terça-feira, 4 de setembro de 2012

Crônica - 4 de setembro

É apenas uma data e faz parte da Semana da Pátria. Este ano caiu numa terça. Mas desde que a contagem começou já deve ter sido domingo, sábado, segunda, quarta, quinta, sexta e a própria terça muitas vezes.
Pouca diferença faria se disséssemos que em 1850, no período do Segundo Reinado, um cara chamado Eusébio de Queiroz, pressionado pela Inglaterra, assinou a Lei 581 que proíbe no Brasil o tráfico interatlântico de escravos. Até então os escravos negros eram trazidos legalmente pelos mares até a costa brasileira.

Esse cara era ministro da Corte Portuguesa que mandava neste nosso país. Com a lei, que ficou para a história com o seu nome, Lei Eusébio de Queiroz, os traficantes se especializaram e mantiveram a contravenção, o que significa, no mínimo, que a maracutaia vem desde o princípio.

Muita diferença faz se tomarmos que aquela escravidão foi extinta mas outras, tantas, surgiram e são praticadas até os dias de hoje. Frequentemente lemos nos jornais notícias sobre o trabalho escravo em latifúndios localizados principalmente na parte de cima do mapa do Brasil. Fiscais do Ministério do Trabalho vez em quando descobrem mais casos, o que quer dizer que aquela maracutaia de 162 anos atrás ainda é fortemente predominante.

Às vezes a prática maldosa, nociva e interesseira prossegue sem barreiras porque as diferentes esferas de poder que deveriam combatê-la fecham os olhos. A corrupção passiva não só cega, mas cala, imobiliza e detona a ética e a consciência de algumas autoridades. E a leitura mais aprofundada da nossa história mostra que sempre foi assim. Indica também que a corrupção ativa só existe porque os sujeitos da passiva são numerosos e receptivos.

É relevante tomar consciência da diferença que faz termos conhecimento que nós, mesmo em 2012 e fora dos latifúndios exploradores do trabalho, somos escravos de uma política porcamente feita e de uma difusão de cultura encomendada.

Verdade. Na política são os políticos que fazem as leis que os beneficiam, inclusive na legislação que estabelece as regras eleitorais. Eles criam coligações que ajuntam o doce e o fel, o anjo e o capeta, a esquerda e a direita, a grama e a erva daninha. Coligações quantitativamente grandes dão a eles mais força, mais possibilidade de patrocínio financeiro para as campanhas e mais tempo no horário gratuito de rádio e televisão.

Coligações quantitativamente gigantes resultam, após as eleições e as vitórias, no loteamento de cargos. E quem gritar mais alto fica com a melhor fatia. A ideologia é esfregada no chão e com ela vão-se os estatutos e os regimentos partidários, o bom senso, o zelo com o dinheiro público e os compromissos com o eleitorado. Mesmo ciente disso a gente vota no menos pior e diz que a democracia assim o exige. Isso é escravidão.

O cerceamento cultural a gente não percebe. É fomentado pela incapacidade e pelo desinteresse do poder público que patrocina os meios de comunicação. Funciona assim: a gente dá a eles informações e conhecimentos até a altura da bunda de cada cidadão. Acima disso é arriscado porque eles aumentam a sabedoria, a consciência, a noção de cidadania e a força. Chegando nesse ponto eles cobram, criticam, condenam e reivindicam. E ficamos sempre escravos. É mole? 


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