segunda-feira, 19 de março de 2012

Pequenas crônicas para chamar o outono

 Para despertar

Dias e noites iguais, eis o que me dizem do equinócio. Não sei se vou dormir mais ou menos, apenas tenho certeza que pretendo despertar para tantas necessidades que eu as deixo adormecidas enquanto planejo e não ajo. O outono quase bate na janela do meu quarto. Já o sinto no friozinho da manhã. Lembro que eu preciso ir em busca do que me impede de ficar esperando.

Carpinteiro

O que faz José da vida? Ele dá forma à madeira bruta para transformá-la em uma poesia que fala da vida num livro aberto em qualquer página sobre uma escrivaninha de tábuas. José, carpinteiro, produziu a peça de madeira que abriga a humanidade em verso e prosa. José, desde anos atrás, talhou o mundo com suas ferramentas.

Seja mulher

Maria, lava a louça ligeiro que ainda tem almoço pra ser feito. Maria, passa o uniforme das crianças que de roupa amassada elas não vão estudar. Maria, faz isso e aquilo porque depois tem mais trezentas tarefas para terminar em um dia. Maria, tira a poeira do sofá que assim sujo nem dá gosto sentar pra descansar. Maria, esquece todas as ordenas e vá lá no quarto se arrumar. Maria, dê um tempo pra você se olhar no espelho e fazer cara bonita. Maria, deixa de ser dona de casa e vira mulher porque só assim os teus vão te valorizar. Maria, cuida de você mesma e verás: quanto mais mulher você for mais os homens vão cuidar de você.

Assim seja

Usou um pedaço de jornal para montar uma pipa daquelas sem varetas. O cabresto ficou no ponto e evitou piruetas. O rabo foi feito com tiras que sobraram. Foi um vento forte e o menino nem precisou esforço para empinar o brinquedo. Subiu e levou as notícias para o ar. A manchete falava da leveza que é correr batendo no rosto um vento quase gelado do começo do outono. 

Todas as estações

O verão anunciou que está indo. Mas disse com muita convicção que volta depois do outono que o substitui e chama o inverno para esperar na fila. E quando entrar a primavera ele estará de novo pertinho daquele lugar no quintal onde o sol das diferentes estações se apresenta diariamente. Perturbador no calor, mas oportuno na meia estação e bem-vindo no frio.

Recomeço

A vida começava aos seis quando a escola era novidade. Depois a vida começou mais tarde quando a adolescência ensinou novas travessuras. Também começou aos dezoito por causa da maioridade. E assim aos trinta, aos quarenta, aos cinqüenta e me vejo ainda esperando a vida começar de novo, aos cinqüenta e cinco, cinqüenta e seis, cinqüenta e sete, sessenta, setenta e enquanto houver lucidez. Ela nunca acaba, sempre começa de um jeito melhor.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

PARTICIPE: