quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Crônica - Somos nós os patetas?

Alto, magro e desengonçado o cachorro da raça Bloodhound anda igual um homem, pois quem o trouxe ao mundo assim o quis. Já beira os 80 anos de idade, mas nunca aparece como um velho afetado pelo tempo. Na verdade, ele nasceu do mesmo jeito em que se encontra hoje. E olha que nunca alguém se dispôs a pedir a ele a fórmula do rejuvenescimento.

Trapalhão, para não dizer que é bobo, este cão é motivo de risadas. Cá pra nós, o cara é bondoso e gosto de agradar os outros sendo engraçado. Por isso o apelidaram de Pateta, embora o seu dono tenha colocado no registro de nascimento um nome até pomposo: Dippy Dawg. Há quem o chame também de George Geef. Apareceu no cinema ainda com o nome de Goofy Goof.

Injustiça. Adianta ter um nome oficial e outro alternativos se o apelido pegou? Pateta, no dicionário de sinônimos da língua portuguesa, é pesado: burro, estúpido, idiota, ignorante, imbecil, inepto, lerdaço, néscio, palerma, parvo e tolo. E nem precisa de mais. Estes são o bastante.

Culpa de que e de quem? De ser bonzinho, sobretudo. O Pateta que Walt Disney pariu em 1932 não rouba e nem sacaneia. Talvez ele sofra da necessidade de ser gentil com as pessoas e peque por querer ser divertido. E imagina-se que seja acometido de uma solidão torturante. Em 80 anos de vida nunca definiu uma parceira.

E olha que tentou. Quantas vezes os leitores das histórias em quadrinhos pensaram que Pateta se aproximava de Clarabela, a vaca que está mais chegada ao Horácio, o cavalo que conserta carros? Mas Pateta nunca efetivou e continua solteiro num mundo pequeno e confomista, trocando cenas com os ratos Mickey e Minnie e até compartilhando ações no cinema com o Pato Donald e seus sobrinhos.

Coadjuvante! Será que é por ser Pateta? Um burro, estúpido, idiota, ignorante, imbecil, inepto, lerdaço, néscio, palerma, parvo e tolo? Tem parte de verdade nisso. Quem lançou Pateta ao mundo, antes dele ser adotada por Disney, foi o diretor de cinema Wilfred Jackson. O papel dele na película era de ser um trapalhão no meio de uma platéia, gargalhando até com o que não tinha graça. Gargalhava tanto que irritava. Portanto, Pateta nasceu para incorporar todos nós naqueles momentos de descontrole. Às vezes a gente gargalha até da nossa desgraça.

Mas sacana nunca. Pateta não corrompe e nem é corrompido. Pateta não manda pagar mensalão para deputado federal votar projetos favoráveis ao governo. Pateta não guarda dólares na cueca. Pateta é só um bobinho que incomoda, mas não faz mal a ninguém.

Ouvi o pronunciamento firme e claro de um advogado que defende um político suspeito de ser bandido. É apenas mais um suspeito dentre tantos que usam os corredores das câmaras municipais, das prefeituras, das assembléias legislativas, das sedes dos governos estaduais, do palácio presidencial e do Congresso Nacional para tramar em benefício de si próprio.

Em tom de questionamento ele supôs que um ex-presidente, também suspeito de andar à margem, seria tão pateta a ponto de desconhecer que um esquema vergonhoso de desvio do dinheiro público era tramado dentro do local de onde ele governa o País. Claro, o causídico se referiu ao burro, inepto, tolo, lerdaço, palerma e parvo. É provável que tenha excluído o estúpido, o idiota, o ignorante, o imbecil e o néscio, embora uma coisa tenha muito a ver com todas as outras. Mais provável ainda que o advogado tenha jogado um manto de pureza sobre a pessoa que ele acusava. Do tipo, não ficou sabendo da maracutaia porque é jumento de olho tapado.

Aliás, melhor se fosse assim. O problema é que o acusado pode ser ignorante, mas burro nunca demonstrou ser. Então acho que o Pateta somos todos nós. E haja motivos para gargalhar.


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