
A última vez que ele tentou se impor nos assuntos domésticos
foi um desastre: “Olha a calça deste menino, mulher! Você não tem reparado que
está muito justa? Está parecendo...” A frase terminou nestas reticências. O que
se ouviu em seguida foi um derrame de verbos, substantivos, adjetivos, objetos
diretos, pronomes oblíquos e nem tantos. A xingação foi a resposta da
matriarca, uma mulher de uns quarenta e muitos anos de idade, pelo no sovaco,
buço estonteantemente visível, chinelos de dedos encardidos e de tiras de cores
diferentes.
Nunca mais o sujeito proferiu um ponto de
interrogação. Os três pontinhos das reticências parece, minaram o estoque de letras
do coitado. Ontem, por exemplo, ele foi obrigado a ouvir, calado, Michel Teló.
Foi também telespectador de novelas, imposição que aceita sem reagir há uns
trinta anos. E nem ele, sendo assíduo, entende o que está acontecendo em
Avenida Brasil. Como se isso importasse. Se Carminha é amiga da Dilma, o padre
é amante do Tufão, o Leleco é corno ou Nina é desprovida de capacidade mental?
Nem queiram saber disso. Exige muita análise e isso causa uma dor de cabeça de
lascar.
Assim é que burrice, prepotência e arrogância andam
de mãos dadas. Quando disseram isso perto de pai banana logo ele imaginou que
falavam de seu filho, o do cabelo espetado com margarina. Verdade. Enquanto o
outro falava ele imaginou, a cada letra proferida, o seu menino pulando feito
bambi, letrinha para outra. No ponto final, depois de recuperar o equílibrio, a
coisinha delicada fez aquele gesto de vitória. Tão meigo...
Não é por isso que dissemos no início que o
menininho é jeitoso. É que no serviço mandaram ele coordenar. Equivocado, o sujeitinho
passou a mandar. E aos berrinhos. Quando não é atendido o estresse faz ele
soltar gritinhos. E olha, todo mundo acata. Depois, longe dele, a galera entra
na gargalhada e vai à desforra. Por isso um de fora perguntou por que o chefe
não dá um talho no sujeitinho, se ele é incapaz emocionalmente de ser um líder.
A resposta foi um silêncio tão grande que na imaginação dos presentes pareceu
uma faixa, com letras enormes, escrito: “Porque o chefe é um bundão”.
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