segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Crônica - Outras olimpíadas


Arruma correndo essas cadeiras. Tem pernas abertas que nem asa delta. Bota uns pregos, não gaste com parafusos, é dinheiro jogado fora em madeira de pinus. Na primeira sentada de uma bundona as juntas rangem e o jogo volta. E ninguém está aqui para brincar de cadeira de balanço.

Enfileira certinho. Na simetria desde que o chão permita. Se não der vai torto mesmo. Monta uma espécie de arquibancada. Desliga essa tevê, está enchendo o saco. Ninguém agüenta mais o Neymar anunciando telefone e carro da Volks. Esse menino tem é que jogar futebol.

Vê se manda o Bernardinho calar a boca. Irrita ouvir a gritaria desse cara. Limpa depressa a trilha até o sacolão da esquina. Vai ser uma espécie de 800 metros livres com largada às sete e cinqüenta e cinco. Quem chegar primeiro leva: dois quilos de tomate na promoção porque o dono do estabelecimento comprou para vender no sábado e no domingo, por quatro e setenta o quilo. Sobrou mais da metade e a desova está saindo por dois e noventa e nove.

Dá aproveitamento. Quem chegar primeiro leva o melhor. Separa os moles para fazer uma calda. O mais durinhos ficam para a salada. Aproveita e confere o preço do ovo. Vê se tem daqueles miudinhos. Pede para o comerciante deixar por dois e setenta a dúzia. Diga a ele que o ovo não precisa ser de galinha que engoliu as poucas medalhas que o Brasil trouxe de Londres. Pode ser de galinha que por falta de ração se alimentou com tampa de garrafa de refrigerante.

Já é sete e cinqüenta. Quase hora da largada. Tem que correr na frente. Confere as tiras dos chinelos senão pode chegar descalço na linha de chegada. Cuidado. Pode haver gente mal intencionada no caminho. Ex-presidente do Brasil, ex-ministro, governador do Paraná, prefeitos, vereadores, deputados federais e estaduais, presidente da República, titular do primeiro escalão e candidatos às eleições de sete de outubro costumam aparecer e atrapalham.

Atenção. Se tiver um cara conhecido como Carlinhos Cachoeira dê meia volta e desista da prova. Volta ligeiro antes que ele te enlace e te meta numa fria. Só queremos tomate, ovos, tarifa de ônibus, óleo de soja, detergente, papel higiênico e essas coisas de primeira necessidade mais baratos. Caro já pagamos pela nossa dignidade. A ética não tem preço, mas só a gente usa dela. Esses enfileiradores nos camarotes só falam dela.

É verde e amarelo e Rio com samba cantado no idioma Brazil. Nem queira saber de quanto é a comissão de fulano no valor da obra para as próximas olimpíadas. O nosso custo é quase zero: uns preguinhos aqui e umas rasteladas ali para acertar as pistas. O custo dos estádios e das outras praças esportivas, advinha: tirando vinte por cento para um, vinte para outro, vinte para o terceiro e vinte para o quarto o gigante erguido vale o restante vinte por cento.

Então se prepare. Amarra a calça de moletom com barbante. Correr levantando as calças não dá rendimento. As nossas olimpíadas são outras, o nosso percurso é atrás da vida.


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