segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Crônica - Ah, o povo...


Então povinho? Tudo pronto para o 7 de outubro? Aliás, é só no período eleitoral que o povo merece conceito lastreado no direito constitucional e ainda assim de forma parcial, muito precária. No caso do Brasil, onde a democracia que temos é representativa, o povo elege daqui a duas semanas os seus representantes no executivo e no legislativo municipal.

Assim sendo, poderíamos dizer que só é povo quem vota? O resto é povinho ou pouca sombra? Temos que ser justos: a Constituição de 1988 diz que você, que com seus 12 anos acabou de ingressar no mundo dos adolescentes, não vota, mas é povo igual o seu colega de 16 que já tem título de eleitor. Portanto, desarme a carranca e se ajeite, você também paga impostos a cada ato de consumo que realiza.

Ouvi outro dia o vizinho comentando na frente do bar da rua que faz transversal: “O povo lá de casa ainda não sabe em quem votar”. Então o interlocutor emendou, no bate pronto: “Pois é, o povo lá da minha empresa também está em dúvida”. E veio um terceiro, que sem pedir licença entrou no meio da conversa: “Nem me falem. O povo da minha comunidade não quer nem falar de política”.

Povo! Lá atrás na história da humanidade, gregos e romanos consideravam povo só quem era capaz de decidir para e pelo estado, que é a instituição que aqui chamamos de sistema. Também no antigamente a Bíblia era seletista, pois considerava somente os judeus povo de Deus.

Tão discriminatória quanto, mas pelo menos clara e de dedo em riste, a turma da Idade Média dava o recado sem constrangimento: o povo era a plebe, formada por cidadãos sem direito e considerados psicologicamente incapazes de entrar de bicão nos assuntos do sistema.

Mais recentemente veio ao Brasil um cidadão alemão chamado Friedrich Muller, com título de jurista e filósofo. Lançou aqui o livro “Quem é o povo”, cuja linha de pensamento é a de que a democracia só existe onde tem povo.

Este autor fala do povo ativo. Ou seja, ele não só participa do processo eleitoral para a escolha de seus representantes. Estes representantes administram ou legislam, assim como executam ou fiscalizam. Isso depende do cargo para o qual foi eleito: executivo ou legislativo. O povo ativo, portanto, como elemento de combate do sistema existe para impedir que legisladores e administradores passem por cima da democracia.

A teoria é pé no chão da forma como descrevemos. O tema é muito mais complexo do que isso. Mas se não conseguirmos nos mobilizar pelo menos com essa entrada rústica e possível, o que pediremos na seqüência? Quando a gente não consegue exercer a democracia, devoramos a entrada e vamos direto para a sobremesa mesmo pagando pela parte principal do prato.

Por isso tantos candidatos nos chamam de povo. Eles apostam que somos passivos. Então depende de nós. Começando com a certeza de que o voto é um pequeno ato de entrada da democracia. O prato principal vem depois e só será saboroso se nós fizermos dele algo interessantemente apetitoso. 


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