segunda-feira, 18 de junho de 2012

Crônica - Se é vilã, cuidado com autor global!

A batata é a grande vilã. Deu no jornal de tempos atrás. Bem que eu vi ela matreira, lá no fundo da panela, dura, em calda rala e recusando ponto. Foi tentar a garfada e ela saltou do prato. Resvalou na tigela de repolho, ricocheteou na quina da mesa e atingiu o chão com três quicadas até se esconder sob a geladeira, bem naquele lugar que nem com cabo de vassoura se puxa o que fica lá embaixo.

Bom que a janta virou diversão. “Esta danada subiu 44,17 por cento. Não abro mão dela. Cato e a como fazendo miúdos até ter certeza de que a alta da cesta básica valeu no estômago”. Tamanho pronunciamento em hora de comida só podia vir do chefe da casa, auxiliar de pedreiro nas horas vagas e desocupado durante o expediente.

E foi a farra! Um puxando o geladeirão para o lado, outro forçando para frente e o pezinho comprado na mercearia da esquina rachando e fazendo croc... “Ponha um tijolo senão a geladeira fica capenga. Deixa a batata. Quem sabe ela dá muda e a gente planta”.  Ai já era o caos.

E não se sabia se falavam sério ou era gozação. “Este é o feijão que subiu 11,84 por cento e ajudou a puxar a alta da cesta básica?” Era. Tanto que o grãozinho navegava na calda desbotada. O que ajudava no sabor era o alho comprado na promoção. Esse sim contribuiu com a refeição. Alguns dentes escaparam do amassador e ficaram inteiros na panela. Dava para sentir o gosto de longe.

“Fica todo mundo proibido de tentar espetar um feijão com o garfo. Corre o risco do bichinho escorregar e ir lá pra baixo da geladeira fazer companhia pra batata”. O duro é que ninguém ria. Sinal que a conversa era séria. “Se for lá pra baixo o almoço de amanhã está garantido...”

E alguém falou em crise? Deu lá no jornal, durante a refeição, que a água do tal  cachoeira respinga para todo lado. Camisa cheirando a suor, o agregado, aquele que vive da venda de CD pirata, já uniu a preguiça à falta de asseio: “Banho de cachoeira? Nem pensar. Pode fazer 40 graus que é fria...”

Tinha razão o fulano. Recentemente ele recebeu mensagem no celular avisando de um prêmio: setenta e cinco mil reais e um carro zero. Tinha um número de telefone para ele retornar e garantir o prêmio. Está é besta? O agregado não telefonou por desconfiar que era armação de algum cachoeira. E fez certo. Um conhecido ligou e três dias depois foi avisado do seqüestro de um filho que ele não tinha. O cara, além de solteiro, é estéril. 

Manjaram? É tudo arapuca nesta sala de jantar... E já tem autor de novela da Globo convencendo a batata a ser a vilã da próxima novela. Vilã hoje em dia dá muito Ibope. Eita povinho que gosta de ver gente sacana aprontando... E veio o gaguinho querendo fazer graça quando os pratos, a tigela e as panelas já estavam no seco e a batata continuava sob a geladeira: “Demóstenes que que que es es estamo mos cer cer cercados de Ca, cana, canalhas...” 

É mole? Que nada! É hilárico.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

PARTICIPE: