terça-feira, 28 de agosto de 2012

Crônica - Ri por último, menina


Lá se foram os olhinhos sonolentos da minha coleguinha de trabalho. Gisele mudou da água para o vinho. Ri sozinha e se coloca mais disposta nos assuntos de trabalho. Está participativa, embora em alguns instantes se coloque longe, lá onde o coração gostaria provavelmente de estar.

Ah, o amor! Gisele está namorando. E precisa tanto por causa de um namoro? Ela olha para o monitor do PC e ri. Confere as mensagens no celular e ri. Atende uma ligação telefônica e ri. Carece dar tanta risada? Será que é a alma que pede para rir quanto mais for possível?

É que Gisele sofreu muito pela ausência de uma paixão. Ela é novinha na idade e na cara de criança, mas pegaram pesado no pé da coleguinha. Pelas costas disseram dela ser uma mulher encalhada. Que maldade! Quantos tentaram se aproximar e dos muitos que fizeram fila nenhum teve sucesso. O coração de Gisele estava fechado por culpa de um critério: tem que ser alguém que no primeiro olhar me faça sair do chão.

A princípio ela procurou sapos na beira dos lagos. Os que encontrou foram descartados pois não havia a possibilidade de algum deles virar um príncipe após o beijo. Na festa de Antônio ela foi a primeira a correr às fatias de bolo para levar a sorte: encontrar dentro uma imagem do santo casamenteiro. Mas nada...

Os colegas haviam combinado fazer uma promessa em nome dela. “E qual promessa a gente cumpre se a Gi encontrar um namorado?” Três semanas depois ninguém havia sugerido algo sólido e praticável. Sinal que a turma pouco se importava com a solteirice da colega. Na verdade dissimulavam compreensão e solidariedade nos momentos em que a menina se punha desanimada na frente do monitor do PC, olhinhos sonolentos, sobrancelhas caídas, cabisbaixa, entregue e sem esperanças.

Foi que um dia Gisele saiu para o almoço acompanhada de uma galera, mas solitária no meio da multidão. Então chegou o colega de um outro setor e ocupou a mesma mesa. Por descuido, na hora de encher o garfo ele derrubou o dito na mesa. Desconcertado catou o garfo errado, da Gisele. Foi o suficiente. Funcionou como o beijo no sapo que vira príncipe.

Ele estalou os olhos em Gisele e imaginou-a uma princesa. Ela revirou os olhinhos a tal ponto que de sonolentos se transformaram em vivos, abertos, com vontade de enxergar, devorar, se apaixonar e amar. Formam um belo casal. E no ambiente de trabalho Gisele continua rindo sozinha. Ah, o amor!


Nenhum comentário:

Postar um comentário

PARTICIPE: