sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Crônica - A minha mais-valia é trapalhona

Licença! Tomo por empréstimo o termo usado por Karl Marx para definir a diferença entre o valor da mercadoria produzida e a soma do valor dos meios de produção e do trabalho: mais-valia! Complicado não? Valor da mercadoria menos o custo de produção e do trabalho. Seria isso? Enfim, se é a diferença entre o que custou para ser produzido e o valor de venda, a mais-valia seria o lucro. Se não me engano...

Caso haja equívoco, perdoem. Só empresto o termo, dispenso o conceito. A mais-valia que empresto de Marx é mais chão de fábrica pisado com botinão. E para isso imponho uma definição que é minha, sem o constrangimento de ser rebatido. O conceito é meu e reparto-o com aqueles que o analisarem como válido. É a antidemocracia na comunicação, sei muito bem. Mas quando me deram ouvidos se fui democrático?

Esta semana troquei as luminárias do pátio do meu condomínio, onde moram 28 famílias. Economizei aos moradores cerca de R$ 250,00 que seriam rateados. Fiz isso porque conheço de eletricidade, tenho ferramentas e qualquer cinco reais economizados na cota condominial me aliviam.

Mas se daqui a três meses algumas dessas luminárias apresentar defeito de fábrica ou por culpa de intempéries da natureza, dentre as 28 famílias haverá quem diga que o erro foi de instalação. E sabem por que? Porque nessas pessoas vigora o pré-conceito e o preconceito baseados no valor do produto e do serviço: quanto mais caro melhor.

Se o custo da troca de luminárias fosse os R$ 250,00 e o problema ocorresse nos mesmos três meses, haveria quem dissesse que o contratado cobrou barato e fez serviço de porco. Se o serviço custasse R$ 1.000,00 então diriam que o problema foi de outra origem: material fraco, desgaste, condições climáticas e afins.

Então a mais-valia a que eu me refero nada tem a ver com o conceito incontestável do Marx. A mais-valia da forma como a defino é um alerta: esmola, como o bolsa-família, gera um vício que acaba em uma bola gigante empurrada por pessoas que não se beneficiam dela para sustentar aqueles que se acostumam a ela.

E numa relação adequada da mais-valia de Marx quem produz não tem amigos ou parentes. O seu preço ou o de sua mercadoria é igual para o vizinho, o irmão, o cunhado, a tia, a enteada da namorada, o agregado do sogro e assim vai. Na mais-valia que defino tudo é de graça. E de graça a gente colhe os desaforos dos que ficam descontentes com o nosso serviço.

Tenho prestado favores até na minha profissão, a comunicação. Quando o meu favor resulta em um bom trabalho a contrapartida é o silêncio e o desprezo. Quando o resultado é ruim logo dizem que foi o fulano quem fez. Então a minha mais-valia, essa que não custa nada, sou obrigado a admitir que é coisa de bundão. Perdoe-me Marx! Você sempre teve razão!


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