terça-feira, 17 de julho de 2012

Crônica - Jesuscidência às avessas

Ainda estou com cara de trouxa. Até derramo uma remela do canto dos olhos e tenho babado muito. Os cabelos que normalmente penteio para trás, feito executivo que tem reuniões freqüentes com políticos, deixo-os agora caídos na testa. 

Lambo os beiços seguidamente e fico com a língua de fora. Coço os ouvidos com as pontas dos indicadores de minuto a minuto. Sou um tique nervoso ambulante. Até manias que eu havia controlado voltaram. Feito imitador do Michael Jackson, passo as mãos na genitália sem perceber. Na rua, no ônibus, na porta do condomínio, na frente da casa da vizinha, nas costas do açougueira da esquina, no caixa do supermercado. Estou incontrolável. E garanto que essa situação nada tem a ver com uma nova palavra que ouvi domingo, no Fantástico: Jesuscidência!

E quanto mais penso mais fico com cara de trouxa. Me venderam gato por lebre. Prometeram um entrevista bombástica com a ex-primeira dama Rosane Collor. Foram dias de chamadas. A princípio considerei em primeiro lugar: “Até que ela ainda está bonitinha esta ex-primeira dama e ex-mulher de um ex-presidente!”

Aliás, deu até briga em casa. Minha mulher ligou na Globo às seis ou seis e pouco da tarde, quando um pouco-nada falava bobagens e chamava todo mundo de babaca. Impliquei: “Não pago tevê a cabo para ficar ligado em porcaria”. Deu um BO danado, ela queria me trucidar: “Tenho certeza que você está louco de vontade de assistir a entrevista com a Ex. Então por que fica enchendo o meu saco?” Estranhei. Que eu saiba ela não tem saco...

Engoli as palavras e assumi o silêncio e o conformismo. Ela tinha razão. E toma banho, janta, coloca o pijama, atende o telefone e nada. Fui obrigado a assistir mais uma do Clayton Conservani. Que tédio!? Desta vez ele nem chorou... Nem me lembro se apareceu o Maurício Krubusly de novo com aquelas produções chatas. Acho que dormi. E nada de Rosane Collor.

O que sei é que num momento de impaciência e descontrole gritei, sentado na poltrona: “Essa loira vem ou não vem, caramba?” Foi um escândalo. A mulher já queria saber quem era. O filho mais velho me encarou com o canto dos olhos. O mais novo passou por mim e esbarrou na minha cabeça com força suficiente para provocar torcicolo.

Loucura. Até o empate do Palmeires tive que ver. Escutei o vizinho de baixo, corinthiano, dar um grito: “Timinhos de merda estes dois. E ainda tem gente neste prédio que é palmeireinse e sãopaulino. Na próxima reunião do condomínio vou sugerir que eles paguem multas por estimularem o fracasso...” Solidária, minha mulher recomendou: “Liga pra isso não. Depois da entrevista com a Rosane Collor desce lá na garagem e risca o carro dele”.

Então, quando eu estava meio de lado na poltrona, com um olho fechado e outro aberto, entrou a matéria. A novidade é que ela, a Rosanezinha, tem uma pensão de dezoito mil reais e quer mais. Quer um valor igual ao o das amigas que nem foram casadas com ex-presidente ou senador e tem pensão de quarenta mil reais. 

A única coincidência de Rosane com estas amigas é que são todas ex-mulheres de algum cara com a conta derramando cédulas de cem reais. E para não ser injusto, devo mencionar que para a Rosanezinha nada é concidência. É Jesuscidência. 

Eu estou incontrolável. Gisele, minha colega de trabalho, já me denunciou ao meu chefe. Disse que eu paro em frente da mesa dela e fico passando a mão no saco! E o meu chefe não acredita que é um tique nervoso que me ocorre sempre quando sou enganado...


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