sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Crônica - O cravo e a rosa


É fato! O cravo brigou com a rosa e foi um conflito pesado. Tanto é que o cravo saiu ferido e a rosa despedaçada. Na cantiga popular a briga foi sob uma sacada. Isso basta. Não importa se a sacada é de uma moradia familiar, um prédio público ou uma empresa privada.

Sacadas são direitos de todos. Só não tem uma quem marcou bobeira e deixou passar a oportunidade de ganhar a sua do presidente da República, do governador ou do prefeito. Quem manda não ter influência com um vereador, um deputado estadual, um deputado federal ou um senador? E custava muito manter relação com um ministro? Ou secretário estadual e até municipal? Quem conhece o poder de bicão desses caras?

A maioria vive disso.Tráfico de influência é para quem gosta de levar vantagem. Mas a vida começa em um ponto e termina lá adiante, em outro. O fio que une ambos nunca segue em linha reta. Faz curvas, dobra, dá nó e arrebenta. Uma coisa, porém, é certa: mesmo nos intervalos das imperfeições esta linha é encerada com valores como a ética, a moral, o caráter, a personalidade, a educação e enfim, a sabedoria.

Por isso comecei este texto com flores brigando. A cantiga popular é excessivamente pura para os dias de hoje. Vejam que depois da briga o cravo ficou doente e a rosa foi visitar. E deu que o cravo teve um desmaio e a rosa pôs-se a chorar. Singelo!

Se querem mais, a última quadra leva a um final feliz. Merece até aspas: “A rosa fez serenata / O cravo foi espiar / E as flores fizeram festa / Porque eles vão casar”. Dá para acreditar? A musiquinha é antiga e melodiou as brincadeiras de roda de muitos marmanjos de agora. Inclusive homens que hoje barbados negam ter brincado com meninas. Negam, mas não põem a mão no fogo.

Sei de alguns que costuraram vestidinhos de bonecas e falam de boca cheia que quando se enturmaram com o sexo oposto foi para a maliciosa brincadeira de casinha. Se engana aquele que gosta de ser enganado.

Então falei de flores porque a conversa é espinhenta. O cravo, na verdade, só no figurativo e poético brigou com a rosa. São duas espécies que não se disputam. Podem conviver num mesmo canteiro. Após colhidas, as flores usam da mesma água num vaso qualquer. Uma não rouba o perfume da outra. Na verdade, a única diferença atribuída a elas foi imposta pelo homem por causa da gramática: o cravo é masculino, a rosa é feminina.

Quanto à parte da cantiga que supõe a reconciliação, eis uma inventice criada também pelo homem. E o mais completo exemplo é o do homem político partidário. Não estamos falando do homem político cidadão. O partidário, infelizmente, é um ser desprovido de ideologia. Briga hoje com o adversário e amanhã dá-lhe um beijo na boca. O inimigo de ontem é o grande amigo de hoje.

Este faz troca-troca e tem esta prática como algo de berço. Diferente, muito diferente do cravo e da rosa da cantiga de roda. As flores se casam sempre, cada uma no desempenho de sua função na natureza. A gente, homem, é que dá uma versão de paixão e ciúme uma para com a outra.

Flores, enfim, fazem o percurso do fio da natureza, do ponto A ao B, mesmo que no caminho alguém resolva por maldade pisotear os galhos que as sustentam.

  

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