quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Crônica - Em busca de um conceito


Esquerda, direita e centro. Digamos que são pilares que sustentam um sistema político. Embora o uso da conceituação seja precária do ponto de vista dos estudiosos do assunto, pequemos nas pequenezas das coisas e ousemos considerar que estes três pilares são suportes ideológicos de um indivíduo. Ele é da esquerda, da direita ou do centro. Não existe, portanto, a possibilidade de ser mais ou menos da direita ou relativamente da esquerda. Em qualquer um desses casos o cara é de centro.

Pode sim haver radicalismo em ambos os extremos. Assim chegamos a uma vertente que tem a ideologia como um instrumento de dominação. Até na música popular brasileira, quando se fazia música no Brasil, ocorreram conflitos que resultaram na chamada patrulha ideológica. O País vivia o regime militar e quem não usasse a sua arte para se alinhar contra o sistema político era acusado de ser favorável aos desmandos cometidos pelos governantes.

O bipartidarismo que vigorou durante e após os militares no poder também supõe algo calcado na ideologia. A situação tinha um partido, a Aliança Renovadora Nacional, com a sigla Arena. A oposição enfileirava adeptos no Movimento Democrático Brasileiro, o MDB. Era uma oposição consentida pelo sistema, mas o próprio fato de ser do contra fortalecia a ideologia dos seus membros. E não podemos negar que a situação, ideologicamente, cumpriu com seus objetivos: desqualificou o pensamento nacional e acabou com a cultura.

Além de Cazuza, quem mais falou em ideologia nos últimos tempos? Gil e Caetano, com a Tropicália, muito antes do roqueiro verbalizaram revoltosos suas queixas contra a patrulha ideológica. Geraldo Vandré, autor da tão difundida música “Pra não dizer que não falei das flores”, hoje nega que o conteúdo de sua arte fosse política. O Partido dos Trabalhadores, cujo alicerce foi o movimento sindical e estudantil do período militar e imediatamente subsequente, nasceu com uma forte estrutura ideológica-partidária e ganhou força e respeito discursando palavras de ordem da oposição. Há uma década o PT é situação.

De um jeito grosseiro podemos dizer que o único resto da ideologia desse partido esteja nos programas sociais, sejam eles insuficientes, inadequados, viciosos ou pertinentes. Diminuir a pobreza com benefícios, reduzir as desigualdades com cotas e estimular o consumo, com artimanhas como a redução do Imposto Sobre Produtos Industrializados (IPI) e criação de novas linhas de crédito, dão a ideia de que todo mundo ficou mais rico, pois pode comprar mais. 

Era isso o que o partido de Lula queria? Dar ao pobre condições de comprar tanto quanto a classe média? Se era, deu certo. Hoje temos famílias morando em barracos com três aparelhos de televisão LCD ou plasma. E para cada aparelho um carnê de financiamento. Isso é ideologia?

Volto a repetir que os estudiosos vão odiar esta crônica por tamanho relaxo na conceituação do termo. Mas aviso: sabemos que a ideologia, na concepção teórica, é muito mais. Mas estamos nos referindo a esta ideologia das eleições municipais de 7 de outubro de 2012. Aqui cabe o conceito relaxado, pois nos referimos ao total desprezo dos partidos políticos em relação aos estatutos e regimentos que valeram nas suas criações.

Assim, além das coligações reuniram bandidos e mocinhos na mesma fila, temos ex-esquerdistas convictos de beijo de boca em ex-direitistas radicais. E na hora da troca do beijo a cena é tão confusa que não se sabe quem já foi da esquerda e quem integrou a direita. É tudo a mesma coisa. O pessoal do centro adora isso, pois pensa ficar longe das suspeitas de mutações ideológicas.

Que nada. É como o mosquito da dengue. De tanto ser combatido precariamente, agora o Aedes egypti já reproduz em água suja. O centro, no atual plurapartidarismo, sempre foi porto seguro de quem odeia braçadas contra a correnteza. E vai-se para onde as ondas levam. Por isso o meu voto será ideológico. Tem algum candidato disponível?


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