Três pontinhos. Terminar uma frase assim dá agonia.
Sei disso, mas teimo em usá-los. Penso que provoco. Dúvidas, expectativas,
apreensões e questionamentos pousam sobre cada marquinha digitada. Juntas criam
um emaranhado na cabeça ao complementarem um dizer trabalhado nas entrelinhas.
Reticências nunca fecham uma linha de raciocínio.
Deixam em aberto. É o dito que não é dito. Letícia me acusa quando me comunico
assim com ela. Diz que armo e espero por uma presa. E então...
Até nessas duas palavras encerradas com elas, as
reticências, Letícia acha maldade. Concordo que os três pontinhos causam
suspense. Imagine-se lendo: é um tom indefinido que não é pergunta e nem
admiração.
Realmente, aguarda-se do interlocutor o inesperado.
Uma resposta para dar o assunto por encerrado, um consentimento sem nexo e, de
preferência, no caso de Letícia um equívoco: “Vamos que eu tenho pouco tempo”.
É assim. Ela é afirmação e ponto final. Letícia é
reta. Não é nem pessoa de responder pergunta com outra pergunta. De minha parte
eu confesso que a exatidão de Letícia às vezes me confunde. É por isso que
recorro aos três pontinhos.
A última reticência que usei foi depois de um
encontro. Escrevi que foi bom, num ambiente maravilhoso e aconchegante. Mas... E
ela respondeu que sendo assim, nunca mais. Ainda tenho esperança de revê-la
após um frase terminada com três pontos.
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