segunda-feira, 25 de junho de 2012

Crônica - Da 1ª transmissão ao protesto de Sara

Sara Winter, Michael Jackson, cotonete, Frederico Franco, Fernando Lugo e televisão. Não sei o que converso com esta mulher. Mandaram eu fazer sala e cá estou. Foi bem assim: “Segura ela uns vinte minutos na recepção enquanto fechamos o relatório. Conversa sobre alguma coisa que não tenha nada a ver só para passar o tempo”.

E agora? Me informaram que a mulher é um gênio. Domina meia dúzia de idiomas e tem conhecimento de tudo o que acontece no Brasil e no mundo. É requintada. A origem nobre permite a ela analisar Michel Teló e Michelangelo com o mesmo rigor, sem que um cidadão mediano saiba se o que ela manifesta é crítica ou elogio.

Me deram um exemplo: “Não se encabule. No fundo o que ela vai dizer é que Michelangelo se eterniza pela sua arte e Michel, por outro lado, é a arte do fisiologismo. Entendeu? Um é ouro, outro é coco. Então apenas consinta. Se não quiser falar acene com a cabeça que concorda”.

É pouco para mim. Sou tagarela e tenho opinião formada sobre algumas coisas. “E a brasileirinha que foi presa na Ucrânia antes do jogo da Eurocopa? A senhora não acha loucura uma menina de 19 anos sair de São Paulo para protestar lá longe, com os seios de fora?”

Nada. Ela despreza. Mexe no tablet para consultar a agenda. Isso me enerva, pois os vinte minutos já viraram trinta. “Faz três anos que o Michael Jackson morreu. É... 25 de junho de 2009. Era um grande talento no palco. Produção profissionalizada. Que perda, não?”

Nada ainda. Estou de frente para ela. Sorte que a mulher não enxerga o meu monitor. Estou puxando mais assuntos no Google. “Está bom a temperatura do ar condicionado? Quer que eu diminua um pouco? Não está tão calor assim... falando em quente, o que será que vai dar a briga política lá no Paraguai? Parece que o Frederico Franco, vice que assumiu, de tão pressionado que está terá muita dificuldade para governar. Capaz de dar reviravolta e o Fernando Lugo voltar”.

Ela continua mexendo no tablet. Fico, assim, constrangido e desabastecido de temas. E sem querer eu dou um grito: “Cotonete!” Qual? A mulher prossegue não dando a mínima. Dou um salto de alívio quando o telefone toca, penso que é o pessoal lá de dentro liberando a entrada dela na reunião.

Que nada! O fulano me diz: “Agüenta aí. Continua a conversa que já estamos finalizando o relatório. Vai trocando idéia sobre qualquer coisa. E além do mais ela é coroa mas até que é bonita, concorda? Então...”
Sacanagem. Entro numa página que trazem os fatos históricos do dia 25 de junho e descubro que em 1967 houve a primeira transmissão mundial de televisão ao vivo, via satélite. Entro no assunto ou fico quieto?

Decido não pagar mico. Permaneço em silêncio e só então ela se manifesta: “A Sara Winter tem uma formação cultural privilegiada, mas não é por isso que ela está em condições para fazer protesto fora do Brasil com os seios de fora. O Michael Jackson foi sempre cercado de polêmica sustentada pela mídia. Mas concordo que ele era aplicado e perfeccionista nos shows. E já que você gritou lembro que hoje, 25 de junho, é o dia do cotonete, inventado por um ex-combatente de guerra chamado Leo Gersternzang. E sabe qual foi a música que os Beatles cantaram na primeira transmissão mundial ao vivo da televisão? Sabe? All You Need Is Love. E entre Lugo e Franco eu fico com nenhum deles”.

Estranho! Ela acumulou as minhas perguntas e respondeu no atacado, uma atrás da outra. Será que a mulher também memoriza? Primeiro ela transformou o meu diálogo em um monólogo de fracassado. Depois emenda tudo num único parágrafo só para mostrar que sabe das coisas. E então ela finaliza: “Já que aqueles vagabundos estão demorando, por que você não me fala do Rogério Ceni? Começou a carreira de goleiro no dia 25 de junho de 1993. E olha que nem são-paulina eu sou...” Dito isto me mostrou o tablet aberto no Google. E eu, de cabeça baixa, nada mais perguntei.


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