segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Crônica - Setembro...


Fechei agosto com a conta bancária no azul. O saldo nem para um sorvete de segunda linha dá. Mas é azul, isso é o bastante. Iniciei aquele mês como todos os outros: preocupado com as prestações, os financiamentos, a luz, a água, o condomínio, o cartão de crédito, o telefone, a internet e as necessidades básicas. Verdade! Comida, detergente e papel higiênico não podem faltar na casa de quem se alimenta e evacua sem se dar ao gosto de preparar e saborear refeições caras ou frequentar restaurantes soberbos.

Viram como a verdade coloca o sujeito do degustativo ao fisiológico numa mesma linha, sem hiatos para amenizar o recheio entre as duas circunstâncias? É tapa na cara depois de um beijo. Enfim, achei que agosto seria o pior de todos. Conta no vermelho, prestações em aberto, mordida de cachorro louco e outros desgostos. Que nada! Os únicos cachorros que me incomodaram são aqueles que freqüentam o terminal de ônibus de Cambé. Irritam, enraivecem e colocam pessoas em situações de risco.

Pude até recusar propostas profissionais financeiramente interessantes. Pesei a ideologia e a ética e deixei de trabalhar na campanha política em Londrina. Abri mão de contratos que me garantiriam, em um dos casos, quase sete vezes a mais do que o meu salário. Nisso valei o claro entendimento de minha parceira: “Você não consegue trabalhar em política. E quando tentou se deu mal. Fica no pingadinho e faz o que você gosta de fazer”.

Ela tem razão. Na campanha de 2004 trabalhei por dois meses para um candidato e recebi pela tabela do sindicato. Na mesma equipe uns caras encerraram o período eleitoral reformando casas e trocando de carro. Na campanha de 2008 trabalhei por menos do que a tabela do sindicato. Nem procurei saber o que os caras inovaram em suas residências e em seus meios de transporte. E durmo tranqüilo, pois não amarrei nenhum rabo.

Então recebi setembro esperançoso. Já rascunhei a contabilidade doméstica umas três vezes e com a ajuda da parceira fecho mais um mês no azul. Com os mesmos pares de sapatos, as mesmas calças e as mesmas camisas. Um par de meias, se for preciso, terá pouco impacto. Já as cuecas estão pedindo aposentadoria. Aquela azul de tanto lavar virou roxa. O elástico está insustentável. Na lateral esquerda cresce um buraquinho que está ficando buracão. Inclui na previsão de compras dois pacotes da promoção de uma loja de departamentos. Marca de segunda linha. E quem precisa de uma etiqueta de grife dentro das calças?


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