Esquerda, direita e centro. Digamos que são pilares
que sustentam um sistema político. Embora o uso da conceituação seja precária do
ponto de vista dos estudiosos do assunto, pequemos nas pequenezas das coisas e
ousemos considerar que estes três pilares são suportes ideológicos de um
indivíduo. Ele é da esquerda, da direita ou do centro. Não existe, portanto, a
possibilidade de ser mais ou menos da direita ou relativamente da esquerda. Em
qualquer um desses casos o cara é de centro.
Pode sim haver radicalismo em ambos os extremos.
Assim chegamos a uma vertente que tem a ideologia como um instrumento de
dominação. Até na música popular brasileira, quando se fazia música no Brasil,
ocorreram conflitos que resultaram na chamada patrulha ideológica. O País vivia
o regime militar e quem não usasse a sua arte para se alinhar contra o sistema
político era acusado de ser favorável aos desmandos cometidos pelos
governantes.
O bipartidarismo que vigorou durante e após os
militares no poder também supõe algo calcado na ideologia. A situação tinha um
partido, a Aliança Renovadora Nacional, com a sigla Arena. A oposição enfileirava
adeptos no Movimento Democrático Brasileiro, o MDB. Era uma oposição consentida
pelo sistema, mas o próprio fato de ser do contra fortalecia a ideologia dos
seus membros. E não podemos negar que a situação, ideologicamente, cumpriu com
seus objetivos: desqualificou o pensamento nacional e acabou com a cultura.
Além de Cazuza, quem mais falou em ideologia nos
últimos tempos? Gil e Caetano, com a Tropicália, muito antes do roqueiro
verbalizaram revoltosos suas queixas contra a patrulha ideológica. Geraldo
Vandré, autor da tão difundida música “Pra não dizer que não falei das flores”,
hoje nega que o conteúdo de sua arte fosse política. O Partido dos
Trabalhadores, cujo alicerce foi o movimento sindical e estudantil do período
militar e imediatamente subsequente, nasceu com uma forte estrutura
ideológica-partidária e ganhou força e respeito discursando palavras de ordem
da oposição. Há uma década o PT é situação.
De um jeito grosseiro podemos dizer que o único
resto da ideologia desse partido esteja nos programas sociais, sejam eles
insuficientes, inadequados, viciosos ou pertinentes. Diminuir a pobreza com
benefícios, reduzir as desigualdades com cotas e estimular o consumo, com
artimanhas como a redução do Imposto Sobre Produtos Industrializados (IPI) e
criação de novas linhas de crédito, dão a ideia de que todo mundo ficou mais
rico, pois pode comprar mais.
Era isso o que o partido de Lula queria? Dar ao
pobre condições de comprar tanto quanto a classe média? Se era, deu certo. Hoje
temos famílias morando em barracos com três aparelhos de televisão LCD ou
plasma. E para cada aparelho um carnê de financiamento. Isso é ideologia?
Volto a repetir que os estudiosos vão odiar esta
crônica por tamanho relaxo na conceituação do termo. Mas aviso: sabemos que a
ideologia, na concepção teórica, é muito mais. Mas estamos nos referindo a esta
ideologia das eleições municipais de 7 de outubro de 2012. Aqui cabe o conceito
relaxado, pois nos referimos ao total desprezo dos partidos políticos em
relação aos estatutos e regimentos que valeram nas suas criações.
Assim, além das coligações reuniram bandidos e
mocinhos na mesma fila, temos ex-esquerdistas convictos de beijo de boca em
ex-direitistas radicais. E na hora da troca do beijo a cena é tão confusa que
não se sabe quem já foi da esquerda e quem integrou a direita. É tudo a mesma
coisa. O pessoal do centro adora isso, pois pensa ficar longe das suspeitas de
mutações ideológicas.
Que nada. É como o mosquito da dengue. De tanto ser
combatido precariamente, agora o Aedes egypti já reproduz em água suja. O
centro, no atual plurapartidarismo, sempre foi porto seguro de quem odeia
braçadas contra a correnteza. E vai-se para onde as ondas levam. Por isso o meu
voto será ideológico. Tem algum candidato disponível?
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