Noites iguais! Eis o fenômeno que eu não percebo mas sei que
está para acontecer. O equinócio é justamente isso: dia e noite com a mesma
duração. Ele me traz a primavera austral no sábado, 22 de setembro. Data e
presença marcantes. Sábado é o dia do fôlego, vinte e dois são dois patinhos e
a primavera é muito mais do que flores.
Não a receberei com festa. Procedimentos esfuziantes soam
falsos tanto quanto as solenidades e os cerimoniais. A vinda da estação das
cores e do perfume da natureza merece atitudes que independem de discursos e
pronunciamentos decorados. É, além da fala franca, a oportunidade de exercer a
alegria de um jeito consciente, maduro, honesto e ético.
Vou apenas abrir o peito para as verdades que são minhas e
aquelas que não me pertencem, mas preciso delas para viver. A primavera, este
ano, me dá a oportunidade de praticar uma parte da democracia, o voto.
Mas londrinense, acabo de tomar conhecimento que o prefeito
da minha cidade foi preso e renunciou. Isso acontece semanas após o outro
prefeito ser cassado. As chuvas que caíram ontem, uma quarta-feira que
amanheceu quente, mas com vento de praia, sei que lavou a poeira do asfalto. Os
campos, porém, exigem mais água para que a couve cresça, os porquinhos
engordem, os bois ganhem substância e os pecuaristas e demais produtores
enriqueçam cada vez mais.
Tudo é culpa da política. Aliás, da politicagem besta que distorce o conceito de política. Já imaginei um vereadorzinho
qualquer mandando ofício à mãe natureza para que ela seja maneira. Se torno
essa fantasia público, receio que algum político leve a sério e faça isso
mesmo. Ou melhor, o ofício será enviado a São pedro.
O texto é assim por causa da primavera. Uma mistura que
parece dificultar um desfecho. Boi, porcos, couve, flores, democracia, cassação
de prefeito, prisão de bandido e renúncia não deveriam ter vínculo a uma estação
do ano tão promissora e poética.
Quantas músicas chegaram ao sucesso explorando a beleza? Pois
a primavera é, além de tudo, inspiração e esperança. Aqui é que entra a ligação:
esperança. Assim eu espero. Espero que a tecla verde que eu apertar nesta
primavera seja justa e consciente, mesmo que o meu voto seja anulado. Espero
poder exercer a minha cidadania apontando o meu indicador na cara de quem não
merece representar o povo da minha cidade. Espero falar mais, usar mais dos
meus direitos, recusar redução do IPI e exigir a correta mais valia para a
força do meu trabalho. Espero ir. Quero deixar de ficar parado. Aguardem e verão.
Porque não sou cotista e nem beneficiário. Sou cidadão.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
PARTICIPE: