sexta-feira, 13 de julho de 2012

Conto - Mapas e trajetos

Viu-se no vidro da porta de uma loja e o que percebeu foi uma imagem muito mais cruel do que um espelho refletiria, impositivo e sem perdão: você é o que está vendo. Abaixo dos olhos, após fazer a curva determinada pelos sinais da idade, havia outras marcas. Além de rugas, o molhado das lágrimas com formas indecifráveis e feitos desenhos rascunhados ao acaso.

A palma da mão direita subiu e secou um lado. No outro restou um mapa de algum lugar. Provavelmente de onde Lorena queria estar e, sendo assim, as lágrimas vinham de lá. Imagina-se que por culpa da inesperada precipitação os córregos transbordaram. Saudade de alguém ou amor impossível? Ninguém, exceto a figura refletida, estaria em condição de revelar.

Se é longe ou perto também é mistério. Às vezes fica ali, logo adiante, em percurso possível de vencer em minutos. Isso quando o que determina a distância é a geografia. Ou tem-se que de um ponto ao outro muitos quilômetros consumam horas e dias, ainda mais quando o espaço é calculado por sentimentos.

Enquanto se mira os desenhos adquirem outros contornos. São mais lágrimas descendo, sinal que a chuva é intensa. Agora, escorrendo, formam estradas sinuosas de aclives e declives na altura da maçã do rosto. Seria o trajeto a ser seguido ou um aviso de perigo? Ir ou não rir até o lugar onde o coração está é um dilema.

Fica-se meio órfã de alma, porque tudo o que faz chorar está muito longe do vidro que reflete a imagem triste de Lorena. O anúncio ao lado vende passagens e estadias. Ela não se convence com a oferta e deixa o local. Mapas e trajetos desenhados no rosto pelas lágrimas secam com o tempo.


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