quarta-feira, 11 de julho de 2012

Conto - O cuidador de carros

Metido num bermudão tão surrado quanto a malha da camiseta estampada, o cuidador de carros assume o seu posto desde as primeiras horas da manhã. Se ele atrasar outro guardador ocupa o seu trecho e ele fica sem o que cuidar.

Os motoristas começam a encostar seus veículos no território do cuidador titular a partir das 7h30. Eles também tem pressa, apesar de iniciarem a jornada de trabalho às 8. Atrasados correm o risco de não encontrar vagas.

É uma jornada longa e sem parada a do cuidador. Sem almoço, porque os donos dos carros que ele guarda não retornam para suas casas no intervalo. Almoçam ou lancham nos estabelecimentos próximos seguros, pois o cuidador toma conta de seus veículos por um preço que é quase esmola: um, dois ou quando muito cinco reais. Às vezes, sem miúdo no bolso, a gorjeta fica para amanhã e acaba no esquecimento.

O cuidador é fiel ao seu ofício. Cuida e auxilia na manobra. Zela-se para manter a confiança dos patrões. Bermudão surrado, camiseta em estado precário e chinelos de dedo nos pés, ele apenas cuida dos carros mas há quem desconfie que o cuidador é um risco. Foi assim que os donos dos carros viram, já por repetidas vezes, o cuidador com as mãos na nuca e encostado à parede durante revistas feitas por policiais.

E nunca, ninguém que tem o carro cuidado se mostrou. Assistiram a cena atrás das persianas que impedem a claridade das ruas de entrarem nos escritórios.


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