quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Conto - Reticências...


Três pontinhos. Terminar uma frase assim dá agonia. Sei disso, mas teimo em usá-los. Penso que provoco. Dúvidas, expectativas, apreensões e questionamentos pousam sobre cada marquinha digitada. Juntas criam um emaranhado na cabeça ao complementarem um dizer trabalhado nas entrelinhas.

Reticências nunca fecham uma linha de raciocínio. Deixam em aberto. É o dito que não é dito. Letícia me acusa quando me comunico assim com ela. Diz que armo e espero por uma presa. E então...

Até nessas duas palavras encerradas com elas, as reticências, Letícia acha maldade. Concordo que os três pontinhos causam suspense. Imagine-se lendo: é um tom indefinido que não é pergunta e nem admiração.

Realmente, aguarda-se do interlocutor o inesperado. Uma resposta para dar o assunto por encerrado, um consentimento sem nexo e, de preferência, no caso de Letícia um equívoco: “Vamos que eu tenho pouco tempo”.

É assim. Ela é afirmação e ponto final. Letícia é reta. Não é nem pessoa de responder pergunta com outra pergunta. De minha parte eu confesso que a exatidão de Letícia às vezes me confunde. É por isso que recorro aos três pontinhos.

A última reticência que usei foi depois de um encontro. Escrevi que foi bom, num ambiente maravilhoso e aconchegante. Mas... E ela respondeu que sendo assim, nunca mais. Ainda tenho esperança de revê-la após um frase terminada com três pontos.


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