quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Conto - Vaidade


Seduzida por um par de brincos que nem jóia é. Cá estou. O mostruário assanha. O preço é indigesto. Há como prová-los. Sem danificar a etiqueta na qual as peças estão presas, coloca-se sobre as orelhas diante de um espelho. Sou eu, de perfil, conferindo se estou bela, se fico melhor com eles, se tanto faz.

Descuido! Poderia ter retocado melhor os olhos, eles parecem cansados. As cores suavemente espalhadas em cima e abaixo dariam mais vida. Óculos de sol escondem imperfeições lá fora. Aqui sou eu, olheiras à mostra. E nem me lembro se dormi bem ou mal.

Ah, os brincos! Quero provar aqueles. Ou adio para quando der o investimento em parte de mim que posso tapar com os cabelos? Assim posso comprar calçados, se bem que aquela blusinha da loja em frente é irresistível.

Mas provo as peças. São delicadas e iludem. Quem vai saber se é jóia ou semi? Ele nem vai notar se uso brincos novos ou velhos, embora brinque com os lábios nas minhas orelhas.

Eu, de perfil me olhando no espelho, sou um problema. A semijóia fica bem. O que devo acertar é a pele. Um cravinho aqui e outro ali parece não fazer diferença. Mas incomoda. Faz tempo não compro um creme hidratante. Que relaxo!

Não fosse por isso eu estaria linda. Lábios, eis o meu forte. Já ouvi de mulheres elogios matreiros que só saem de bocas invejosas. Nos homens percebo desejos. Faz parte, a beleza é para ser cobiçada.

É um bom espelho o desta loja. Impressão minha ou a vendedora está impaciente? Certo, entrei aqui para ver brincos. Poderia levar aqueles, até me agradam no momento. Depois de um tempo ficarão sobre a cabeceira, tarrachas perdidas, inúteis e indesejáveis em vista de outros adquiridos em seguida.

Vou desistir da compra. Antes de comunicar a minha decisão à balconista disfarço, brincos sobrepostos às orelhas, espelho e charme. Confiro o nariz e percebo um leve traço de buço. Vou investir em meu rosto, gasto o que tenho no salão de beleza. 


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